52097 - DESIGUALDADES EM SAÚDE DURANTE A PANDEMIA: IMPACTO NAS MULHERES QUE RESIDEM COM PESSOAS IDOSAS DEPENDENTES NO BRASIL DALIA ROMERO - FIOCRUZ, LEO MAIA - FIOCRUZ, JÉSSICA MUZY - FIOCRUZ, NATHALIA ANDRADE - FIOCRUZ, PAULO BORGES - FIOCRUZ
Apresentação/Introdução A pandemia de COVID-19 trouxe desafios significativos para os cuidadores de pessoas idosas dependentes, especialmente para as mulheres que residem com essa população. Este estudo busca analisar como a saúde dessas mulheres foi afetada durante a primeira onda da pandemia, considerando uma variedade de fatores sociodemográficos e contextuais.
Antes mesmo da pandemia, o cuidado de pessoas idosas dependentes já representava uma preocupação no campo da saúde pública. Os cuidadores familiares, em particular, enfrentavam uma série de desafios físicos, emocionais e financeiros ao fornecer assistência aos seus entes. No entanto, com a chegada da pandemia, esses desafios foram intensificados.
As orientações de distanciamento social e as restrições de movimento impostas para conter a propagação do vírus tornaram ainda mais difícil para os cuidadores familiares cuidarem adequadamente das pessoas idosas dependentes. O medo de contagiar os entes, a perda de apoio de ajudantes externos e a dificuldade de acesso a recursos essenciais foram apenas alguns dos obstáculos enfrentados por esses cuidadores durante a pandemia.
Além disso, a própria saúde das cuidadoras pode ter sido afetada. O estresse adicional, a falta de sono adequado e a preocupação constante com o bem-estar dos idosos podem ter contribuído para a piora da saúde física e mental dessas mulheres.
Objetivos O objetivo deste estudo é analisar como a saúde das mulheres que residem com pessoas idosas dependentes foi afetada durante a primeira onda da pandemia de COVID-19 no Brasil. Pretende-se investigar os fatores sociodemográficos e contextuais associados à piora na autoavaliação da saúde dessas mulheres, fornecendo informação relevante para políticas e intervenções de apoio aos cuidadores familiares.
Metodologia A pesquisa foi conduzida durante a primeira onda da pandemia de COVID-19 no Brasil, utilizando a ConVid - Pesquisa de Comportamentos, um inquérito de saúde de abrangência nacional coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz. Realizado entre 24 de abril e 24 de maio de 2020, o questionário virtual foi respondido por 45.161 participantes maiores de 18 anos, residentes no país. A amostragem adotou o método "bola de neve virtual".
O estudo selecionou mulheres que residiam com idosos dependentes funcionalmente, excluindo casos de idosos morando sozinhos. Ao todo, 7.914 participantes foram escolhidas. Para a análise, compararam-se mulheres que residiam com IDF com aquelas que coabitavam com idosos independentes funcionalmente.
O desfecho foi a piora na autoavaliação da saúde. As variáveis sociodemográficas incluíram raça/cor, idade, renda per capita domiciliar e densidade domiciliar.
A análise estatística envolveu estimativas de proporções, testes de independência e modelos de regressão de Poisson. Foram calculadas razões de prevalência brutas e ajustadas, em estágios distintos, para mulheres que residiam com IDF e IIF.
Resultados e Discussão
O estudo revelou que 9,3% das mulheres adultas que viviam com pessoas idosas eram cuidadoras de idosos dependentes funcionalmente (IDF). Dessas cuidadoras, a maioria tinha menos de 60 anos (66,2%), recebia menos de um salário mínimo (59,2%) e morava com duas ou mais pessoas no domicílio (81,4%). Durante a pandemia de COVID-19, aproximadamente 22% das mulheres que moravam com IDF enfrentaram muita dificuldade para realizar atividades de rotina, e um terço teve sua renda muito afetada. Além disso, 67,8% relataram um estado de ânimo constantemente ruim, 58,7% experimentaram uma piora no sono e 79,0% enfrentaram um aumento acentuado do trabalho doméstico.
Comparadas às mulheres que cuidavam de idosos independentes funcionalmente (IIF), as cuidadoras de IDF enfrentaram desafios significativamente maiores. Por exemplo, 34,0% das cuidadoras de IDF tiveram sua renda muito afetada, em comparação com 27,0% das cuidadoras de IIF. Além disso, 45,9% das cuidadoras de IDF relataram uma autopercepção regular a péssima da saúde, em comparação com 29,7% das cuidadoras de IIF. A pandemia exacerbou as desigualdades socioeconômicas, afetando tanto mulheres negras e de baixa renda quanto mulheres brancas e de maior renda que cuidavam de IDF.
Esses resultados destacam a necessidade urgente de políticas públicas mais abrangentes e eficazes para apoiar as cuidadoras de IDF durante a pandemia de COVID-19 e além. Isso inclui medidas como apoio financeiro, acesso a serviços de saúde mental e programas de qualificação para o cuidado.
Conclusões/Considerações finais A pesquisa evidencia os desafios enfrentados pelas cuidadoras de idosos dependentes funcionalmente (IDF) durante a pandemia de COVID-19. Acentuando desigualdades socioeconômicas, o estudo destaca a necessidade urgente de políticas públicas mais abrangentes para apoiar essas cuidadoras, incluindo medidas como apoio financeiro, acesso a serviços de saúde mental e programas de qualificação para o cuidado. Essas iniciativas são essenciais para garantir a qualidade de vida e saúde das cuidadoras de IDF, bem como dos idosos sob seus cuidados.
Referências Romero DE, Muzy J, Damacena GN, Souza NA, Almeida WS, Szwarcwald CL, Malta DC, Barros MBA, Souza Júnior PRB, Azevedo LO, Gracie R, Pina MF, Lima MG, Machado ÍE, Gomes CS,
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Romero DE, Maia LR, Muzy J, Andrade N, Szwarcwald CL, Groisman D, Souza Júnior PRB. O cuidado domiciliar de idosos com dependência funcional no Brasil: desigualdades e desafios no contexto da primeira onda da pandemia de COVID-19. Cad Saude Publica 2022; 38:e00216821.
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