Comunicação Oral Curta

03/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC32.6 - Boas práticas em saúde mental

47662 - ECONOMIA SOLIDÁRIA EM SAÚDE MENTAL: IDENTIFICANDO POTENCIALIDADES E DESAFIOS NA GESTÃO DA OFICINA “PANELATERAPIA” EM MANGUINHOS NO RIO DE JANEIRO
PATRÍCIA NASSIF DA CRUZ - O LAPS É O LABORATÓRIO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM SAÚDE MENTAL E ATENÇÃO PSICOSSOCIAL (LAPS) DA ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA SERGIO AROUCA (ENSP) NA FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ (FIOCRUZ) NO RIO DE JANEIRO


Contextualização
A economia solidária é uma outra forma de enxergar as relações do trabalho e produção, onde, a cooperação, a autogestão e solidariedade são os alicerces principais. O resultado é a dignidade, a produção de vida, o reconhecimento, a valorização por meio do trabalho coletivo e a geração de renda que desde os anos de 1980 no Brasil vem ganhando forças e mostrando na prática que existem maneiras de integrar pessoas e socializar a renda.
Ao criar espaços de protagonismo e acolhimento da diversidade onde as pessoas em sofrimento psíquico possam reafirmar suas habilidades e potências, não apenas garante a subsistência, mas também o recoloca no cenário social desconstruindo os estigmas até então arraigados.
Estudos tem revelado avanços no desenvolvimento das iniciativas no campo da saúde mental, mas ainda identificam desafios a serem enfrentados no sentido de se desenvolver estratégias de geração de renda e produção de vida, subjetividade pelo trabalho para as pessoas em sofrimento psíquico.
Muitas das iniciativas de economia solidária em saúde mental ainda apresentam fragilidades e desafios na sua gestão, apesar das potencialidades também existentes. Para tanto, estabelecem relações de ajuda mútua, cooperação e solidariedade, como algo inerente à maneira de enfrentar os problemas, satisfazer as necessidades ou desenvolver as atividades próprias da iniciativa.


Descrição
A Oficina “Panelaterapia” fundada em meados de 2015 produz empadas dentro do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) II Carlos Augusto da Silva (Magal), em Manguinhos no Rio de Janeiro. Essa iniciativa baseia-se nos princípios da economia solidária (auto gestão, cooperação, solidariedade).
A Oficina produz de 120 a 150 empadas semanais, em média com 5 a 8 usuários, acompanhados pela Coordenadora. Eles têm uma carga horária de trabalho de 20 horas semanais. A venda das empadas acontece todas as quintas-feiras no CAPS "Magal" para os clientes que estão localizados nos dispositivos na região, tais como: Unidade de Pronto Atendimento (UPA), Clínica da Família, Academia Carioca, Casa do Trabalhador e Colégios. Sendo que, todo dia 5 do mês é distribuído a cada usuário 20% do valor total da venda de forma equânime, pois na iniciativa não existe hierarquia, todos trabalham e passam por cada atividade. Uma outra parte do recurso recebido é destinada a sua manutenção, a compra de insumos e materiais para produção e também para poupança, cobrindo eventuais riscos.
Após as vendas, a coordenação da Oficina se reúne com os usuários e ensina aos mesmos a contabilidade (receitas e despesas adquiridos no processo de produção), cálculos básicos de matemática, dentre outros tópicos importantes na gestão da Oficina.


Período de Realização
Oficina “Panelaterapia” de produção de empadas desde meados de 2015.

Objetivos
Apresentar as potencialidades e os desafios na gestão da Oficina “Panelaterapia”, à luz dos princípios da economia solidária, da emancipação e inclusão social dos sujeitos envolvidos.

Resultados
As potencialidades na gestão da Oficina podem ser observadas:
1) pelo aprendizado na confecção das empadas que é feito de forma conjunta, onde os mais antigos se tornam os mentores dos que são recém chegados, multiplicando assim o conhecimento. Os que estão entrando na Oficina, inicialmente ficam mais observando os demais para não terem dificuldades. A ajuda mútua, o trabalho coletivo e participativo é um diferencial, pois todos que entram no projeto não tem conhecimento prévio de produção de empadas;
2) pela valorização diante dos familiares, amigos, colegas de trabalho no desenvolvimento de uma atividade laboral;
3) auto estima;
4) auto consciência do “saber fazer” o produto e de se sentir útil por isso perante a sociedade, família;
5) geração de renda.
Os dois maiores desafios são:
1) Muitos usuários têm tremores nos membros superiores (braços, antebraços, ombros, mãos) por conta de uso de medicamentos, dificultando o manejo do produto, principalmente na produção da empada de frango, a colocação da tampa. Neste tipo de empada, é necessária uma tática melhor de manejo, porque é mais trabalhoso o processo. Daí um auxilia o outro na operação;
2) A dificuldade no aprendizado da matemática básica e da contabilidade (fazer cálculos das receita e despesas para produção).


Aprendizados
A partir da identificação das potencialidades e desafios na gestão da Oficina “Panelaterapia” tornou-se possível melhorar os processos de trabalho e geração de renda com base no conhecimento de gestão, no protagonismo social dos participantes e na inclusão social.

Análise Crítica
Torna-se importante compreender o processo de gestão das iniciativas de economia solidária. em saúde mental A observação e o aprendizado da forma como os usuários da saúde mental se organizam para produzir uma melhor inclusão social, tem na geração de renda e economia solidária uma estratégia para agregar potência a este processo.