04/11/2024 - 17:20 - 18:50 RC2.6 - Violencia, Gênero e Saúde |
51187 - O TRABALHO DA MULHER PROFISSIONAL DE SAÚDE DURANTE A PANDEMIA DE COVID-19: UMA ANÁLISE NA PERPECTIVA DE GÊNERO FRANCISCA LAURA FERREIRA DE SOUSA ALVES - UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO, ERIKA BÁRBARA ABREU FONSECA THOMAZ - UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO, RUTH HELENA DE SOUZA BRITTO FERREIRA DE CARVALHO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO, DOUGLAS MORAES CAMPOS - UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO, FRANCENILDE SILVA DE SOUSA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO, JÉSSICA PINHEIRO CARNAÚBA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, DANIELLE SOUZA SILVA VARELA - UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ, SAMY LORAYNN OLIVEIRA MOURA - UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ, ELLEN ROSE SOUSA SANTOS - UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO, MARIA TERESA SEABRA SOARES DE BRITTO E ALVES - UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO
Apresentação/Introdução Mulheres representam a maioria entre os profissionais da área da saúde, em especial, nos serviços da Atenção Primária à Saúde (APS). Durante a pandemia de covid-19, os profissionais de saúde que atuaram no enfrentamento da doença estavam sobrecarregados, seja pela elevada demanda de usuários, seja pelos efeitos do isolamento social. Neste cenário, houve uma sobreposição de tarefas e, por vezes, em condições de trabalho distantes das ideais. Muitas mulheres, profissionais de saúde, além de dedicarem mais tempo para um trabalho exaustivo, de forte vulnerabilidade ao adoecimento físico e mental, ainda tinham sob sua responsabilidade as atividades domésticas “inerentes” à sua condição de gênero. Sabendo-se que as relações sociais com base no sexo, divide e hierarquiza trabalhos supostamente específicos para homens e para mulheres, é de pressupor que a pandemia ampliou as desigualdades de gênero entre as mulheres trabalhadoras, em especial naquelas que atuaram “na ponta” e, em condições de maior desgaste físico e emocional. Desse modo, surgiu a inquietação quantos aos possíveis efeitos da pandemia de covid-19 na rotina da mulher profissional de saúde.
Objetivos Compreender como as mulheres trabalhadoras da APS vivenciaram a dualidade entre o trabalho na Unidade Básica de Saúde (UBS) e os afazeres domésticos durante a pandemia de covid-19.
Metodologia Estudo com abordagem qualitativa, análise descritiva e exploratória. Realizado no período de setembro a novembro de 2022, em UBS sediadas em São Luís, no Maranhão. Foi definida a participação de todas as categorias profissionais de nível superior, técnicos de enfermagem e Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e, preferencialmente, profissionais que estavam em atividades durante a pandemia, totalizando uma amostra de 39 profissionais, de modo presencial, em um único momento, em cada uma das seis UBS. Foram utilizados como instrumentos de pesquisa um questionário de perfil sociodemográfico, e um roteiro com tópicos para a entrevista coletiva e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Este estudo é parte integrante do projeto intitulado: A pandemia da COVID-19 e seus efeitos na gestão e assistência a saúde no SUS. Foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão, CAAE 35645120.9.0000.5086, sobre parecer de número 4.234.296. A Divisão sexual do trabalho foi selecionada como a perspectiva teórica de análise.
Resultados e Discussão A mediana da idade, das 39 participantes foi de 44,5 anos. Dezoito eram ACS, 11 enfermeiras, 6 médicas, 2 técnicos de enfermagem, 1 cirurgião-dentista e 1 farmacêutico. A mediana do tempo de atuação na UBS foi de 13 anos. A partir das falas dos profissionais, identificaram-se 2 categorias: “Se vira nos 30 na UBS” e “Malabarismo na segunda jornada”. A primeira, relacionada ao ambiente de trabalho, evidenciou que as trabalhadoras estavam submetidas a turnos de trabalho prolongados e mudanças nas suas atividades diárias. Por causa do afastamento de outros profissionais, elas tiveram que acumular trabalhos desempenhando tarefas variadas e muitas vezes ultrapassar o horário de trabalho, pouco ou nenhum momento de descanso no trabalho e alto nível de tensão por terem contato mais próximo ao paciente. A segunda categoria, compreende os efeitos da pandemia na vida privada dos profissionais. Ser trabalhadora da saúde gerou mudanças na vida dessas profissionais, tanto no âmbito profissional, quanto no pessoal. Essas pessoas viviam com o medo de serem transmissores da doença para o restante da família, principalmente, quando na casa habitavam pessoas de grupo de risco. As mulheres trabalhadoras sem rede de apoio administraram os cuidados com a casa e a família, a insegurança ocasionada pelo preconceito que sofriam por serem vistas pelas pessoas como fonte de contaminação. A pesquisa Civantos (2020), identificou que os profissionais que moravam com a família tinham maior propensão a desenvolver estresse, classificado de moderado a extremamente alto em relação ao cuidado das crianças e tiveram um menor equilíbrio entre trabalho e família. As médicas tinham probabilidade quase três vezes maior de apresentarem uma triagem positiva para burnout, quando comparado com os homens.
Conclusões/Considerações finais As demandas extremas de trabalho somadas as exaustivas e intermináveis atividades domésticas contribuíram para um desgaste das profissionais, afetando diretamente a qualidade do cuidado prestado e as suas relações. Elas tiveram que lidar por um longo período com situações extremamente difíceis. Essas mulheres se viram na obrigação de cuidar das pessoas do seio familiar, das atividades do lar, e viviam com o medo constante de serem fonte de infecção do vírus. A casa, que deveria ser um local de acolhimento e descanso, passou a ser um espaço de desconforto, culpa e preocupação. Isso evidenciou a sobrecarga imposta à mulher pela divisão sexual/social do trabalho. Como limitações podemos citar que a coleta de dados foi feita em 2021 quando a pandemia já dava sinais de arrefecimento e o fato de ser uma amostra intencional restringe a generalização dos resultados, porém coloca luz sobre a divisão de tarefas e a sobrecarga de trabalho das mulheres em relação os homens durante a pandemia.
Referências Scheffer M, Biancarelli A, Cassenote A, Guilloux AGA, Miotto BA, Mainardi GM. Demografia médica no Brasil – 2018. São Paulo: São Paulo: Departamento de Me- dicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP; Conselho Regional de Me- dicina do Estado de São Paulo; Conselho Federal de Medicina, 2018.
Hirata HS. Novas configurações da divisão sexual do trabalho. Revista Tecnologia e Sociedade. 2010; 6 (11), 1-7.
Barroso, BIDL, Souza, MBCAD, Bregalda MM, Lancman S, Costa VBBD. A saúde do trabalhador em tempos de COVID-19: reflexões sobre saúde, segurança e terapiaocupacional. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional. 2020; 28, 1093-1102.
Civantos AM, Bertelli A, Gonçalves A, Getzen E, Chang C, Long Q, Rajasekaran K. Mental health among head and neck surgeons in Brazil during the COVID-19 pandemic: a national study. American journal of otolaryngology. 2020; 41 (6): 1-6.
Fonte(s) de financiamento: Não possui
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