Roda de Conversa

06/11/2024 - 08:30 - 10:00
RC8.22 - Experiências na Atenção Primária: formação, educação em saúde e gestão do trabalho

51833 - ANÁLISE DE PRÁTICAS EDUCATIVAS DE CIRURGIÕES-DENTISTAS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA PELA ÓTICA DA EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE
LÍLIAN FERNANDES AMARANTE - FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ (FIOCRUZ-CEARÁ), SHARMÊNIA DE ARAÚJO SOARES NUTO - FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ (FIOCRUZ-CEARÁ)


Apresentação/Introdução
A Educação Popular em Saúde (EPS) surge como movimento e prática social na perspectiva de tornar a saúde mais humanizada e em sintonia com a cultura popular. Embasada pelos princípios de Educação Popular de Paulo Freire, ela valoriza a prática educativa numa perspectiva horizontal da relação entre os sujeitos, incentivando as trocas interpessoais e buscando compreender o saber popular através do diálogo. Esta metodologia reconhece o usuário como sujeito capaz de estabelecer uma interlocução dialógica com o serviço de saúde, desenvolvendo uma análise crítica sobre a sua realidade (Vasconcelos, 2011).
Em 2013, foi instituída a Política Nacional de Educação Popular em Saúde (PNEPS - SUS), que contempla alguns princípios que dão sentido e coerência à práxis da EPS como diálogo, problematização, amorosidade, construção compartilhada do conhecimento, compromisso com a construção do projeto democrático e popular e emancipação (Brasil, 2013).
Na saúde bucal, ainda é dominante a realização de práticas educativas tradicionais centradas no cirurgião-dentista, na transmissão de conhecimentos e na comunicação unidirecional, que acabam não encorajando os indivíduos a refletirem e a conquistarem a sua autonomia do cuidado (Lemkuhl et al., 2015).
É necessário a promoção de um novo olhar, para que práticas educativas autoritárias, verticalizadas e impositivas sejam superadas.


Objetivos
Com a necessidade de promover um novo olhar para a Educação em Saúde Bucal, embasada pela participação popular e por ações educativas críticas e reflexivas, o presente estudo objetiva analisar as práticas educativas dos cirurgiões-dentistas da Atenção Primária à saúde (APS) , sob a ótica da EPS, buscando identificar os princípios contidos na PNEPS-SUS nessas práticas.


Metodologia
Trata-se de estudo transversal, descritivo e exploratório, com abordagem qualitativa, tendo como sujeitos pesquisados os cirurgiões-dentistas da APS do município de Fortaleza, Ceará, sendo incluídos servidores efetivos e excluídos os dentistas que estivessem em cargo comissionado/gestão ou de licença, gerando um quantitativo de 279 dentistas (Fortaleza, 2022).
Com base nesse número, a Gerência Especial de Saúde Bucal foi questionada quanto às unidades de saúde com equipes de saúde bucal que se destacavam por experiências educativas exitosas e/ou inovadoras, para seleção de uma amostra intencional. A amostra final foi formada por 39 profissionais.
Para a coleta de dados, foram realizadas entrevistas que utilizaram um roteiro semiestruturado, sendo os áudios gravados e, posteriormente, transcritos. Após a leitura flutuante, realizou-se a leitura compreensiva de todo o material e categorização das falas, sendo utilizado para a análise o método de Análise de Discurso.
Foram identificados três corpus de análise, utilizando como referencial modalidades de prática profissional evidenciados no estudo de Terra (2018): dentista passivo, dentista esforçado e dentista empoderado.

Resultados e Discussão
O perfil passivo, encontrado em 35,9% dos entrevistados, realiza ações com abordagens educativas tradicionais, como as palestras, desconhecendo e não praticando a EPS e seus princípios. Não houve referências a ações com abordagens educativas problematizadoras ou outros métodos ativos que permitissem a interação, o diálogo e a troca de saberes entre profissionais e comunidade.
Já o perfil esforçado, identificado em 30,7% dos dentistas, tem como práticas educativas principais os grupos operativos. Os princípios do diálogo e da construção compartilhada do conhecimento foram evidenciados no discurso desses profissionais, já demonstrando um certo avanço no uso da EPS no processo educativo. No entanto, ainda permanecem incipientes outros princípios como a problematização, a amorosidade e a emancipação, assim como o uso de metodologias educativas mais ativas. Nesse perfil, foi unânime o posicionamento quanto à necessidade de melhorar os tipos de abordagem educativa em suas práticas, mostrando um direcionamento desses dentistas em modificar suas ações de Educação em Saúde.
O perfil empoderado, presente em um terço dos entrevistados, demonstrou uma visão crítica sobre o seu papel na construção da autonomia da população, tendo como base o contexto político/social na qual ela está inserida. Observou-se um grande conhecimento desses profissionais quanto a EPS, visto que a maioria deles possuía cursos relacionados à essa temática. Identificou-se o uso de abordagens problematizadoras e de troca de saberes em espaços sociais no território, como as rodas de conversa. Todos os princípios da EPS foram identificados no discurso desses profissionais, com ênfase na amorosidade, que aparece como elemento chave para a aproximação e criação de vínculo entre os profissionais e a comunidade.

Conclusões/Considerações finais
O uso da EPS em práticas educativas em saúde bucal se torna um instrumento de reorientação de práticas, estimulando a consciência crítica e a autonomia da população frente às decisões de saúde, além de promover ações educativas reflexivas e realmente transformadoras.
Este estudo evidencia a existência de três perfis profissionais de cirurgiões-dentistas: o passivo, o esforçado e o empoderado, que realizam e percebem suas ações educativas de forma completamente distintas, pela ótica da EPS.
Foi percebido a presença de princípios da EPS nas ações dos profissionais empoderados, mas ainda torna-se necessário o conhecimento, a reflexão e a vivência desses princípios pelos dentistas dos outros perfis.
Isso evidencia um desafio ainda presente nas ações de Educação em Saúde, demonstrando a necessidade de intensificar e direcionar o processo de Educação Permanente dos cirurgiões-dentistas da APS, utilizando a EPS como norteadora dessas práticas.


Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Portaria n° 2.761, de 19 de novembro de 2013. Institui a Política Nacional de Educação Popular em Saúde no mbito do Sistema Único de Saúde (PNEPS-SUS). Diário Oficial da União, Brasília, 2013.
FORTALEZA. Prefeitura Municipal de Fortaleza. Secretaria Municipal de Saúde. Disponível em https://saude.fortaleza.ce.gov.br/. Acesso em 07 jun 2022
LEMKUHL, I. et al. A efetividade das intervenções educativas em saúde bucal: revisão de literatura. Cadernos Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 23, n. 3, p. 336-346, 2015.
TERRA, L. O médico alienado: reflexões sobre a alienação do trabalho na atenção primária à saúde. 1ª Edição. São Paulo: Hucitec, 2018. 228p.
VASCONCELOS, E. M. Educação popular, um jeito de conduzir o processo educativo. In: VASCONCELOS, E. M.; CRUZ, P. J. S. (Orgs.). Educação popular na formação universitária: reflexões com base em uma experiência. São Paulo: Hucitec, 2011. p. 28-34.

Fonte(s) de financiamento: Próprios pesquisadores.


Realização:



Patrocínio:



Apoio: