Roda de Conversa

06/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC2.22 - Lutas das mulheres na saúde

51452 - BARREIRAS AO ACESSO À SAÚDE MENTAL EM MULHERES COM TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS GRAVES NA GESTAÇÃO
FRANCIELE SOUZA SANTOS - UNISINOS, MURILO SANTOS DE CARVALHO - UFCSPA, VANESSA GORNIAK DE OLIVEIRA - UFCSPA, GABRIELA GARCIA FERREIRA - UFCSPA, BARBARA FERREIRA ALTHOFF - UFCSPA, RAFAEL LOPES ATAIDES DE OLIVEIRA - UFCSPA, LUCAS PRIMO DE CARVALHO ALVES - UNISINOS, JULIANA NICHTERWITZ SCHERER - UNISINOS


Apresentação/Introdução
Cerca de 450 milhões de pessoas no mundo apresentam transtornos mentais, sendo estes responsáveis por 9% da mortalidade e 17% de incapacidade em países de baixa e média renda. Os transtornos de humor e a ansiedade são mais prevalentes em mulheres em comparação com os homens, que por sua vez têm mais chances de apresentar transtornos por uso de substâncias. Entre as mulheres, a gestação e a maternidade são fatores predisponentes para o surgimento e o agravamento de transtornos mentais. No Brasil, a prevalência destes na gestação é de aproximadamente 57%, sendo superior àquela observada na população em geral (14,7% - 21,8%). A ocorrência de transtornos mentais em qualquer momento da gestação está fortemente associada a piores desfechos na saúde do binômio mãe-bebê, incluindo maiores riscos de sintomas depressivos posteriores ao parto, baixo peso ao nascer e prematuridade. A literatura sugere que apenas 30% a 50% das mulheres com transtornos mentais perinatais apresentam a identificação de seus quadros de saúde mental, e que menos de 10% são encaminhadas para cuidados especializados. Existe um modelo multinível de fatores influentes para o acesso à saúde mental, que incluem aspectos individuais, interpessoais, organizacionais, políticos e sociais, e que podem impor barreiras ao longo de todo percurso de cuidados, indo desde a decisão de consultar até o recebimento cuidados.

Objetivos
Descrever as barreiras ao acesso à saúde enfrentadas por mulheres com transtornos psiquiátricos graves durante a gestação.

Metodologia
Trata-se de um estudo observacional, de caráter transversal e descritivo. A amostra, selecionada por conveniência, foi composta por 42 gestantes internadas em um serviço de psiquiatria de um hospital especializado no cuidado materno-infantil, exclusivo para atendimento pelo SUS. As participantes do estudo incluíram gestantes adultas (>18 anos), internadas devido a agudização de transtornos mentais como depressão maior, transtorno bipolar, esquizofrenia e/ou transtorno por uso de substâncias. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevista, conduzida por membros capacitados da equipe de pesquisa. A análise das barreiras ao acesso à saúde foi realizada a partir da aplicação do instrumento Barriers to Access to Care Evaluation scale (BACE), validada para o uso no Brasil. Todos os instrumentos de pesquisa foram coletados através de um questionário do Google Forms e aplicados através de Tablets. A análise dos dados foi conduzida pelo programa SPSS, versão 22. Os dados foram analisados descritivamente e apresentados a partir de frequências absolutas e relativas.

Resultados e Discussão
As participantes apresentaram idade média de 27 anos, sendo a maioria da amostra solteira (76,2%), de cor branca (47,6%) e pertencente a classe social C (54,8%) segundo critérios da ABEP. Entre as barreiras mais comuns para acessar serviços de saúde mental na amostra do estudo, destacam-se a preocupação de que os filhos possam ser levados pelo serviço social/para abrigos/perda da guarda (26,3%), o desejo de lidar com os problemas sozinha (26,2%), estar muito mal para pedir ajuda (21,4%), preocupação sobre o que as pessoas no trabalho poderiam pensar, dizer ou fazer (21,2%) e o medo de ser colocada num hospital contra sua vontade (20%). O medo relacionado a intervenção do Serviço Social pode estar enraizado em experiências pessoais ou em histórias de conhecidos, gerando uma barreira significativa para a busca por auxílio. Uma parte considerável das respondentes prefere lidar com seus problemas de forma independente, possivelmente devido a uma cultura de autossuficiência ou desconfiança nos serviços de saúde mental. Estar muito mal para pedir ajuda é uma barreira crítica que, indica que aqueles que mais precisam de cuidados muitas vezes não conseguem acessá-los devido à gravidade de seu estado. O receio do que colegas de trabalho possam pensar, dizer ou fazer também impede que muitas pessoas procurem ajuda, refletindo o estigma ainda presente no ambiente profissional em relação à saúde mental. O temor de ser internado contra a vontade é uma barreira que, evidencia a necessidade de políticas claras e comunicação transparente sobre os direitos dos pacientes.

Conclusões/Considerações finais
No estudo, constatou-se que os aspectos sociais e o estigma são os principais obstáculos que as gestantes com transtornos mentais enfrentam ao tentar acessar serviços de saúde mental. É necessário focar nos cuidados relacionados à saúde mental dessa população, a fim de evitar prejuízos a curto, médio e longo prazo para o binômio mãe-bebê. As barreiras e facilitadores indicam uma interação complexa de diversos fatores, evidenciando a necessidade de um esforço internacional e de novas pesquisas para aumentar a conscientização sobre os transtornos mentais perinatais, reduzir o estigma da saúde mental e oferecer cuidados flexíveis e centrados na mulher, prestados por profissionais bem capacitados e culturalmente sensíveis.

Referências
LOPES et al. O Período Gestacional e Transtornos Mentais: Evidências Epidemiológicas. Revista Multidisciplinar, 2019.

SILVA et al. Ansiedade e Depressão Pós-Parto e sua Relação com Variáveis Gestacionais e Estilo de Vida da Puérpera: um referencial teórico. Editora Científica Digital, 2021.

WEBB et al. Meta-review of the barriers and facilitators to women accessing perinatal mental healthcare. British Medical Journal, 2023.

HOWARD, L. M. KHALIFEH, H. Perinatal mental health: a review of progress and challenges. World Psychiatry, 2020.

GRAPIGLIA et al. Fatores associados aos transtornos mentais comuns: estudo baseado em clusters de mulheres. Revista de Saúde Pública, 2021.

Fonte(s) de financiamento: CAPES


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