27/07/2018 - 13:10 - 14:40 CO16e - Gênero e cuidado II |
22022 - “AQUI VOCÊ NÃO É MULHER, É PACIENTE”: UMA ETNOGRAFIA EM INSTITUIÇÃO DE REFERÊNCIA PARA O TRATAMENTO DO CÂNCER GINECOLÓGICO ROSILENE SOUZA GOMES - IMS/UERJ; INCA, MARIA LUIZA HEILBORN - IMS/UERJ
Apresentação/Introdução O trabalho versa sobre questões de gênero envolvidas na assistência a mulheres acometidas por câncer de colo do útero. A ideia de corpo dessexualizado e não generificado, frequente nos discursos e práticas biomédicas, e produzida em contexto macrossocial heteronormativo e com assimetria de gênero, deve ser questionada, pois pode impactar negativamente na busca das mulheres por cuidado.
Objetivos O objetivo é analisar como se materializa o ideal de autonomia da paciente no tratamento para o câncer de colo do útero, em situações cotidianas e singulares, nas quais a tomada de decisões é efetivamente exercida por profissionais e pacientes.
Metodologia Foi realizada pesquisa etnográfica, composta por observação participante e entrevistas em profundidade, em instituição de referência no tratamento do câncer ginecológico. As observações foram registradas em diário de campo e as entrevistas foram gravadas e transcritas na íntegra. Foi realizada leitura exaustiva de material empírico e a análise produzida em confronto com a literatura. Foram acompanhadas trinta e seis pacientes em noventa atendimentos médicos, de enfermagem e serviço social e realizadas doze entrevistas com pacientes, três familiares, duas assistentes sociais, uma enfermeira e seis médicos.
Resultados A análise do material empírico revela escasso diálogo médico/paciente sobre a infertilidade e problemas na fruição sexual decorrentes do tratamento para o câncer; negação da sexualidade da paciente; conceitos “prole constituída” e “idade reprodutiva” como valores para as decisões médicas; e a heteronormatividade perpassa todas as etapas da assistência. As desigualdades sociais impactam nos direitos sexuais e reprodutivos e limita a agência das mulheres em múltiplos aspectos. Algumas condições simbólicas, materiais e arranjos institucionais contribuem para incrementar tensões e favorecer o constrangimento na consulta e o vínculo de confiança é o que suspende temporariamente essa tensão.
Conclusões/Considerações Para analisar os problemas relativos à linha de cuidado para o câncer de colo do útero é necessário incluir não apenas os desenhos da oferta dos serviços e diretivas da política. É fundamental a inclusão de questões de gênero, sociais, educacionais, afetivas, e sexuais, aspectos envolvidos nos processos de percepção da própria vulnerabilidade e agência das mulheres na busca por cuidados em saúde.
|