54170 - ANÁLISE DE CASOS JUDICIALIZADOS POR VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER EM SÃO GONÇALO, RIO DE JANEIRO MARCIA ELAINE DIAS PINHEIRO DE AZEVEDO - ENSP- FIOCRUZ, JOVIANA QUINTES AVANCINI - ENSP-FIOCRUZ, CORINA HELENA MENDES - IFF-INSTITUTO FERNANDES FIGUEIRA
Apresentação/Introdução A violência doméstica é um problema social de proporções alarmantes, cujas consequências se intensificaram durante a pandemia de COVID-19. Este fenômeno multifacetado envolve abusos físicos, psicológicos, sexuais, patrimoniais e morais, impactando profundamente as vidas das vítimas e suas famílias. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), uma em cada quatro mulheres já esteve em situação de violência doméstica. A Lei 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha, foi criada para prevenir e coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, oferecendo medidas protetivas de urgência, assistência integral às vítimas e penalidades severas para os agressores. No entanto, a pandemia evidenciou novos desafios, aumentando a necessidade de reforçar as políticas públicas e os serviços de apoio. A violência doméstica transcende fronteiras e culturas, manifestando-se de maneiras distintas. No município de São Gonçalo, a incidência de violência doméstica envolvendo mulheres aumentou significativamente durante a pandemia, destacando a necessidade de uma abordagem específica e aprofundada para entender as raízes desse fenômeno e propor estratégias eficazes para sua mitigação.
Objetivos Este estudo tem como objetivo analisar 302 processos judicializados por lesão corporal durante a pandemia de COVID-19, focando na violência doméstica contra mulheres em São Gonçalo, Rio de Janeiro. Busca-se identificar padrões e associações significativas entre as variáveis demográficas das vítimas e agressores, os tipos de agressão, as denúncias, e o acompanhamento da rede de proteção, destacando a necessidade de políticas públicas eficazes para reduzir a vulnerabilidade dessas mulheres.
Metodologia Esta pesquisa foi realizada durante o meu doutoramento em Saúde Pública, na Escola Nacional de Saúde Pública- FIOCRUZ. Os dados foram coletados a partir de 302 processos judiciais por lesão corporal na Vara de Violência Doméstica e Familiar do Fórum Regional de São Gonçalo, Rio de Janeiro, no período de março de 2020 a fevereiro de 2021. As variáveis analisadas incluíram idade, raça/cor, orientação sexual e profissão das vítimas, além da idade, raça/cor e tipo de relação dos agressores com as vítimas. Utilizou-se a Análise de Correspondência (AC), uma técnica estatística exploratória que permite a análise de dados categóricos e a visualização das associações entre diferentes categorias. A AC transforma uma matriz de contingência em um gráfico bidimensional, facilitando a interpretação das relações entre as variáveis. Essa metodologia é especialmente útil para detectar padrões ocultos em grandes conjuntos de dados categóricos, proporcionando uma compreensão mais profunda das dinâmicas da violência doméstica contra mulheres durante a pandemia. A pesquisa foi complementada por uma revisão bibliográfica para fundamentar teoricamente a investigação.
Resultados e Discussão A análise revelou que a maioria das vítimas de violência doméstica eram mulheres negras e pardas, jovens, desempregadas ou do lar. Os agressores eram predominantemente ex-parceiros ou cônjuges, com a violência física sendo a mais comum, seguida da violência psicológica. A aplicação frequente de medidas protetivas indica uma resposta judicial ativa, mas a eficácia dessas medidas precisa ser continuamente avaliada. A Análise de Correspondência destacou a relação entre desemprego e violência, reforçando a importância de políticas públicas que ofereçam suporte econômico às mulheres. A combinação de dados quantitativos e pesquisa bibliográfica permitiu uma compreensão abrangente das dinâmicas da violência doméstica durante a pandemia, destacando a necessidade de intervenções que abordem tanto os aspectos físicos quanto emocionais da violência. Os resultados sublinham a importância de políticas públicas que promovam a autonomia financeira e o apoio psicológico às vítimas, visando a redução da vulnerabilidade dessas mulheres.
Conclusões/Considerações finais A implementação de políticas específicas é crucial para a proteção e apoio às mulheres vítimas de violência doméstica. As iniciativas devem considerar as interseções entre raça, gênero e classe social, abordando as causas estruturais da violência. A dependência econômica foi identificada como um fator crítico, sugerindo que intervenções econômicas podem ser eficazes na mitigação do problema. A pandemia de COVID-19 evidenciou a necessidade de fortalecer os serviços de apoio e garantir o acesso contínuo às vítimas. A Análise de Correspondência destacou padrões significativos que podem informar políticas públicas e intervenções futuras. As políticas devem focar não apenas na proteção imediata, mas também na promoção da autonomia econômica e no apoio psicológico a longo prazo, garantindo a aplicação efetiva das leis de proteção.
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Fonte(s) de financiamento: CAPES
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