46043 - PROJETO NISE DA SILVEIRA: ENTRE A ARTE E O CUIDADO EM SAÚDE MENTAL ROGER FLORES CECCON - UFSC, FABIANE PERONDI - UFSC, JANEISA FRANCK VIRTUOSO - UFSC
Contextualização O projeto “Nise da Silveira: entre a arte e o cuidado em saúde mental”, da Universidade Federal de Santa Catarina - campus Araranguá, baseia-se em práticas assistenciais que foram cunhadas pela psiquiatra Nise da Silveira ao longo do século XX no Brasil, que revolucionou o cuidado em saúde mental utilizando a arte, o vínculo e o afeto como dispositivos éticos. O projeto surgiu da implicação de professores e estudantes com o campo da Saúde Coletiva e do papel social da Universidade Pública na busca pela redução das desigualdades e injustiças sociais no contexto do extremo sul catarinense.
Descrição As práticas de cuidado-ensino-aprendizagem são realizadas no Lar de Acolhimento San Marco, no município de Araranguá, em Santa Catarina, que abriga 28 mulheres em situação de vulnerabilidade social com transtornos psiquiátricos graves, principalmente esquizofrenia. São realizadas, quinzenalmente, oficinas de pintura, música, fotografia, escrita, dança e contação de histórias como forma de produzir cuidado. O projeto é conduzido por 17 estudantes de graduação e dois professores dos cursos de Fisioterapia e Medicina, além de profissionais da Secretaria Municipal de Saúde. Ainda, são realizadas periodicamente oficinas de educação permanente com os participantes do projeto, no sentido de alinhar perspectivas teóricas e metodológicas do que emerge do campo de práticas.
Período de Realização O projeto teve início no mês de junho de 2022, perfazendo, atualmente, um total de 12 meses.
Objetivos Promover cuidado em saúde mental por meio da arte às mulheres com transtornos psiquiátricos graves institucionalizadas no município de Araranguá.
Resultados O projeto tem apresentado resultados importantes no âmbito da Saúde Coletiva, principalmente no que tange a invenção de práticas de cuidado por meio da arte, a construção de relações de confiança, vínculo, afeto e promoção de saúde às mulheres institucionalizadas no Lar de Acolhimento San Marco, além de contribuir na formação de profissionais de saúde críticos e reflexivos. Ainda, como resultado percebe-se a construção de uma ética do fazer e do pensar as práticas de saúde que rompe com a tradição tecnicista biomédica na assistência dos serviços de saúde e no ensino dos cursos de graduação da área no país. Além disso, o projeto apostou na “arte” como uma ação que produz efeitos subjetivos na saúde e na vida de mulheres vulnerabilizadas.
Aprendizados As vivências no âmbito do projeto têm promovido aprendizados tanto na perspectiva ética quanto assistencial, principalmente aspectos que envolvem a saúde mental, a loucura e as desigualdades de gênero, questões importantes para a compreensão do processo saúde-doença. Além disso, o projeto contribui para alicerçar a importância do vínculo, do afeto e das relações de cuidado no atendimento dos profissionais de saúde, valorizando a compreensão do outro, as histórias de vida e a sensibilidade como elementos essenciais do cuidado.
Análise Crítica Historicamente, os transtornos mentais foram tratados de maneira violenta e coercitiva no Brasil e no mundo. A partir da Reforma Psiquiátrica brasileira, outras formas de cuidado no âmbito da saúde mental foram estabelecidas, considerando a cidadania, a individualidade e os direitos dos indivíduos, na busca por atenção à saúde integral e equânime. Entretanto, os desafios permanecem e em muitas localidades brasileiras, especialmente os municípios de pequeno e médio porte populacional, não conseguem produzir ações e serviços que deem conta das necessidades dos usuários na sua integralidade, e o Sistema Único de Saúde acaba reproduzindo práticas biomédicas. Dessa forma, o projeto Nise da Silveira, no contexto em que está inserido, é contra-hegemônico, no sentido de deslocar a perspectiva estritamente medicalizadora e produzir subjetividades e outras formas de cuidar e promover saúde.
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