Comunicação Oral Curta

03/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC34.2 - Cuidados territoriais emancipatórios para as populações do campo, da floresta e das águas

46741 - LUTAS E RESISTÊNCIAS NO CONTEXTO DA COVID-19: CONTRIBUIÇÕES DO ASSOCIATIVISMO NA GARANTIA DE SAÚDE DAS POPULAÇÕES DO CAMPO, DA FLORESTA E DAS ÁGUAS
BRUNA LIMA SELAU - UFSC, MARINA BASTOS PAIM - UNIVERSIDADE DO PLANALTO CATARINENSE, THAIARA DORNELLES LAGO - UFSC, DOUGLAS FRANCISCO KOVALESKI - UFSC


Apresentação/Introdução
A covid-19 chegou no campo e nas zonas mais remotas do Brasil desmistificando a crença de que a pandemia seria apenas um desafio para as grandes cidades. As populações do campo, da floresta e das águas (PCFA) estão em maior risco e/ou vulneração em saúde, devido a questões geográficas e climáticas, que foram um dos desafios para o combate ao coronavírus tendo em vista as dificuldades de acesso aos serviços de saúde em todos os seus níveis, o transporte dos insumos e o acesso à diversas localidades (FLOSS et al., 2020). Os agravos da covid-19 foram ainda maiores devido a ineficácia das ações do governo federal e os desinvestimentos em saúdes resultantes da Emenda Constitucional 95. Dessa forma, diante da negligência do Estado, do avanço da pandemia e do risco eminente de genocídio muitos povos e comunidades tiveram que se organizar a fim de sobreviver a pandemia do coronavírus.

Objetivos
Identificar e analisar as ações realizadas pelas associações das populações do Campo, da Floresta e das Águas frente à pandemia de COVID-19.

Metodologia
A pesquisa foi realizada a partir de estudo de casos múltiplos, com organizações da sociedade civil pertencentes às PCFA e que realizaram ações de saúde durante a pandemia de covid-19. Foram selecionados assentamentos e acampamentos do Movimento Sem Terra (MST) e associações quilombolas de acordo com as indicações das lideranças. Os locais foram visitados presencialmente no período de dezembro de 2021 a abril de 2022. A coleta de dados envolveu observação participante, entrevista semiestruturada e fotografia. Foram visitados 8 locais sendo 5 assentamentos/acampamentos do MST e 3 associações quilombolas. A pesquisa abrangeu os seguintes estados: Pernambuco (Recife e região metropolitana, Garanhuns, Caruaru e Serra Talhada), Minas Gerais (Região Metropolitana de Belo Horizonte), São Paulo (Valinhos) e Paraná (Florestópolis). No total foram realizadas 14 entrevistas semiestruturadas com as lideranças, assim como entrevistas com lideranças do MST do setor nacional e estadual de saúde. Essa pesquisa foi aprovada no Comitê de Ética (Número do Parecer 5.235.649) e todos(as) participantes assinaram o Termo de Consentimento.


Resultados e discussão
Foram diversas ações realizadas por essas organizações para sobreviver ao vírus, desde ações de saúde (medidas de proteção ao vírus) como ações mais amplas que garantiram os direitos básicos de alimentação e renda em harmonia com os ecossistemas onde vivem. As ações identificadas que tiveram como objetivo proteger a PCFA da covid-19 foram: barreiras sanitárias; projeto de agentes populares de saúde do campo; utilização das PICS como cuidado em saúde; cuidado coletivo, isolamento produtivo nos assentamentos do MST; combate as notícias falsas; vigilância popular em saúde; ações para garantir a vacinação dos PCFA; ações de saúde mental/bem-estar/autocuidado; e inúmeras ações de educação em saúde para prevenção do vírus. Também foram realizadas ações de solidariedade junto às populações em vulnerabilidade social das cidades, buscando garantir a segurança alimentar e nutricional nas cidades, utilização da agroecologia para produzir alimentos, assessoria jurídica e assistência social e doação/confecção de máscaras, álcool e outros. Em concordância com outros autores que também identificaram ações semelhantes das organizações da sociedade civil pertencentes às PCFA, como ações de solidariedade, arrecadações e doações de alimentos e cestas básicas, distribuição de materiais de higiene, barreiras sanitárias populares, observatórios, vigilância popular em saúde e educação popular em saúde (MONDARDO, 2020; CARNEIRO; PESSOA, 2020).


Conclusões/Considerações finais
Como encontrado nesse trabalho, foram construídas diversas alternativas pelas PCFA para proteger seus povos do vírus, embasadas em informações científicas, mas também a partir dos saberes e experiências dos povos originários, das comunidades tradicionais e dos movimentos sociais. Para além da atuação de combate direto à propagação do vírus nos seus territórios, essas populações realizaram ações de solidariedade e cuidado coletivo, contribuindo para garantia da segurança e soberania alimentar, a sustentabilidade dos ecossistemas e direitos sociais. Portanto, as lutas de suas organizações foram importantes para assegurar a saúde das suas comunidades e povos, e também das pessoas das cidades.

REFERÊNCIAS

FLOSS, Mayara et al. A pandemia de COVID-19 em territórios rurais e remotos: perspectiva de médicas e médicos de família e comunidade sobre a atenção primária à saúde. Cadernos de Saúde Pública, v. 36, 2020

CARNEIRO, Fernando Ferreira; PESSOA, Vanira Matos. Iniciativas de organização comunitária e Covid-19: esboços para uma vigilância popular da saúde e do ambiente. Trabalho, Educação e Saúde, v. 18, 2020.

MONDARDO, Marcos. Povos indígenas e comunidades tradicionais em tempos de pandemia da Covid-19 no Brasil: estratégias de luta e r-existência. Finisterra, v. 55, n. 115, p. 81-88, 2020.