Comunicação Oral Curta

03/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC32.6 - Boas práticas em saúde mental

48194 - FÓRUM INTERSETORIAL DA REDE CENTRO
RAQUEL CLEIDE DA MOTA CARVALHO - SESSP, LAURA SAHM SHDAIOR - REDUC


Contextualização
O território central do município de São Paulo, onde se localiza a cena de uso de drogas, conhecida publicamente como “Cracolândia” e como “fluxo” pelos usuários. Frequentadores e viventes desta cena aberta, núcleo onde “tudo acontece”, considerando a fluidez com que se deslocam em coletivo pelas ruas da região da Luz. Região conhecida pelo grande aglomerado de pessoas que ali se encontram, e que ganha evidência do poder estatal por se tratar de um território heterogêneo com múltiplos atores sociais, envolvendo questões de saúde, assistência social, segurança pública, atravessados pelo recorte de classe, raça e gênero. A cada nova gestão pública, seja municipal ou estadual, é comum o anúncio de ações, programas, intervenções e políticas públicas voltadas à "resolução" deste território, ações que de alguma forma tentam erradicar o uso de drogas e banir a presença dos usuários deste local. Além da grande especulação imobiliária existente na região. Neste cenário em disputa, o Fórum Intersetorial da Rede Centro foi construído de forma coletiva, inicialmente junto aos trabalhadores dos serviços de saúde atuantes junto a população usuária de substâncias psicoativas neste território central, principalmente equipes de redutores de danos, trabalhadores de CAPS AD e do Centro de Convivência É de lei. Os primeiros encontros ocorreram com trabalhadores e usuários, e visavam a discussão sobre o funcionamento dos serviços ainda no período da pandemia decorrente da COVID 19, além de se propor a cartografar as diferentes ações de cuidado existentes no território. Posteriormente, foi sendo fortalecida a proposta de construção de uma rede ampliada que garantisse a discussão sobre o território, atravessado por diferentes demandas de cuidado que não apenas relacionada ao uso de álcool e outras drogas, mas também o debate sobre moradia, acesso a direitos, entre outras questões.

Descrição
Os encontros do Fórum Intersetorial, ocorrem mensalmente, de forma itinerante em diferentes locais e/ou serviços, e atualmente contam com a participação de trabalhadores de diferentes recursos da rede de atenção psicossocial, Centro de Convivência É de Lei, serviços da Assistência Social, equipamentos da Cultura como SESC e Pinacoteca, pesquisadores, usuários e sociedade civil. Participantes comprometidos com pauta antimanicomial, decolonial, antiracista e antiproibicionista.

Período de Realização
Início em Junho 2021 até o momento

Objetivos
Discutir as questões que emergem no território central de São Paulo de forma ampliada junto a trabalhadores vinculados a diferentes secretarias, usuários da rede de atenção psicossocial e sociedade civil.

Resultados
Resgate da memória sobre a história das políticas públicas constituídas e constituintes do território central, que sofre com o constante apagamento das estratégias de cuidado, principalmente em decorrência das ações violentas e de "guerra às drogas" que tomam como pele alvo, as pessoas em situação de rua, viventes e frequentadores da cena de uso da "Cracolândia".

Aprendizados
Grande parte dos profissionais que chegam aos serviços de saúde, neste território não conhecem o histórico das políticas públicas implantadas ao longo dos anos, também apresentam pouco conhecimento sobre a RAPS – Rede de Atenção Psicossocial, e como ela se constitui. Mas são provocados/as a se relacionarem com os diferentes serviços da rede intersecretarial, porém pouco conhecem efetivamente os serviços e os trabalhadores destes recursos. O Espaço do Fórum intersetorial se mostra como um espaço também formador, onde se resgata a memória e as diferentes políticas de cuidado, além de ser um espaço de Educação permanente para os participantes.

Análise Crítica
O território da região central, principalmente onde se localiza a cena de uso do “fluxo”, se despotencializa com a ausência de espaços de discussão em rede, sobre as práticas de cuidado no território, acabam por fragilizar a atenção em saúde ofertada Sendo que, quanto mais fortalecida estiver a rede de cuidados territorial, do ponto de vista, de melhor conhecer as relações e os fluxos institucionais, possibilitará melhor assistência e aos usuários, respeitando a lógica de cuidado preconizada pela política de saúde do SUS (Ministério da Saúde, 1990), que propõe o olhar para o território e do cuidado integral. O Fórum intersetorial resulta em um espaço potencializador para o debate e construção de novas ações e estratégias de cuidado em rede.