03/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO34.2 - Educação Popular , Territórios e decolonialidade |
46577 - RELATO DA EXPERIÊNCIA DE MOBILIZAÇÃO DE MORADORES DE UMA LOCALIDADE RIBEIRINHA AMAZÔNICA PARA A ESCOLHA DAS SUAS PRIORIDADES EM SAÚDE ANE CAROLINE COUTINHO NUNES - LABORATÓRIO DE SITUAÇÃO DE SAÚDE E GESTÃO DO CUIDADO DE POPULAÇÕES INDÍGENAS E OUTROS GRUPOS VULNERÁVEIS (SAGESPI), INSTITUTO LEÔNIDAS E MARIA DEANE - FIOCRUZ AMAZÔNIA, GABRIELLA FERREIRA NASCIMENTO VICENTE - CENTRO DE PROMOÇÃO DE SAÚDE (CEDAPS), BEATRIZ REBELLO RUZZA DE CARVALHO - CENTRO DE PROMOÇÃO DE SAÚDE (CEDAPS), DÉBORA CLIVATI - LABORATÓRIO DE SITUAÇÃO DE SAÚDE E GESTÃO DO CUIDADO DE POPULAÇÕES INDÍGENAS E OUTROS GRUPOS VULNERÁVEIS (SAGESPI), INSTITUTO LEÔNIDAS E MARIA DEANE - FIOCRUZ AMAZÔNIA, FERNANDO JOSÉ HERKRATH - LABORATÓRIO DE SITUAÇÃO DE SAÚDE E GESTÃO DO CUIDADO DE POPULAÇÕES INDÍGENAS E OUTROS GRUPOS VULNERÁVEIS (SAGESPI), INSTITUTO LEÔNIDAS E MARIA DEANE - FIOCRUZ AMAZÔNIA, AMANDIA BRAGA LIMA SOUSA - LABORATÓRIO DE SITUAÇÃO DE SAÚDE E GESTÃO DO CUIDADO DE POPULAÇÕES INDÍGENAS E OUTROS GRUPOS VULNERÁVEIS (SAGESPI), INSTITUTO LEÔNIDAS E MARIA DEANE - FIOCRUZ AMAZÔNIA
Contextualização Desde 2022, o projeto “Participação comunitária no processo de planejamento, organização e oferta dos serviços de saúde em localidades rurais ribeirinhas da Amazônia” está sendo desenvolvido, em parceria com outras instituições, na Comunidade Santa Maria, localidade rural ribeirinha de Manaus onde vivem em torno de 400 pessoas. O acesso a essa comunidade é exclusivamente por via fluvial e pode levar cerca de cinco horas de barco a partir da área urbana de Manaus.
Descrição A implementação do Impacto Coletivo (KANIA e KRAMER 2011) preconiza a participação ativa da comunidade e a colaboração nos processos para resolução de problemas sociais complexos. Além disso, são necessárias cinco condições essenciais e uma delas é a agenda comum, que tem por finalidade elencar colaborativamente as prioridades que serão trabalhadas ao longo do projeto. Para elaborar a agenda comum, os atores devem estar mobilizados, engajados e devem sentir-se parte do projeto. Neste relato, vamos nos deter às primeiras ações executadas para mobilizar a comunidade, uma vez que foi previamente identificado que essa população ainda demonstra pouca participação na tomada de decisões e no planejamento dos serviços de saúde ofertados, nem sempre se percebendo como parte fundamental desse processo.
Período de Realização Julho de 2022, com início das oficinas em janeiro de 2023. A previsão de término, julho de 2024.
Objetivos O objetivo do projeto é qualificar o processo de construção de serviços de saúde por meio da abordagem “Impacto Coletivo” (KANIA e KRAMER 2011), a fim de que o planejamento, organização e oferta dos serviços de saúde se dêem de forma colaborativa e que sejam mais adequadas e sensíveis às especificidades rurais ribeirinhas amazônicas.
Resultados O resultado foi a produção de um vídeo registrando as entrevistas com moradores mais antigos e alguns jovens. Essa ação possibilitou uma troca intergeracional, destacando tanto o envolvimento dos jovens na produção do vídeo, quanto o prazer dos moradores mais antigos em contar suas histórias. Os participantes identificaram mudanças de hábitos ao longo do tempo, como a alimentação. Eles relataram que antes os peixes eram mais abundantes, mas que hoje é preciso pescar cada vez mais longe em busca de peixes; a plantação era mais diversificada, e hoje é mais restrita devido à pouca disponibilidade de alimentos e área para plantio por estarem em uma reserva ambiental. Segundo eles, esses fatores junto com o acesso aos benefícios sociais e à luz elétrica estimulou a compra e consumo de mais alimentos congelados e de ultraprocessados. Na segunda oficina foi realizado, em duas etapas, o mapeamento da comunidade em parceria com o Centro de Promoção da Saúde - CEDAPS. Na primeira, os moradores conceituaram o termo “saúde”. Para eles, ter saúde pode ser definido como “bem estar”, “acesso à alimentação de qualidade”, “ausência de doenças” e “esportes”. Depois, definiram a “ausência de saúde” como “doença”, “fome”, “sedentarismo” e “falta de cuidado com a alimentação”. Na segunda etapa, os jovens identificaram os espaços em que se enquadram os conceitos de saúde, definidos anteriormente, e registraram esses espaços na ferramenta do Google de mapeamento digital, My Maps, e construíram um mapa digital dinâmico, colaborativo e de alimentação permanente. Um dos pontos primordiais do projeto é a construção horizontal e colaborativa de um plano de ação a partir dos problemas que a comunidade considera importantes e prioritários para resolver.
Aprendizados Essa proposta busca outros caminhos que não sigam a lógica em que as coisas já estão “prontas” para que eles apenas respondam ou escutem, mas construam ao longo do projeto, reflexão, responsabilização, e de forma sustentável; nesta relação horizontal, são prezados os afetos e a relação com os comunitários de igual pra igual. Tendo os pesquisadores estando mais ativos na escuta do que na fala, estando abertos às propostas da comunidade.
Análise Crítica Desde o período colonial o modelo de políticas públicas que vem sendo construído desrespeita os modos de vida da população, sem considerar seus “saberes e formas de vida” ( LIRA & CHAVES 2016). Neste sentido, acredita-se que os passos propostos tiveram como resultado o engajamento das lideranças, jovens e moradores mais antigos e vem contribuindo para que se tornem mais aptos a fazer escolhas das suas prioridades em saúde e reconhecer os seus papéis diante dos desafios evidenciados.
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