Comunicação Oral Curta

03/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC18.2 - Digitalização e organização do cuidado

47005 - REFLEXÕES SOBRE O USO DO TABLET NO TRABALHO DA(O) AGENTE COMUNITÁRIA(O) DE SAÚDE
BIANCA BORGES DA SILVA LEANDRO - FIOCRUZ, KETLEN PINHEIRO DOS SANTOS MARTINS - SMS RIO DE JANEIRO/RJ, LUIZA OLIVEIRA WISHART ATHAYDE - FIOCRUZ, JOSÉ MAURO DA CONCEIÇÃO PINTO - FIOCRUZ, DAVI MESSIAS CONRADO DA SILVA - INCA


Apresentação/Introdução
Em um contexto de transformação digital na Atenção Primária à Saúde (APS), o tablet passou a ser incorporado como uma ferramenta de trabalho estratégica dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS). O uso do tablet e de outros dispositivos móveis pelo ACS é uma tentativa de otimização de seu processo de trabalho com a promessa de ampliar a resolutividade, promovendo impacto na saúde. Esses dispositivos, por vezes, estão associados a prontuários eletrônicos para o envio da informação de modo automatizado. Destaca-se que o Ministério da Saúde tornou obrigatório o uso do prontuário eletrônico em 2016, levando a um movimento de maior aquisição de tablets por diversos municípios do Brasil, o que pode ser considerado como um uso institucionalizado da ferramenta; diferente do uso pessoal e particular, quando os profissionais lançam mão de seus equipamentos pessoais para a realização do trabalho. O uso institucionalizado formal destes equipamentos leva a uma necessária reflexão de como tais equipamentos estão sendo incorporados na rotina de trabalho desses profissionais. Soma-se a isso também o contexto de baixa alfabetização digital. No Brasil, o uso e a apropriação das tecnologias de informação e comunicação pelos profissionais envolvidos no ecossistema de saúde têm se tornado um aspecto relevante para o processo de informatização e transformação digital da rede de atenção.

Objetivos
Contribuir para a discussão teórica envolvendo o uso de tablets e outros dispositivos móveis pelo ACS no Brasil, identificando limitações e contribuições do uso institucionalizado desses equipamentos.

Metodologia
Na plataforma google notícias buscou-se matérias sobre a temática. Dez matérias selecionadas foram organizadas em um clipping de notícias. Procedeu-se a análise de conteúdo dessas reportagens por meio do referencial teórico de Laurence Bardin, identificando-se quatro categorias analíticas que expressam a complexidade do processo de uso de tablets e outras tecnologias de informação e comunicação por agentes de saúde. Os resultados encontrados foram problematizados junto à literatura científica da área.

Resultados e discussão
A análise do material permitiu identificar as seguintes categorias: necessidade permanente de capacitação para o uso da tecnologia; otimização do trabalho; perda de dados; novas dimensões da precarização do trabalho e a dimensão política na aquisição de equipamentos tecnológicos. A temática da capacitação foi um assunto subjacente em quase todas as matérias e explicitamente colocado em duas, foi identificada a necessidade da capacitação tecnológica ser ofertada a esses profissionais como forma permanente de garantir que todos consigam utilizar os aparelhos eletrônicos. Em várias matérias, chamou a atenção o destaque para a utilidade do equipamento nos serviços de saúde com ênfase para a melhoria do trabalho devido à informatização, tendo subjacente as ideias de produtividade, otimização e qualificação na produção de dados, aspectos que precisam ser problematizados. Tratando-se da perda dos dados se por um lado o uso de dispositivos móveis é visto como saída para as perdas de dados não registrado no papel, trata-se também de um desafio a ser enfrentado no contexto do uso das TICs (Tecnologia da Informação e Comunicação) no Sistema Único de Saúde, uma vez que há necessidade de estruturação de critérios de segurança das informações para prevenção da perda dos dados dos usuários. A dimensão da precarização do trabalho surge como um aspecto importante de ser refletido, pois até que ponto, a inserção de uma estratégia tecnológica, como um tablet ou aplicativo, é inserido no cotidiano do agente de saúde para contribuir com o processo de trabalho ou apenas visando o aumento da produtividade.

Conclusões/Considerações finais
Pode-se destacar que o uso dessa tecnologia (tablet e aplicativos) apresentou, na maioria das matérias, opiniões positivas, que a veem como forma de melhorar o trabalho dos agentes. No entanto, foi notado dificuldades, principalmente a necessidade de capacitação, para que os profissionais, de fato, consigam utilizar os dispositivos de forma que contribua para o processo de trabalho individual e coletivo da equipe de Saúde da Família. O problema da perda de dados trata-se de uma discussão que precisa ser feita, afinal, é necessário elaborar formas de promover a inovação e transformação digital na APS ao mesmo tempo em que haja proteção dos dados, agregando nesse debate também a precarização do trabalho enfrentada, historicamente, por essa categoria profissional. Os aspectos identificados no estudo constituem-se em temáticas relevantes de serem consideradas no processo de instituição de políticas relacionadas à Saúde Digital na APS.