03/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO2.6 - Metodologias e estratégias para ampliação da participação social no SUS II |
47554 - METODOLOGIAS PARTICIPATIVAS DE PESQUISA E EXTENSÃO COMO DISPOSITIVOS DE PARTICIPAÇÃO SOCIAL: UMA APOSTA NA COLABORAÇÃO ENTRE UNIVERSIDADE, GESTORES E TRABALHADORES DO SUS MARIANE GUIMARÃES LABARRERE - UFMG, CLAUDIA MARIA FILGUEIRAS PENIDO - UFMG, GEOVANNA FERREIRA CARAZZA - UFMG
Contextualização Trata-se do relato de experiência do projeto de extensão “Apoio Matricial: Estratégias de Educação Permanente em Saúde para apoiadores e trabalhadores da Atenção Primária à Saúde de BH-MG”, uma parceria entre a Universidade Federal de Minas Gerais e a Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte (SMSA-BH). O projeto, de caráter participativo e formativo, é articulado à pesquisa intervenção: “O caráter técnico-pedagógico do apoio matricial em BH”. Essa experiência vem sendo construída por meio de diálogos e produções entre Universidade, trabalhadores e gestores do SUS de BH.
O Apoio Matricial (AM) é um arranjo organizacional e uma metodologia de trabalho operada no encontro entre equipes de saúde da família (eSF) e equipes apoiadoras, que no caso de BH são o Núcleo Ampliado da Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB) e as Equipes de Saúde Mental (EqSM). A partir das dimensões clínico-assistencial e técnico-pedagógica, o AM qualifica e aumenta a resolubilidade da eSF. Nesse sentido, considera-se que para além dos usuários dos serviços, as próprias eSF também são usuárias da metodologia. Identificou-se, na pesquisa, que as Referências Técnicas (RTs) de Saúde Mental e NASF-AB dos distritos sanitários podem atuar como apoiadores institucionais e colaborar para a ativação da função do AM nos trabalhadores na Atenção Primária à Saúde (APS). Foi a partir disso que surgiu a proposta de investir nas RTs como público-alvo do projeto de extensão.
Descrição O projeto passou por uma fase de planejamento e alinhamento da proposta junto à SMSA-BH. Nessa fase, buscando sensibilizar outros gestores aos quais as RTs se reportavam, foi solicitado que se incluísse no público-alvo da extensão as Gerências de Assistência, Epidemiologia e Regulação de cada distrito sanitário, a Coordenação do NASF-AB da Gerência de Atenção Primária à Saúde e Coordenação de Serviços Territoriais de Saúde Mental da Gerência da Rede de Saúde Mental. Para esse público-alvo final foram planejadas e realizadas 4 oficinas de apresentação e problematização dos resultados da pesquisa-intervenção, para inspirar a posterior construção de planos de ação relacionados às práticas de AM em cada distrito. Pactuou-se uma metodologia ativa e participativa, a fim de provocar reflexões e construir coletivamente meios de transformar os resultados da pesquisa em ações que fizessem diferença para a rede.
Período de Realização Desde 2016, as ações da pesquisa já foram pensadas em conjunto com as de extensão. A parte do projeto aqui discutida aconteceu em 2022 e as oficinas foram realizadas no segundo semestre. Esse período de restituição da pesquisa segue em curso em 2023, no planejamento das próximas oficinas.
Objetivos O objetivo geral é contribuir para a ampliação da capacidade dos apoiadores e trabalhadores das eSF operarem a metodologia do AM como estratégia de Educação Permanente em Saúde. Os objetivos específicos são estimular espaços de discussão sobre as práticas de AM; problematizar as concepções e expectativas de AM presentes entre os apoiadores e eSF; discutir a metodologia de AM com as RTs a partir da pesquisa, fortalecendo as trocas entre Universidade e serviço; apoiar práticas formativas que integrem saberes acadêmicos e profissionais; contribuir para a ampliação do poder contratual das RTs de NASF e Saúde Mental quanto à oferta de apoio matricial na APS; integrar discentes em ações de extensão no campo de práticas da Saúde Coletiva.
Resultados As discussões foram formativas tanto para a academia quanto para as participantes, que sinalizaram a "oxigenação" que as oficinas promoveram em suas práticas. Os planos de ação apresentados ao final eram propostas potentes de qualificação do AM. Atualmente, com a retaguarda dos gestores participantes, essas propostas estão sendo colocadas em prática, fazendo valer a aposta nas RTs/apoiadores institucionais como multiplicadores capazes de articular a produção científica às demandas dos trabalhadores da ponta.
Aprendizados O elemento principal da participação social neste trabalho é a metodologia participativa das pesquisas-intervenções, que trabalham com restituição e empoderam os trabalhadores, facilitando a apropriação do conhecimento científico produzido sobre seu processo de trabalho e, dessa forma, ampliam sua condição de refletir e intervir sobre o próprio processo de trabalho. É, por meio desse encontro, em espaços como o das oficinas, que quem utiliza, pensa e coloca em prática o AM, ou seja, os trabalhadores, operam a construção permanente do SUS.
Análise Crítica Analisa-se que a experiência tem sido provocadora no que tange a uma forma de participação social que parte da colaboração entre gestão, academia e trabalhadores da ponta, considerados usuários da metodologia matricial. Tal configuração, embora não seja reconhecida como a participação social mais comum no SUS, afirma o caráter democrático da construção da política, a partir de uma perspectiva que não considera a política pronta a priori, mas na qual cabe reformulação em ato, partindo da inseparabilidade entre atenção e gestão.
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