03/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC19.3 - Pistas para novas epistemologias e o cuidado alimentar e nutricional no SUS |
47295 - OBESIDADE “ENTRE CAIXAS”: AFECÇÕES E NARRATIVAS SOBRE A OBESIDADE POR PROFISSIONAIS DE SAÚDE DA ATENÇÃO BÁSICA DO ESTADO DA BAHIA
RAFAEL ARCANJO TAVARES FILHO - UFBA, LIGIA AMPARO DA SILVA-SANTOS - UFBA, MICHELI DANTAS SOARES - UFRB, CAMILA DOS SANTOS RODRIGUES - UFRB
Apresentação/Introdução
Este trabalho é parte da pesquisa de dissertação intitulada “Obesidade entre caixas: afecções e narrativas de si em um dispositivo de pesquisa-formação”. Esta dissertação, caracteriza-se como uma pesquisa qualitativa e utiliza de elementos da pesquisa biográfica e da pesquisa-formação para analisar narrativas presentes em um dispositivo pedagógico cunhado “Caixa de Experimentações”, utilizado por profissionais de saúde da Atenção Básica de municípios do Estado da Bahia que participaram de um curso à distância para Qualificação do Cuidado a Pessoas com Sobrepeso e Obesidade (QCPSO).
Objetivos
Nosso objetivo aqui é compreender como os participantes cursistas utilizaram deste dispositivo pedagógico e de que modo foram mobilizadas experiências e afecções acerca dos modos de pensar e agir sobre a obesidade neste curso.
Metodologia
Tendo como princípio metodologias ativas de aprendizagem, esta Caixa, que se assemelha a um portfólio reflexivo, foi uma atividade adaptada por Indira Ramos Gomes e inspirada na ferramenta “Caixa de afecções” (proposta para o Curso EPS EM MOVIMENTO). Propôs “a noção de um arquivo (dinâmico) para dar suporte à construção espontânea de uma cartografia da trajetória de formação no mundo da vida e do trabalho” dos cursistas, como discute seu texto de abertura, para que refletissem sobre o seu ser-no-mundo a partir do curso, mas com a possibilidade de ir além, podendo colocar textos, imagens, vídeos, músicas e tudo mais que poderia expressar ou representar as ideias, sensações, coisas, emoções, palavras, materiais... enfim, afetos que potencializasse a experiência na formação, com o objetivo de guardar e/ou explorar seus movimentos no itinerário forma-ativo que o curso proporcionava. Por conta de sua metodologia, a “Caixa de Experimentações” foi disposta a partir do recurso “Diário” no AVA MOODLE do curso, espaço virtual onde era possível escrever, editar e compartilhar relatos, além de postar fotos, vídeos, materiais audiovisuais e compartilhar links da internet.
Resultados e discussão
De modo que não foi uma atividade obrigatória do percurso formativo dos cursistas, mas uma proposição pedagógica livre de avaliação para conclusão do curso, dos 106 (cento e seis) cursistas ativos na formação, apenas 32 (trinta e dois) fizeram uso deste dispositivo, totalizando 32 Caixas de Experimentações (pois cada cursista tinha a sua). O corpus deste trabalho foi formado optando especialmente pelas narrativas escritas e que apresentavam cunho autobiográfico, não considerando algumas narrativas que necessitariam de mais tempo e aprofundamento conceitual e metodológico para analisá-las, como as que se encontravam disponibilizadas em formas de materiais não-textuais (como imagens e vídeos) e/ou materiais textuais não-autorais (como letras de músicas, contos e poesias sem uma justificativa biográfica e relacional com o tema da obesidade por parte dos narradores). Por isso foram escolhidas 16 (dezesseis) “Caixas de Experimentações” para analisá-las. Destes materiais, foi realizada uma seleção de amostras por julgamento para definir as narrativas que compõem os resultados deste estudo.
Essa seleção gerou seis categorias à priori de análise baseadas nas semelhanças intersubjetivas entre os relatos, a saber: 1. Pensar a obesidade na formação em saúde; 2. Agir sobre a obesidade nas estratégias de cuidado na Atenção Primária em Saúde; 3. O curso QCPSO como agente mediador de saberes sobre a obesidade; 4. A Caixa de Experimentações como espaço de formação; 5. A Caixa como espaço para relato de si; e 6. A Caixa como espaço de críticas ao curso. Essas categorias, após analisadas, nos provocaram a categorizar dois grandes blocos de investigação: 1. Pensar e agir sobre a obesidade a partir das experiências; e 2. A Caixa de Experimentações como dispositivo de pesquisa-formação.
Conclusões/Considerações finais
Em suma, as primeira categorias (que abordaremos nesta apresentação) nos convidam à reflexões sobre o devir nos modos de se fazer um auto exercício crítico sobre a temática da obesidade, que perpassa desde as afecções de si, à formação dos profissionais de saúde e suas performances de cuidado. Essas categorias nos apontam para reflexões (e angústias) provocadas pela compreensão da pluralidade de vertentes para se entender a gênese da obesidade - em diálogo com os conteúdos abordados pelo Módulo I do curso que versava sobre outros modos de se “olhar a obesidade” - e para se cuidar da pessoa que vive com obesidade, especialmente através de outras perspectivas para além da clínica e da biologia, ao exemplo das contribuições socioculturais e reflexões provocados pelos estudos críticos da obesidade e dos estudos do gordo (‘fat studies’). Ao fim, consideramos que o contato com alguns estudos críticos sobre a obesidade (como proposto pelo curso) puderam contribuir para dar outros contornos às narrativas, que não somente ao entendimento da obesidade como doença.
|