Comunicação Oral Curta

03/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC18.2 - Digitalização e organização do cuidado

46722 - A GESTÃO DAS INFORMAÇÕES PELAS PESSOAS QUE VIVEM COM DIABETES NO CONTEXTO DA COVID 19.
FABIANA DE GUSMÃO CUNTO HEEREN MACEDO - UFRJ, NEIDE EMY KUROKAWA E SILVA - UFRJ, LEONARDO HEEREN MACEDO - SMSRJ


Apresentação/Introdução
A pandemia de Covid-19 atingiu globalmente a humanidade, não apenas como um problema sanitário, mas com repercussões em todas as esferas da vida, visibilizando novos e/ou acirrando velhos desafios. Um deles foi o caos gerado pelo excesso de informações desencontradas sobre a doença, contexto este denominado infodemia. Esse termo, embora anterior à Covid-19, ganhou destaque durante a pandemia, com a proliferação descontrolada das chamadas fake news, especialmente por meio de redes sociais, alastrando-se tal como o próprio vírus, especialmente por tratar-se de agravo cujo conhecimento científico foi se desenvolvendo a partir da sua eclosão. A velocidade com que se conhecia a doença e disponibilizavam meios para contê-la foi proporcional às informações desvirtuadas. Para alguns grupos, como o de pessoas com diabetes, tal panorama foi preocupante, por terem maiores chances de agravamentos pela Covid-19. A despeito das recomendações voltadas a esse grupo, pouco se conhece sobre como foi viver com diabetes em meio à tripla epidemia, do próprio diabetes, da Covid-19 e de informações.

Objetivos
Conhecer como pessoas que vivem com diabetes, geriram as informações referentes à sua saúde, no contexto da Covid-19.

Metodologia
Trata-se de revisão de literatura nas bases Scopus e BVS, (jan/2020- maio/2023), que levantou experiências de pessoas vivendo com diabetes durante a pandemia de Covid-19, a partir da chave de busca [Diabetes AND Covid-19 AND Self-care OR Self-management AND qualitativa OR interview], obtendo-se 255 resultados. Dos 44 artigos analisados, a dimensão da gestão das informações emergiu de modo mais explícito em 8 deles e serão analisados a partir de uma perspectiva de comunicação crítica e problematizadora de Paulo Freire.

Resultados e discussão
Com relação a gestão de informações, no início da pandemia, as orientações prestadas pelos órgãos oficiais de saúde eram por vezes instáveis, como o uso da máscara, o que causou confusão sobre essa prática. Embora tenham sido reportadas diversas fontes de informações, o principal critério utilizado para a escolha foi a confiança na fonte. Nesse sentido, foram reportados profissionais de saúde com os quais já tinham vínculo anterior à pandemia ou especialistas que concediam entrevistas nas TVs. O recurso a médicos do círculo de trabalho/amizade também foi referido como fonte confiável, na medida em que podiam tirar dúvidas e discutir informações obtidas em sites de busca. Comungar com valores, seja de igrejas ou mesmo de TVs locais, também emergiu como critério de confiança nas informações. Ao lado dos critérios de seleção de fontes confiáveis, alguns depoentes limitaram a exposição aos noticiários ou mesmo deixaram de acessá-los, por causarem ansiedade, angústia e depressão. A cobertura massiva da mídia sobre a pandemia pareceu ter um impacto negativo na saúde mental dos participantes, talvez não apenas pelo volume de informações, mas pelos conteúdos contraditórios, que disputavam a atenção e adesão das pessoas. Para fazer face a essa situação figuraram desde uma pausa no consumo dessas notícias até a limitação a fontes oficiais, como organizações de pessoas com diabetes ou Organização Mundial de Saúde (OMS). De fato, para combater a infodemia, órgãos como OMS propuseram uma ampla frente envolvendo medidas e canais para disponibilizar informações baseadas em achados científicos e para rechaçar aquelas que não se alinhassem aos mesmos. A despeito do mérito dessa mobilização, indaga-se, entretanto, sobre essa frente, que pareceu marcada por ideias que tanto tentam reduzir a noção de informação a conteúdos, apostando que informações distorcidas ou incorretas são combatidas com informações corretas, quanto a de que a população é mera consumidora de informações. Tais pressupostos identificam-se com um modelo informacional e unidirecional, que considera a população como receptora de conteúdo. Ao privilegiar o conteúdo da informação, os sujeitos envolvidos e sua capacidade de tecer juízos críticos parecem secundarizados ou esquecidos. Ao se aspirar modelos comunicacionais emancipatórios, postula-se o investimento na capacidade ativa e crítica da população, por meio da problematização das informações veiculadas, atuando como sujeitos-cidadãos e não como meros consumidores de conteúdo.

Conclusões/Considerações finais
As experiências de pessoas que vivem com diabetes durante a Covid-19 indicaram que ao fenômeno da infodemia, subjaz uma concepção de comunicação reduzida à noção de conteúdos informacionais e de sujeito, restrito a um receptáculo desses conteúdos, ao que Paulo Freire chamou de modelo bancário. Por mais que movido por boas intenções, combater a infodemia com mais informações, talvez seja uma medida questionável, merecendo abertura a outras estratégias que se voltem para potencialidades emancipatórias da comunicação, em seu sentido mais amplo, ou seja, fomentando a capacidade crítica da população, nas suas escolhas e reivindicações sobre a saúde.