Comunicação Oral Curta

03/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC18.2 - Digitalização e organização do cuidado

47409 - PROCESSO DE TERRITORIALIZAÇÃO COMO FERRAMENTA DE DIAGNÓSTICO EM SAÚDE: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
STELA IVONE DOS SANTOS SILVA - COREMU/JG, STHEFANNY THAYS S. GUIMARÃES ARAÚJO - COREMU/JG, RAIANE DANTAS DOS SANTOS - COREMU/JG


Contextualização
No contexto do sistema de saúde brasileiro, o território tem definições político-organizativas. Com a promulgação da Lei 8.080/90, ficou definido que os municípios passariam a ser, de fato, o responsável imediato pelo atendimento das demandas de saúde e exigências de intervenções da população em seu território. Para a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) (2012), cada equipe de Saúde da Família deve se organizar para atender a uma determinada população, assumindo a responsabilidade sanitária sobre ela, considerando a dinamicidade existente no território em que vive essa população. Desse modo, a territorialização tem um papel importante na Atenção Primária em Saúde (APS), pois, favorece o conhecimento da história e da cultura da comunidade, além de possibilitar a detecção de problemas de saúde da população e criar e/ou fortalecer o vínculo da equipe da Estratégia de Saúde da Família (ESF) aos usuários (CAIRES; et. al., 2017; OLIVEIRA; et. al., 2018).


Descrição
Trata-se de um relato de experiência, retratando parte do processo de territorialização da sexta turma de residentes do Programa de Residência Multiprofissional em Atenção Básica e Saúde da Família do município de Jaboatão dos Guararapes-PE. A escolha da unidade de saúde foi realizada pela gestão do município, onde é considerada a demanda de atualização dos dados e/ou do mapa expositivo da região. O local designado foi a Unidade de Saúde da Família (USF) Guararapes 1, localizada no bairro Muribeca dos Guararapes, município de Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco. Após a definição do local, o processo contou com as seguintes etapas: a. Mapeamento da região; b. Coleta de dados: realizada no sistema AtendSaúde e através das informações disponíveis nos tablets utilizados pelas Agentes Comunitárias de Saúde (ACS); c. Desenvolvimento de relatório diagnóstico do território e do mapa expositivo; d. Apresentação e entrega do diagnóstico final, com mapa final.

Período de Realização
O processo iniciou-se em setembro de 2022 e terminou em fevereiro de 2023.

Objetivos
Expor através dos dados coletados no processo de territorialização as dificuldades inerentes à saúde mental da área analisada.

Resultados
A área estudada, coberta pela USF supracitada, é composta por 5 microáreas, as quais são de responsabilidade de 5 ACS. A população é composta por 3.344 indivíduos. Durante a análise de dados, foi constatado que 90 usuários fazem uso de drogas, 334 fazem uso de bebida alcoólica com frequência e 344 se apresentavam como tabagistas. Isso quer dizer que 22,96% da população da área adscrita é usuária de álcool e outras drogas, salientamos ainda a subestimação dos dados, diante da estigmatização do uso pelos mesmos e pelo não questionamento no momento do cadastro.


Aprendizados
O processo de territorialização é capaz de proporcionar o conhecimento detalhado da população residente na área estudada, bem como as potencialidades e fragilidades da região. Os dados coletados possibilitaram o diagnóstico em saúde do local, facilitando a visualização das demandas a serem trabalhadas e o planejamento das ações em saúde necessárias para a melhoria da situação. Além disso, como o processo é realizado com apoio aos profissionais da USF, também promoveu o fortalecimento do vínculo entre a equipe de residentes e as ACS da unidade, facilitando o desenvolvimento do plano de ação.

Análise Crítica
No que diz respeito ao índice de uso de álcool, drogas ilícitas e tabaco, identificamos a necessidade de atividades de Educação e Saúde, objetivando a redução de danos. No entanto, sabemos que só as atividades de Educação e Saúde não são suficientes para suprir as demandas ligadas ao uso de álcool e outras drogas, por essa razão é necessário o apoio dos Centros de Apoio Psicossocial de Álcool e Drogas (CAPS AD) que atende pessoas que necessitam de apoio por fazerem uso de substâncias psicoativas. Segundo o IBGE (2023) a população estimada de Jaboatão dos Guararapes é de aproximadamente 711.330 mil pessoas e conta com o suporte de apenas três CAPS, sendo eles: CAPS Solar (modalidade de CAPS III), CAPS AD (modalidade CAPS álcool e outras drogas) e CAPSi Padre Roma (modalidade CAPS infanto juvenil) (JABOATÃO, 2023). Nesse caso, o Ministério da Saúde (2023) afirma que para municípios com mais de 500.000 mil habitantes é necessária a implementação de um CAPS AD IV que atende pessoas com quadros de intenso sofrimento por conta do uso de crack, álcool e outras drogas, com funcionamento de 24h, feriados e fins de semana.
Tendo em vista o explicito número de pessoas em quadros de transtornos mentais, inclusive, houveram 2 casos notificados de tentativas de suicídio no município, nota-se que são poucos dispositivos de assistência a saúde mental, dentre outras questões à esse público e faz-se necessário a implantação de CAPS 24H, tanto na modalidade transtorno, como o de Álcool e Drogas, diminuindo assim a sobrecarga de outros serviços e a desassistência de usuarios por falta de cobertura ampliada do território.