Roda de Conversa

06/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC2.22 - Lutas das mulheres na saúde

53777 - MULHERES E CUIDADO INFORMAL EM SAÚDE MENTAL: FRAGILIDADES E POSSIBILIDADES
NATÁLIA MATOS DE SOUZA - UFC, MARIANA TAVARES CAVALCANTI LIBERATO - UFC


Apresentação/Introdução
Investiga-se as experiências de cuidadoras informais de usuários do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) no cuidado produzido nesse campo, considerando os marcadores sociais da diferença. A Reforma Psiquiátrica e a Lei 10.216 de 2001 estabelecem que o cuidado aos sujeitos em sofrimento psíquico deve ser integrado ao meio social e familiar. A família, excluída da lógica manicomial, tomou uma dimensão importante na corresponsabilização do cuidado na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) (Dimenstein et al., 2010). Porém, o processo de cuidado acionado pela Reforma apresenta lacunas nas suas práticas com familiares e cuidadoras, é comum que a prática de cuidado que envolve cuidadoras reduzem-se apenas a explicar a condição e o tratamento dos usuários (Pegoraro; Caldana, 2008). Sob essa perspectiva, é necessário considerarmos que em nossa sociedade mulheres são maioria nas funções de cuidado, e que práticas de cuidado que não ouçam a experiência vivida das cuidadoras corroboram com as políticas de silenciamento e apagamento das mulheres nos sistema de saúde e nos serviços de saúde mental.

Objetivos
A pesquisa possui como objetivo geral compreender como as experiências de mulheres cuidadoras informais dos usuários do CAPS são consideradas na produção de cuidado em saúde mental na cidade de Fortaleza (CE). Tendo como objetivos específicos: a) Conhecer as experiências de mulheres cuidadoras informais de usuários de Centros de Atenção Psicossocial; b) Compreender os sentidos produzidos acerca do cuidado; c) Analisar práticas de cuidado em saúde mental que se articulam a cuidadoras informais.

Metodologia
A pesquisa, ligada à realização de mestrado em Psicologia, possui caráter qualitativo e é uma pesquisa intervenção de inspiração Cartográfica. Segundo Barros e Kastrup (2015) a cartografia objetiva “[...] desenhar a rede de forças à qual o objeto ou fenômeno em questão se encontra conectado, dando conta de suas modulações e de seu movimento permanente.” (p.57), contrariando a visão representacional da ciência moderna. Desse modo, adentra-se o campo de produção, observa-se os movimentos sem buscar focalizar, abre-se ao encontro e afetação, desenha-se os movimentos e forças.
Sob esse prisma, o local de estudo é um Centro de Atenção Psicossocial da cidade de Fortaleza, tendo como interlocutoras mulheres que exercem função de cuidadoras de usuários acompanhados pelo serviço. Embora a perspectiva cartográfica não proponha um plano de ação rígido, construímos algumas pistas para criação desse percurso. A saber, acompanhar e intervir no grupo de familiares existente no serviço, realização de entrevistas de orientação cartográfica, produção de diários de campo de registro e narratividade, realização de oficinas com as cuidadoras informais.

Resultados e Discussão
As mulheres são maioria no que consiste ao cuidado familiar em nossa sociedade, e como esperado são maioria das articuladoras de cuidado informal de usuários dos dispositivos da Rede de Atenção Psicossocial. Mães, filhas, irmãs, companheiras, vizinhas, dentre outras, são as responsáveis por dispensar cuidados tais como alimentação, higiene pessoal, administração de medicamentos, acompanhar em consultas e atividades dos serviços de saúde. A sobrecarga de atividades tem revelado a prevalência de transtornos psiquiátricos menores, baixos níveis de qualidade de vida e sofrimento subjetivo. No entanto, o CAPS não dispõe de dispositivos suficientes para escutar e acolher essas mulheres, sendo a prática de escuta das cuidadoras relegadas a alguns profissionais e a um grupo de familiares, quando existente. Entendemos que esses espaços possibilitam a produção de linhas de fuga nas vidas dessas mulheres atravessadas pela compulsoriedade do cuidado, mas que não são suficientes visto a condição cisheteropatriarcal de nossa sociedade.
É essencial a construção e gestão de políticas de saúde que considerem as experiências das familiares e cuidadoras, em processos que possibilitem o cuidado efetivo ao usuário, bem como ético-político das suas cuidadoras. Desse modo, se faz necessário que a educação permanente no SUS e na RAPS seja, de fato, efetivada e que traga discussões sobre cuidado compartilhado, em uma abordagem de gênero e racializada. Assim como, o fortalecimento, por meio da gestão, dos grupos e espaços de acolhimento das cuidadoras, tendo em vistas o sofrimento gerado pela sobrecarga. Por fim, consideramos que escutar e acolher as experiências, e corresponsabilizar as atividades de cuidado é necessário para a construção justa e equânime dos processos de cuidado em saúde.


Conclusões/Considerações finais
Por fim, consideramos que investigar as experiências de mulheres cuidadoras informais de usuários e compreender as práticas institucionais que as atravessam é um compromisso com a produção de cuidado em saúde mental e com a construção de um sistema de saúde implicado com a dimensão sociocultural e política. Considerar os marcadores sociais da diferença na intersecção com a produção de cuidado é essencial para repensarmos e aperfeiçoarmos o planejamento e gestão dos serviços, bem como para formar profissionais qualificados para atuação ética-política.

Referências
BARROS, L. P.; KASTRUP, V. Cartografar é acompanhar processos. In: PASSOS, E.; KASTRUP, V.; ESCÓSSIA, L. Pistas do método da cartografia: Pesquisa-intervenção e produção de subjetividade. Porto Alegre: Sulina, 2015. p. 52-75

DIMENSTEIN, M.; SALES, A. L.; GALVÃO, E.; SEVERO, A. K. Estratégia da Atenção Psicossocial e participação da família no cuidado em saúde mental. Physis: Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, p. 1209-1226, 2010. Disponível em: https://www.scielo.br/j/physis/a/TZgcj9RvZNj6LSqJDnvXNtg/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 26 jul. 2023.

PEGORARO, R. F.; CALDANA, R. H. L. Mulheres, loucura e cuidado: a condição da mulher na provisão e demanda por cuidados em saúde mental. Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 17, n. 2, p. 82-94, 2008. Disponível em: https://www.scielo.br/j/sausoc/a/CZb7QsbPxZNMx8mwgKBQ5pf/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 25 jul. 2023.


Realização:



Patrocínio:



Apoio: