27/07/2018 - 08:00 - 09:50 COC16a - Aborto e contracepção |
21324 - CLÍNICA "TOP" OU "POPULAR": AS DIFERENTES EXPERIÊNCIAS DE ABORTOS PROVOCADOS EM CLÍNICAS PRIVADAS NO NORDESTE BRASILEIRO PALOMA SILVEIRA - UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, CECILIA MCCALLUM - UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, GREICE MENEZES - UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
Apresentação/Introdução O aborto provocado é tema constante nas pesquisas brasileiras, na área da Saúde Pública, contudo existem poucos estudos sobre as experiências de abortos realizados em clínica privada. Esta lacuna termina por reforçar o imaginário social de que a experiência de mulheres que recorrem às clínicas privadas é homogênea e que se tem a garantia de um bom atendimento e de uma assistência médica adequada.
Objetivos A presente pesquisa qualitativa ao analisar os relatos de mulheres, que realizaram abortos em clínicas privadas, problematiza e desmitifica essa noção de homogeneidade das suas experiências, bem como do “bom” atendimento das clínicas.
Metodologia Em 2012 foram entrevistadas 20 mulheres e 7 homens com idades entre 24 e 49 anos, residentes em duas capitais do nordeste. A estratégia utilizada para encontra-los foi do tipo “bola de neve”. Após entrevistar algumas pessoas com experiência de aborto provocado em clínicas privadas, estas sugeriram novas indicações. Ao todo foram relatadas 55 histórias de gravidezes, sendo 38 interrompidas. Destas, 34 em clínicas, que ocorreram em distintas épocas, sendo a maior parte quando as pessoas eram jovens, nas primeiras gravidezes e em relações afetivas/sexuais consolidadas. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA, parecer no 029-12/CEP-ISC.
Resultados A análise temática revelou que existem diferentes clínicas, “top” e “popular”, e atendimento. As “tops” estão localizadas em bairros de camadas médias/altas, cobram valores elevados e funcionam como clínicas de ginecologia, existindo um código para o aborto. As “populares” estão nos centros das cidades ou em bairros periféricos, cobram valores mais acessíveis e não existem códigos Na maior parte das histórias, o atendimento foi avaliado como bom. Contudo, os relatos de bons atendimentos foram, sobretudo, de entrevistadas que haviam obtido indicação das clínicas com pessoas conhecidas dos médicos. Outras experiências foram consideradas ruins, existindo procedimentos realizados sem anestesia.
Conclusões/Considerações A pesquisa mostra que a realização de um aborto em uma clínica privada não é garantia de um atendimento humanizado e seguro. As narrativas fornecem descrições de diversas situações e práticas. Conclui-se que a ilegalidade da prática do aborto, no Brasil, permite que as clínicas funcionem sem qualquer regulação do Estado, não impedindo que as mulheres realizem abortos, mas as expondo a situações de total vulnerabilidade e de violação dos direitos humanos.
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