27/07/2018 - 08:00 - 09:50 COC16a - Aborto e contracepção |
21188 - "COM ALÍVIO" E "SEM ARREPENDIMENTO": SENTIMENTOS DE ADOLESCENTES DE UMA FAVELA DO RIO DE JANEIRO APÓS A EXPERIÊNCIA DE ABORTO INDUZIDO WENDELL FERRARI - IFF/FIOCRUZ, SIMONE PERES - UFRJ, MARCOS NASCIMENTO - IFF/FIOCRUZ
Apresentação/Introdução O aborto induzido realizado em contexto clandestino e inseguro é considerado um importante e complexo problema de saúde pública no Brasil. Apesar do crescente aumento de pesquisas nas últimas décadas sobre o fenômeno, pouco se sabe como mulheres adolescentes narram seus sentimentos após a realização deste evento recente da sua trajetória sexual e reprodutiva
Objetivos Focalizar as narrativas de dez mulheres adolescentes, entre 15 e 17 anos, sobre seus sentimentos em relação à experiência de aborto induzido clandestino, praticado entre 12 e 17 anos, moradoras de uma favela da Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro
Metodologia O contato com as participantes foi feito através da técnica “bola de neve”, a partir de uma informante chave. O horário e o local das entrevistas foram escolhidos pelas entrevistadas e a pesquisa contou com aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa CFCH/UFRJ. Para a coleta dos dados, foram realizadas entrevistas individuais em profundidade, a partir de um roteiro semiestruturado. A partir de uma perspectiva relacional de gênero e interseccional, esse trabalho apresenta as narrativas das entrevistadas sobre os seus sentimentos após a experiência de aborto induzido realizado em contexto clandestino
Resultados As entrevistadas tinham média de 16,3 anos no momento da entrevista e 14,9 anos no momento do aborto. A maioria engravidou de um parceiro denominado “namorado”. A média de idade dos parceiros foi de 25,5. Nenhuma adolescente relatou se arrepender do aborto. Cinco adolescentes relataram se sentirem “aliviadas”. Quatro relataram que não se arrependeram, mas disseram que a experiência foi um “trauma”, devido às precárias condições que o aborto foi realizado. Uma adolescente contou que não se arrependeu do aborto, mas citou que ficou deprimida após o procedimento pois o feto “era uma vida”; e continuou: “mas sei que fiz a coisa certa, não queria colocar alguém no mundo pra sofrer a longo prazo”
Conclusões/Considerações Os sentimentos mais evidenciados foram “alívio” e “sem arrependimento”. Os dados contrariam pesquisas sobre os sentimentos femininos após o abortamento, que focalizam o sentimento de culpa. Indaga-se se o aborto induzido pode ser visto de uma forma mais aceitável entre as adolescentes da favela pesquisada ou se a representação da prática do aborto como “inadmissível” pode também ter sofrido mudanças entre as mais jovens na atualidade
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