Comunicação Oral Curta

03/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC32.4 - Saúde mental, ciências sociais e psicanálise

46106 - BIOPOLÍTICA, MEDICALIZAÇÃO E NARCISISMO DAS PEQUENAS DIFERENÇAS: A INTOLERÂNCIA NO PROCESSO DE PATOLOGIZAÇÃO DA VIDA
SILVIO GABRIEL LINHARES GUIMARÃES - UNIVASF


Apresentação/Introdução
Pensar o sofrimento mental é estar disposto a entrar em uma celeuma de disputa de saberes, nos quais muitos tendem a levar o sujeito que sofre a um lugar dessubjetivado, de restrição de autonomia e moralizante, alegando uma falsa pretensão ateórica e apolítica, disfarçada de um discurso científico que vela preconceitos, processos de exclusão, violências e subjugação de sujeitos ao seu “diagnóstico” psiquiátrico. Diante desse cenário, na qual a pessoa em sofrimento psicológico é alvo de condutas moralizantes, excludentes e discriminatórias, se faz mister que haja uma leitura de tal situação pela ótica da teoria social freudiana, bem como uma ampliação através de contribuições de outros autores, como Michel Foucault e Giorgio Agamben, nas quais se propõe um caminho teórico para se pensar as políticas de medicalização da vida alicerçadas na intolerância, nos preconceitos e nos dispositivos de exclusão e controle.

Objetivos
Discutir como a medicalização atua como dispositivo biopolítico
Discutir como há o caráter de ódio e de intolerância para além do exercício da gestão da vida
Discutir como a medicalização legitima a perda da autonomia do sujeito

Metodologia
O trabalho almeja perseguir a associação do conceito de "biopolítica", empregado por Foucault, com o pensamento sobre a "vida nua" de Giorgio Agamben, buscando evidenciar a prática dos mecanismos de exclusão acarretadas pelo narcisismo das pequenas diferenças e validados pelo discurso médico, sob a égide da medicalização.

Resultados e discussão
A inserção em uma cultura e em um processo civilizatório não se dá sem que haja um certo grau de sofrimento, até porque toda forma de se estabelecer uma restrição e coerção é necessariamente uma maneira de produzir modos distintos de sofrer. Porém nem todo sofrimento é uma patologia.
A patologização do sofrimento é dada por uma compreensão social sobre ter alcançado um patamar de excessivo e que necessitaria intervenção médica disciplinar a fim de garantir uma adequação aos valores socialmente validados. Há então no fazer médico psiquiátrico um caráter mantenedor de uma ordem social, pois uma patologia implicaria necessariamente uma intervenção que subjugaria o sujeito ao crivo dos valores normativos.
A criação do horizonte almejado com a intervenção, demonstra como os corpos possuem um papel político nas relações sociais, visto que se estabeleceria uma polarização na qual o valor negativo é agregado ao que escaparia da norma. Emoções, sentimentos, formas de se relacionar, de se expressar, de aprender ou mesmo de lidar com o mal-estar do mundo, são tomadas como negativas que necessitam serem adequadas ao exercer político instalado.


Conclusões/Considerações finais
Através da análise das estratégias de saber-poder que sustentam o estatuto de verdade do médico no sistema biopolítico, uma possível compreensão é que os manuais diagnósticos continuam a exprimir o pensamento segregacionista, colonial e manicomial. Nesse cenário, a psicologia e a psiquiatria pode agir atuando na alienação do significado das condutas, o que favoreceria a expressão do ódio e da agressividade contra os classificados com um "transtorno mental"