04/11/2024 - 17:20 - 18:50 RC2.6 - Violencia, Gênero e Saúde |
52370 - BATE-PAPO DI(VER)GENTE: RELATO DE EXPERIÊNCIA DE UM GRUPO TERAPÊUTICO DE APOIO À MATERNIDADE ATÍPICA CRISTIANE FONSÊCA XIMENES DE CASTRO - FIOCRUZ, VANIRA MATOS PESSOA - FIOCRUZ, CLÁUDIA CYBELE LESSA DA PÁSCOA OLIVEIRA - FIOCRUZ, DÉBORA BARBOSA COSTA - FIOCRUZ, LUCIANA RODRIGUES CORDEIRO - UFC, RAQUEL BOMFIM CASTELO - PMF, GEOVANA MARIA SANTANA MALHEIRO - PMF, ANA RAQUEL LIMA FREITAS - PMF, YARA LANNE SANTIAGO GALDINO - PMF, LEANDRO BONFIM DE CASTRO - PMF
Contextualização A função da maternidade é extremamente importante em qualquer sociedade, principalmente para garantir os direitos das crianças que possuem alguma deficiência. É essencial desenvolver políticas públicas que enxerguem e valorizem a importância dessas mulheres que são mães atípicas, principalmente por vivermos ainda em um modelo patriarcal para estabelecimento das relações familiares, sociais e econômicas. De acordo com dados do IBGE, aproximadamente 12 milhões de mulheres são responsáveis pelo sustento de suas famílias, sendo que cerca de 57% vivem em situação de vulnerabilidade social. Neste contexto familiar, a maternidade atípica caracteriza-se pela responsabilidade de criar, cuidar e educar pessoas com deficiência. Além dos desafios enfrentados no exercício da função materna, como ausência de apoio, sobrecarga emocional, equilíbrio entre ser mãe e trabalhar, mães atípicas podem se deparar com a discriminação, a falta de oportunidades para as crianças, o afastamento social, a luta por integração em escolas, a procura por diagnósticos e terapias apropriadas, os elevados custos de remédios, a maior taxa de abandono por parte dos pais, e outras barreiras.
Descrição da Experiência A partir da experiência de viver a maternidade atípica, quatro mulheres, profissionais de saúde com formação em Terapia Comunitária, servidoras públicas e com atuação na Estratégia de Saúde da Família do município de Fortaleza, idealizaram e criaram o grupo voluntário e independente “Bate-Papo Di(VER)gente”. Ele surgiu de uma inquietação, uma verdadeira afetação, após visualizarem o sofrimento das mulheres-mães atípicas. O grupo foi iniciado a partir da rede social WhatsApp a fim de divulgação dos futuros encontros presenciais, rede de apoio, compartilhamento de sentimentos e aprendizados. Também foi criada uma conta no Instagram que leva o mesmo nome, para divulgação da ação, compartilhamento de notícias e como canal educativo e de reflexões. Para cada um dos encontros presenciais, que teve a duração de quatro horas, aos sábados, de 8:00 as 12:00, foi criado um termo de referência para condução. A Terapia comunitária foi o carro-chefe dos encontros, mas ainda utilizaram outras práticas Integrativas, como meditação, aromaterapia, reflexologia com escalda-pés. Realizaram várias vivências da técnica cuidando do cuidador, como o corredor do cuidado, dinâmica do anjo, dentre outras. Procuraram criar um ambiente harmônico, acolhedor e seguro. Sempre havia um lanche ao final, momento para socialização, além das atividades planejadas propriamente ditas.
Objetivo e período de Realização Objetivo: Relatar a experiência e os aprendizados do desenvolvimento de um grupo voluntário e independente, criado para o acolhimento, o empoderamento e a construção de uma rede de apoio às mulheres que vivem a maternidade atípica.
Período de realização: Foram realizados quatro encontros presenciais, entre maio a setembro de 2023, em Fortaleza (CE). O grupo na rede social Whatsapp e a página no Instagtram foram criados em abril de 2023 e existem até a presente data.
Resultados Foram observados o fortalecimento dos vínculos sociais entre mulheres que vivenciam realidades semelhantes, o empoderamento pessoal, a elevação da autoestima, o redimensionamento dos problemas e a visualização de novas estratégias de enfrentamento. O grupo Bate-papo di(VER)gente tornou-se um espaço comunitário de aconchego, valorização, amizade e confiança. As participantes relataram levar, ao final de cada encontro, aprendizado, fé, amor, autocompaixão, união, gratidão, perdão, paz, luz, amizade, alegria, esperança, leveza, dentre outros. Umas das mães relatou que o grupo proporcionou, dentre tantas preciosidades, vivenciar estar com outras mulheres que enfrentam os mesmos desafios que ela e em proporções até mais intensas. Conseguiu perceber que a sua dor também é a dor de outra, que as alegrias também são muito parecidas, que não precisava nem falar muito para sentir-se tratada, apenas em ouvir e abraçar outras mulheres lhe trouxe renovo e esperança.
Aprendizado e Análise Crítica Observou-se que o grupo Bate-papo di(VER)gente, em todas as suas nuances, tem sido uma estratégia simples, porém potente transformadora da realidade das mulheres que dela participam. Um verdadeiro aconchego, afago, onde é possível ser praticada a escuta empática verdadeira, onde as relações são horizontais, respeitosas. Um verdadeiro acolher com afeto. Várias temáticas puderam ser abordadas, tais como: luto, ansiedade, medo da morte, solidão, culpa, cansaço, rejeição, autocobrança, insônia, tristeza, suicídio, preconceito, dentre outras. A partir da potência transformadora do grupo, várias estratégias de ajuda e superação puderam ser visualizadas, tais como: escrita afetiva, religiosidade, psicoterapia, constelação familiar, fortalecimento da autoestima, atividade física, convivência de grupos semelhantes, massoterapia, exercitar a autocompaixão, meditação, abraçar mais, escalda-pés. Uma das mães relatou que o grupo de WhatsApp e os encontros presenciais foram um divisor de águas em sua vida de mãe atípica, lhe ensinando a ter autocompaixão, autocuidado e melhorando a relação com sua filha de um ano para cá. Diante do que foi apresentado, fica claro que é crucial o desenvolvimento de políticas públicas, legislação de proteção e outros tipos de apoio da comunidade para lidar com as questões ligadas à maternidade atípica.
Referências SOUZA, D. E.; SUEINE, P. Maternidade atípica e a necessidade de dupla proteção pelos Direitos Humanos. Boletim CEPGE, v. 46, n. 6, p. 104–123, 2022.
BARRETO, Adalberto de Paula. Terapia comunitária: passo a passo. - 4a edição – Fortaleza: Gráfica LCR, 2008.
Fonte(s) de financiamento: Próprio
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