Comunicação Oral

03/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO3.4 - Desafios e potencialidades para a formação crítica, decolonial e emancipatória

47365 - CULINAFRO: UMA CONSTRUÇÃO CONTRA-COLONIAL DO SABER CIENTÍFICO EM ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO
CAMILA MOREIRA FONSECA - UFRJ, DEBORA SILVA DO NASCIMENTO LIMA - UFRJ, CÉLIA MARIA PATRIARCA LISBÔA - UFRJ, RUTE RAMOS DA SILVA COSTA - UFRJ


Contextualização
A invisibilidade de estudantes negros no ensino superior do Brasil não é descuido ou mero acaso, mas um projeto político que expõe o racismo estrutural. Bell hooks é enfática ao afirmar que o ensino, em seus diversos níveis, tem sido moldado pela política patriarcal imperialista, capitalista e supremacista branca. A produção científica de um grupo de pesquisa no ensino superior com perspectiva contra-colonial, crítica e antirracista expõe as iniquidades de uma sociedade elitista, branca, patriarcal, sexista e classista, fundamentada no racismo e na exploração de corpos negros e do meio ambiente. Assim, as vivências proporcionadas historicamente pelos ambientes institucionais evidenciam as condições de vida que a maioria das pessoas negras encontram: a busca por seus pares para a construção de um espaço de resistência, acolhimento e produção científica. Nessa perspectiva, nasce o CulinAfro, um grupo universitário que articula extensão e pesquisa e toma a culinária afro-brasileira como referência para a promoção da alimentação saudável.


Descrição
Criado em 2014, o CulinAfro, pertencente ao Centro Multidisciplinar da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em Macaé/RJ, nasce como um projeto de extensão universitária do curso de nutrição. Seu trabalho tem por base a adoção da educação popular freireana em sua estrutura teórico-prática, o que representa um trabalho crítico e reflexivo das experiências vivenciadas e das realidades que rodeiam. Suas atividades iniciais eram voltadas para o desenvolvimento de ações de Educação Alimentar e Nutricional (EAN) em escolas municipais macaenses que atendiam a modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA). Em 2015, considerado um divisor de águas para o projeto, chega em Machadinha, comunidade quilombola (CQ) Machadinha, no município de Quissamã/RJ, a primeira representante do CulinAfro, a professora Rute Costa, para realizar a etapa de campo de sua pesquisa de doutorado. Durante sua residência no quilombo (2016 a 2017), produziu sua etnografia sobre “saberes e práticas educativas quilombolas”. Nesse período, laços foram estreitados com a comunidade, que a convidou para participar do processo de implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola (DCNEEQ). A inserção da professora na comunidade foi tão frutífera que não só resultou na produção do seu trabalho de doutorado, como favoreceu para a construção de vínculo no território, expandindo em 2018 as ações de EAN do CulinAfro para a Escola Municipal Felizarda Maria Conceição de Azevedo, situada também em Machadinha, no município. Desde então, o grupo busca trabalhar com as comunidades nas quais interage sem as vestimentas da “educação bancária”, mas em construção ativa com o campo e o público de suas ações. Hoje, o trabalho está dividido em 4 eixos: Educação Alimentar e Nutricional (EAN) nas escolas; Culinárias Africanas; Alimentação Escolar Quilombola; Saberes e Práticas de cuidado em saúde. Em 2022, a organização e amadurecimento do grupo, contribuíram para que se tornasse oficialmente um grupo de pesquisa cadastrado no CNPQ.

Período de Realização


Objetivos
Este texto tem por objetivo apresentar os processos de trabalho do grupo CulinAfro, como um espaço de produção científica e resistência para estudantes de graduação e pós graduação de uma universidade pública.

Resultados
Como resultado, apresentamos as principais produções desenvolvidas pelo CulinAfro ao longo de 9 anos de trabalho, segundo seus eixos de atuação: (1) EAN nas escolas: Elaboração dos livros “Tempero de Quilombo na escola: experiências de extensão do projeto CulinAfro (UFRJ-Macaé)” e Caderno de metodologias educativas “Café com farinha e prosa”; (2) Culinárias Africanas: Elaboração do livro de receitas culinárias africanas “Gosto da África na língua” e do Caderno de memórias e receitas das cozinhas dos quilombos do Maciço da Pedra Branca; (3)Alimentação Escolar Quilombola: Realização do 1º Encontro Nacional sobre Alimentação Escolar Quilombola (ENAEQ); Construção em curso do Guia Prático Alimentação Escolar Quilombola.


Aprendizados


Análise Crítica
O processo de invisibilização da população negra nos espaços acadêmicos reflete a expressão da valorização do conhecimento eurocentrado, normatizador e balizador de toda a construção acadêmica científica no qual as universidades estão estruturadas. Expor as anulações e desqualificações do conhecimento contra hegemonico é fazer uma denúncia ao epistemicídio do conhecimento negro. Nesse sentido, a existência do CulinAfro contribui cientificamente para para o desenvolvimento de produções acadêmicas, que valorizam o conhecimento afrocentrado e suas referências, os quais se refletem na ética prática do fazer científico, promovendo a dignidade, inclusão e a valorização da autoestima de mulheres negras, estudantes de graduação e pós graduação.