Roda de Conversa

06/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC2.22 - Lutas das mulheres na saúde

54082 - NARRATIVAS DE GESTORAS DE UM MUNICÍPIO NO INTERIOR DO AMAZONAS A CERCA DA SAÚDE DE MULHERES TRANS E TRAVESTIS
WILLAMS COSTA DE MELO - UEA, BRENO DE OLIVEIRA FERREIRA - UEA, CLARISSE BRAGA DE SOUZA - UFAM


Apresentação/Introdução
O Sistema Único de Saúde (SUS), que completará 34 anos de existência neste ano de 2024, trata de um avanço incontestável não só no campo da saúde, mas enquanto dispositivo ético e social, que garante a saúde como um direito de todas as pessoas e, mais que isso, um dever do Estado. Isto é, inclui uma realidade complexa e envolve um conjunto diverso de necessidades, demandas e limitações.
A gestão na Atenção Básica (AB), no Brasil, fica sob a responsabilidade do município e torna-se essencial que esteja organizada de forma a garantir a qualidade e resolutividade da assistência. A gestão na AB envolve dimensões como: gestão de pessoas; gestão de materiais e processos e gestão financeira.
Entretanto, apesar de inúmeras iniciativas governamentais e do ativismo social, estudos têm sinalizado a necessidade da reflexão sobre as diversas formas de discriminações, negações, interdições, constrangimentos sofridos pela população trans, apontada como a que mais enfrenta dificuldades para acessar os serviços de saúde, da atenção básica à alta complexidade.
Vale ressaltar que a maioria dos estudos acerca da saúde de mulheres trans e travestis brasileiras foram realizados compreendendo o acesso e a assistência à AB em regiões urbanas de grandes centros metropolitanos e/ou capitais brasileiras, sendo o interior do país um cenário pouco investigado nessa temática.

Objetivos
Compreender as narrativas de gestoras da atenção básica em um município situado no interior do estado do Amazonas, acerca da saúde de mulheres trans e travestis.

Metodologia
Trata-se de um estudo de narrativas, pautada em uma abordagem de pesquisa qualitativa, entendida como um conjunto de práticas interpretativas que buscam compreender as narrativas e o conjunto de relações e conexões entre elas. Para tanto, foi desenvolvido em um município do interior do Amazonas, contido na região metropolitana da capital, Manaus.
Participaram das entrevistas narrativas quatro pessoas que atuam na gestão municipal de saúde, incluídas por trabalharem há pelo menos seis meses no cargo.
Para a elaboração do enredo narrativo, utilizamos em termos de sequência analítica, as principais etapas desse esse processo: a) compreensão dos contextos nas narrativas; b) desvendamento dos aspectos estruturais nas narrativas; e c) construção de uma síntese interpretativa dos dados.

Resultados e Discussão
De acordo com as gestoras entrevistadas, o primeiro eixo a ser explorado quando documentamos narrativas acerca da saúde dessas pessoas é o obscurecimento acerca da existência de mulheres trans e travestis dentro do interior do Amazonas, o que implica diretamente no desconhecimento também das políticas públicas voltadas para essas mulheres.
As narrativas apresentam indícios de compreender as identidades trans como pertencentes à categoria de corpos abjetos, ao sequer possuírem o conhecimento de que tais identidades existem fora da comunidade cis-homossexual.
Para uma AB resolutiva e ordenadora de todo o cuidado, deve-se prestar serviços com qualidade, garantir o acesso, o acolhimento e a construção de vínculos entre as pessoas e a equipe de saúde.

Conclusões/Considerações finais
O estudo também evidenciou o quanto esses profissionais gestores possuem uma dificuldade enorme de reconhecer as particularidades de saúde e de existência de mulheres trans e travestis, o que pode responder os motivos das fragilidades envolto do atendimento e captação dessas mulheres para o atendimento nessas unidades. Faz-se necessário capacitação de maneira urgente não somente aos gestores, mas a toda equipe assistencial dessas unidades, com o objetivo de obter e/ou amadurecer o conhecimento sobre questões básicas de assistência as travestis e trans que residem no local, assim como, o conhecimento da própria política nacional e estadual de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transsexuais, pois, somente desta maneira, essas mulheres deixarão de ser ‘’invisíveis’’.


Referências
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Melo, E. A., Mendonça, M. H. M. D., Oliveira, J. R. D., & Andrade, G. C. L. D. (2018). Mudanças na Política Nacional de Atenção Básica: entre retrocessos e desafios. Saúde em debate, 42, 38-51.
Lacaz, F. A. D. C., Cortizo, C. T., Junqueira, V., Santos, A. P. L. D., Vieira, N. P., & Santos, F. S. D. (2011). Gestão do trabalho e tecnologia na Atenção Básica do Sistema Único de Saúde em municípios do Estado de São Paulo. In Trabalhar na Saúde: experiências cotidianas e desafios para a gestão do trabalho e do emprego (pp. 173-193).
Garnelo, L., Sousa, A. B. L., & Silva, C. D. O. D. (2017). Regionalização em Saúde no Amazonas: avanços e desafios. Ciência & Saúde Coletiva, 22, 1225-1234.


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