Comunicação Oral

03/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO34.2 - Educação Popular , Territórios e decolonialidade

47050 - EDUCAÇÃO POPULAR E SAÚDE DO CAMPO: A EXPERIÊNCIA DOS AGENTES POPULARES DE SAÚDE DO CAMPO NO MOVIMENTO SEM TERRA (MST)
CAMILA DE LIMA SARMENTO - IAM-FIOCRUZ-PE, PAULETTE CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE - IAM-FIOCRUZ-PE, ROSÂNGELA MARIA MONTEIRO DE FREITAS - MST PE - COORDENADORA ESTADUAL DA SAÚDE


Contextualização
As(os) Agentes Populares de Saúde do Campo (APSC) surgem em 2020, durante a maior crise sanitária do Brasil e do mundo, a pandemia da COVID-19 que emerge em um momento de crise estrutural do capitalismo a nível mundial, produziu fortes impactos econômicos, sociais e ambientais. No Brasil, vivenciávamos o descaso, a falta de liderança e estratégias para conter o avanço do vírus, com a produção de políticas negacionistas, eugenistas e genocidas, durante o governo Bolsonaro (2019 – 2022). Diante disso, a campanha Mãos Solidárias de Pernambuco, integrante da Campanha Nacional Periferia Viva, que faz da Solidariedade Ativa um meio para a sua organização, avançou nos acampamentos e assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), formando APSC, que atuam na orientação, educação, vigilância e promoção da saúde. No decorrer de suas lutas, o MST já desenvolvia uma Pedagogia própria, a Educação Popular freireana na prática, que influenciou a construção das políticas públicas de saúde com concepções e estratégias de participação. Investiram no poder de articulação, do controle social e no trabalho de base. Tendo na pedagogia crítico-dialética o arranjo pedagógico para emancipação dessa população, sendo importante para a definição de paradigma emergente de promoção da saúde, da equidade, da integralidade e do cuidado, onde a solidariedade e a democracia estejam na base, como fundamento. Nesse sentido, o MST tem atuado no fortalecimento da saúde com educação popular e lutas em defesa do Sistema Único de Saúde (SUS), apresentando um projeto de sociedade, diante da luta pela reforma agrária, pela agroecologia e pela Saúde Popular.

Descrição
O curso foi iniciado pelo MST junto a FIOCRUZ e universidades, contribuindo na difusão de informações baseadas na ciência, além de proporcionar soluções coletivas de proteção, cuidado, mobilização e organização popular para o conhecimento e reconhecimento da importância do SUS enquanto política pública. A formação das(os) APSC se deu de forma similar ao que ocorre nos cursos do MST, com a utilização da pedagogia da alternância (tempo escola e comunidade), em que o processo está totalmente integrado com a vida e a forma em que ela se relaciona com a natureza e os territórios.

Período de Realização
2020 - 2023

Objetivos
Relatar a experiência das Agentes Populares na Promoção da Saúde do Campo, com base no arranjo pedagógico da Educação Popular.

Resultados
Foram formadas um total de 238 APSC, nos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco e Sergipe. Na formação foram produzidos estudos para conhecimento e prevenção da COVID-19, bem como a valorização das práticas populares de cuidados para a promoção da medicina da natureza e de Territórios Saudáveis e Sustentáveis, numa perspectiva decolonial. Houve produção de hortas medicinais, fitoterápicos e realização das tendas de cuidados com rodas de conversa e PICS.

Aprendizados
O curso aproximou as(os) APSC de outras formas de cuidado em saúde na vida do cotidiano e no conhecimento nele contido, com o resgate e valorização das práticas tradicionais de cuidado das parteiras, rezadeiras, benzedeiras e da medicina da natureza. As(os) APSC realizam o trabalho de forma voluntária, e quando possuem acesso aos serviços do SUS atuam em conjunto com as(os) Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e as Equipes de Saúde da Família (Eq.SF), e seguem com as práticas de educação em saúde para cuidar da saúde das(os) camponesas(es).

Análise Crítica
A formação das(os) APSC faz parte da estratégia política do MST, uma vez que a proposição é incentivar a produção do cuidado e a vigilância popular em saúde para conscientização e atuação na determinação social do processo saúde-doença. Substituir um SUS que não dá acesso aos camponeses, pois em algumas regiões enfrentamos conflitos com as(os) ACS e as EqSF, diante do preconceito com as pessoas do MST e por compreender que as(os) APSC queriam substituir as(os) ACS. Problemáticas que estão sendo dialogadas com os serviços do SUS para garantir o acesso à atenção básica e aos demais níveis de atenção, pois o momento exige reinventar formas de cuidado e avançar rumo a uma saúde popular para o Brasil. Essa experiência do curso das(os) APSC com o MST, questiona o estatuto epistemológico da ciência hegemônica eurocêntrica, acrítica, positivista e cartesiana, e a sua insuficiência para produzir uma Saúde Coletiva que defenda o bem viver nos territórios. A Educação Popular em Saúde produzida nas situações vividas com o MST, visa buscar elementos empíricos para refletir e repensar a teoria, e assim incorporamos o conhecimento tradicional e ancestral como caminho para compreender as mudanças e necessidades sociais. Por isso, resgatamos o estatuto epistemológico da decolonialidade para uma construção científica que valoriza a potencialidade da identidade com a cultura popular, pois a participação social defendida pelo SUS deve ocorrer em diálogo com as(os) camponesas(es).