03/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO24.4 - Conhecimentos, epistemologias e cosmologia Afrocentrada |
45977 - AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DOS CORPOS NEGROS POR ADOLESCENTES ESCOLARES EM CELEBRAÇÃO AO DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA TACIANA LIMA DE PAULA BLACK - UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO, GERBSON DA SILVA LIMA - UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO, CRISTIANA MARIA DE CARVALHO CORDEIRO - ESCOLA DE REFERÊNCIA EM ENSINO MÉDIO SILVA JARDIM, KALINA VANDERLEI PAIVA DA SILVA - UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO
Apresentação/Introdução O olhar sobre o modo como os corpos negros são representados na adolescência dentro do ambiente escolar se faz necessário, uma vez que esta fase consiste em um momento significativo na construção das subjetividades e, onde as diversas experiências podem tanto legitimar estereótipos e preconceitos sobre o corpo, quanto facilitar experiências de superação do racismo (GOMES, 2002). A instituição de Lei 11.645/2008, que prevê a garantia do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, tem proporcionado espaços de representação para as populações em questão e, nesse contexto, ganha destaque a comemoração do Dia da Consciência Negra entre os escolares, alcançando efeito simbólico e mobilizador.
Objetivos Compreender as representações sociais dos corpos negros por adolescentes escolares nas apresentações de celebração ao Dia da Consciência Negra em uma escola de ensino médio de Pernambuco.
Metodologia Trata-se de um estudo de campo, de abordagem qualitativa e de natureza interdisciplinar, realizado em uma escola pública estadual de ensino médio localizada na periferia do Recife. Deriva da pesquisa de tese vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Hebiatria da Universidade de Pernambuco: “Beleza negra: representações corporais de adolescentes negros periféricos e suas implicações nas subjetividades negras adolescentes”. O presente estudo versa sobre os apontamentos registrados em diário de campo, tendo como população de interesse na observação a juventude escolar negra, com idades entre 14 e 19 anos. Essa observação, fundamentada nos preceitos da etnografia, foi realizada em novembro de 2022, especificamente na celebração do Dia da Consciência Negra. A leitura deste enredo foi conduzida sob a lupa da Análise do Discurso, enquanto a intepretação foi arregimentada na Teoria das Representações Sociais e na epistemologia negra e decolonial.
Resultados e discussão As performances artísticas e culturais em alusão ao Dia da Consciência Negra foram planejadas e desenvolvidas pelos próprios adolescentes em articulação conjunta com atividades do Núcleo de Estudos de Gênero da própria escola. Inicialmente, houve um desfile de alunos negros e negras, vestidos de roupas com design da costa africana, levando consigo cartazes com palavras de ordem que apontavam a luta contra o racismo, sexismo e homofobia. Após o desfile, houve proclamações, derivadas do discurso de duas grandes personalidades negras, que expressam os conflitos de identidade do povo negro com sentimento de rejeição e de negação ao seu pertencimento étnico-racial. Em seguida, destacaram-se, nas performances desenvolvidas, o orgulho do cabelo crespo como peça-chave para o fortalecimento da identidade negra. Ao término, houve uma apresentação de um grupo de capoeira, seguida de uma batalha de poesias com temas como racismo, genocídio negro, desigualdade racial e a reflexão crítica da branquitude.
Diante do exposto, foi observado um movimento antirracista exaltado pelos alunos. Enfatizou-se a interseccionalidade de raça, gênero e classe na sua materialidade corporal, como lócus de opressão, mas também de resistência (MANZI; ANJOS, 2021), com a compreensão de um corpo negro plural como lugar e território de memórias que busca uma legitimação de sua existência nas lutas cotidianas (NASCIMENTO, 2022). Neste mesmo lócus, os adolescentes conduziram a reflexão sobre os impactos do sistema hierárquico racial, em particular, no que diz respeito a interiorização do sentimento de inferioridade e à capacidade de amar (hooks, 2010). Como produto desta crítica, reivindicou-se a expressão de uma estética negra plural que, por sua vez, rebate a um padrão considerado ideal ou aceitável (GOMES, 2010), objetivando, assim, o resgate da autoestima. No contexto periférico, a arte e as suas manifestações culturais incorporam significados singulares decorrentes das interseccionalidades opressivas, que são ressignificados como símbolo de afirmação, de luta, emancipação e denúncia (GOMES; LABORNE, 2018). Assim, falar de corpos negros é falar de existência e resistência negra no interior de uma sociedade racista (SOUZA, 2018), resistência que se constitui como um elemento epistemológico e político potencializador de uma série de transformações em uma comunidade escolar.
Conclusões/Considerações finais Tendo em vista o caráter formativo, socializante e educativo das instituições escolares, a performance de representações dos corpos negros dentro do contexto escolar não se restringe apenas aos aspectos estéticos, mas às influências históricas, sociais, culturais e individuais que perpassam a construção das representações corporais e subjetividades dos adolescentes, podendo contribuir não apenas para o desvelamento da discriminação racial e da institucionalização do racismo neste ambiente, mas também com a construção de estratégias pedagógicas alternativas que possibilitem compreender a importância do corpo na construção da identidade negra dos adolescentes.
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