Comunicação Oral

03/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO30.3 - Saúde mental, arte e cultura

47784 - SABERES, MEMÓRIAS E PLANTAS MEDICINAIS: RODA DE CONVERSA COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO PARTICIPATIVA
NAYARA RUDECK OLIVEIRA STHEL COCK - UERJ, BIANCA MORAES ASSUCENA - UERJ, SOPHIA ROSA BENEDITO. - UERJ


Contextualização
Admite-se gestão participativa como diretriz ético-política para democratizar instituições e recriar formas de gerir práticas de saúde. Parte-se da necessidade de ampliar a comunicação entre gestores, trabalhadores e usuários e abrir diálogo sobre o uso de Plantas Medicinais na comunidade em Patrimônio da Penha/ES. Distrito de Divino de São Lourenço, é base de atuação da Estratégia de Saúde da Família (ESF). Além dos índios puris e famílias agricultoras que agregam saberes tradicionais, a comunidade recebeu, na década de 1990, indivíduos que trouxeram novos costumes integrando uma comunidade alternativa. Características que manifestam pluralidade cultural e distintos modos de vida. Ressalta-se a existência de terapeutas que desenvolvem práticas como: homeopatia, medicina tradicional chinesa, ayurveda, yoga, massoterapia, arteterapia, biodança, meditação e uso de plantas medicinais. O aspecto religioso do uso de plantas medicinais está presente na comunidade através da igreja do Santo Daime, doutrina que comunga uso da Ayahuasca, infusão vegetal psicoativa que mistura o cipó Banisteriopsis caapi e folhas do arbusto Psycotria viridis.

Descrição
Gestores, trabalhadores e usuários conversaram sobre o uso de plantas medicinais e a articulação com o SUS. Educação popular e o método da roda foram ferramentas que conduziram a troca de saberes. Cada participante foi convidado a responder as seguintes questões: Por que você considera esse diálogo importante? Qual planta medicinal você se identifica e/ou costuma fazer uso? Desde a rodada de apresentações o grupo foi estimulado a priorizar a escuta das experiências compartilhadas. Cada participante trouxe expectativas sobre o diálogo e conhecimentos a respeito das plantas. Em vários momentos a fala dos participantes apontava a necessidade de ampliar a escuta e o próprio movimento da roda permitia esse exercício. Em alguns momentos, o silêncio tomou conta da roda. Subvertendo qualquer possibilidade de planejamento, surgiram canções.

Período de Realização
29 de setembro de 2019.

Objetivos
Experimentar dispositivos capazes de promover interlocução entre: gestores/trabalhadores e experiências comunitárias, a respeito de práticas de cuidado relacionadas ao uso de Plantas Medicinais.

Resultados
A roda compôs-se com 46 pessoas. Estavam presentes equipe de saúde e equipe do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf-AB). A gestão foi representada pelo secretário de Saúde. Dentre os usuários integraram o espaço: agricultores, estudantes, terapeutas, artesãos, doulas, fitoterapeutas, professores, instrutora de ioga, naturóloga, bióloga entre outros. O diálogo incorporou perspectivas amplas de saúde, revelou outras dimensões de temporalidade e outros modos de relacionar-se com o corpo e com a vida. A criação do espaço público de diálogo foi eficaz para ampliar a comunicação entre a equipe de saúde e a comunidade, articulando estratégias para a transformação dos serviços e fomentando a criação de redes no SUS. O circular da palavra provocou reflexões sobre o cotidiano no ambiente institucional, trazendo para a análise coletiva a organização dos processos de trabalho que, infelizmente, ainda reproduzem ações fragmentadas focadas na doença e no caráter curativo. Ao falar sobre “novos” modos de fazer, afirmando outras formas de vivenciar saúde, elaboraram-se concepções por meio do intercâmbio solidário de saberes, e, a partir do uso das plantas medicinais e dos respectivos modos de cuidado que as envolve, foi possível pensar estratégias para transformação dos serviços. O uso das plantas medicinais demanda outras formas de relação com o corpo e com processos de adoecimento. O benzimento, a fé e até o carinho ganham importância para os processos de cura. Por fim; um participante anuncia: “Todo chazinho é um carinho”.

Aprendizados
Produziram-se questionamentos à gestão dos processos de trabalho já que as plantas medicinais convocam outras dimensões de temporalidade e modos de relacionar-se com a vida. A concepção hegemônica em saúde prevê que a organização dos processos de trabalho seja hierárquica. Nessa condição, igual fala com igual, sob regimes verticais/horizontais de comunicação. A roda contrapõe essa lógica permitindo a transversalidade. A comunicação se estabelece de forma conjunta, participativa e negociada. No diálogo, atualizam-se arranjos institucionais. No coletivo presentifica-se a construção de conceitos-ferramentas que auxiliam na criação de dispositivos para a análise e intervenção.

Análise Crítica
No campo da saúde, um desafio é romper com a visão linear do trabalho e incluir perspectivas nos padrões das práticas reinantes. Como espaço de formação, experimentou-se democratização do poder nas instituições, fortalecendo a participação social. A articulação com a comunidade permitiu que profissionais vislumbrassem o trabalho como ambiente de amplas possibilidades, favorável ao diálogo e ao intercâmbio de saberes e racionalidades. Entre os participantes, de modo geral, criaram-se expectativas para que encontros acontecessem novamente.