28/07/2018 - 14:30 - 16:00 CO29r - Reabilitação psicossocial e recovery |
25194 - RELIGIOSAMENTE CUIDADO E CUIDADOSAMENTE RELIGIOSO: UMA ANÁLISE PRELIMINAR DO PROCESSO DE DESISNTITUCIONALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL DE USUÁRIOS ADEPTOS DO CANDOMBLÉ CLARICE MOREIRA PORTUGAL - NISAM/ ISC/ UFBA, MÔNICA DE OLIVEIRA NUNES DE TORRENTÉ - NISAM/ ISC/ UFBA
Apresentação/Introdução O estudo da relação entre a saúde mental e a experiência de religiosidade/espiritualidade tem se aprimorado e, de modo geral, ela se mostra benéfica. É necessário, contudo, avançar nas investigações sobre como essa interface incide na experiência do sofrimento psíquico e sobre os modos de lidar com ela na atenção psicossocial, o que se acentua em se tratando de minorias étnicas e sociais.
Objetivos Discutir os modos de viver e experimentar a religiosidade e espiritualidade de usuários de serviços de saúde mental adeptos do candomblé e compreender as repercussões dessa inserção religiosa em seu processo saúde-doença.
Metodologia Adotamos a abordagem cartoetnográfica, que mescla as perspectivas cartográfica e etnográfica para acompanhar a elaboração das paisagens psicossociais, privilegiando aspectos étnicos e culturais da experiência dos participantes. Para tanto, foi feita uma pesquisa etnográfica em Salvador (BA) que durou entre 1 e 2 anos (a depender do interlocutor-central), em que acompanhamos 4 interlocutores-centrais no seu dia-a-dia nos espaços franqueados à nossa entrada, cotejada à realização de entrevistas não-estruturadas com os interlocutores-centrais (7) e aqueles aqui chamados de interlocutores-satélites (5), que são basicamente familiares, lideranças religiosas e profissionais de saúde mental.
Resultados A imersão religiosa é frequente nos contextos de crise e o uso dos sistemas de cuidado religiosos surge como forma de escapar ao enquadre da carreira de doente mental. A religião oferece um novo posicionamento no mundo no qual, mais do que cuidados, os participantes tornam-se também cuidadores e responsáveis pela compreensão e pelo apaziguamento do sofrimento do outro no contexto do terreiro. Verificamos a (auto)afirmação de pertencimento fora do contexto religioso, que permite assinalar um processo de territorialização em ato e de luta pelo reconhecimento, no qual destacamos a criação de um projeto de resistência que lhes retira da paralisia da experiência de desrespeito.
Conclusões/Considerações Nossos interlocutores têm sua vida marcada pelo duplo lugar de usuário de saúde mental e filho de santo; fruto de um esforço compartilhado de pais e filhos de santo mais do que de um diálogo com os serviços de saúde mental. Urgem um descentramento epistemológico e um recentramento no mundo da vida dos usuários que considere o papel dos significantes e líderes religiosos afro-brasileiros no processo saúde-doença mental, dando-lhes voz e suporte.
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