Comunicação Oral Curta

03/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC16.5 - Corpos e cuidados: percepções e experiências

45990 - LIDERANÇAS DE FAVELAS E PERIFERIAS E SUAS TESSITURAS DE REDES DE CUIDADO
NILZA ROGÉRIA DE ANDRADE NUNES - PUC-RIO


Apresentação/Introdução
O estudo versa sobre a atuação de 30 mulheres que exercem um papel de liderança no cotidiano dos territórios segregados sócio espacialmente. Numa perspectiva decolonial e interseccional, pretende-se reconhecer, valorizar as iniciativas e dar visibilidade as lutas e inovações que provêm da atuação dessas mulheres, cujo cotidiano é demarcado por estruturas sociais como gênero, raça/colonialidade, classe e espacialidades. Suas estratégias locais revelam como um conjunto diversificado de ações nas esferas econômica, social, comunicacional e mental e são de extrema relevância para o acolhimento de outras mulheres nesses territórios urbanos permeados pelas iniquidades resultantes de uma sociedade marcada pelo colonialismo, pelo machismo e pelo patriarcado.

Objetivos
Geral:
Geral: Contribuir com a visibilidade da atuação de lideranças femininas das favelas e periferias que atuam no enfrentamento das iniquidades de gênero, raça, classe, território, entre outras, a partir da tessitura de redes de cuidado que acolhem outras mulheres.

Objetivos Específicos:
• Realizar uma investigação empírica junto a 30 lideranças femininas de favelas e periferias verificando como se mobilizam e quais estratégias permeiam suas ações no contexto de desigualdade de gênero para apoio e suporte socioemocional de outras mulheres;
• Sistematizar suas agendas, engajamento e estratégias utilizadas para o enfrentamento dos marcadores sociais das desigualdades expressas sobre os corpos das mulheres negras, favelizadas e periféricas e que impactam nas experiências individuais e coletivas de suas vidas;
• Contribuir com o desenvolvimento de ações de Promoção da Saúde em espaços comunitários e coletivos, oportunizando a aproximação e troca de experiências entre as redes de cuidado tecidas pelas lideranças femininas.


Metodologia
A pesquisa-ação baseada na comunidade (WALLERSTEIN, 2017) parte da perspectiva de que um processo de mudanças se revela mais eficaz com a participação das pessoas à procura de soluções. A elaboração e a partilha dos conhecimentos ocorrem em relações de convivência que incitam, ao mesmo tempo, o pesquisador a coletar os conhecimentos derivados da ação e o ator a contribuir diretamente para a produção do conhecimento. A principal bibliografia utilizada nesse estudo, na proposição de estratégias e análise dos dados estará orientada por: Thiollent (1996); Bosco Pinto (1989); Desroche (1990); Morin (2004); Wallerstein (2017).
Trata-se de uma pesquisa-ação participativa em desenvolvimento, com dados coletados por meio de métodos mistos sobre o trabalho de 30 lideranças femininas, sendo 20 de favelas do Rio de Janeiro e 10 da região metropolitana.


Resultados e discussão
As participantes são majoritariamente negras (94%); mães (84%); casadas (45%); são as principais responsáveis pela renda familiar (58%). Com relação à religião, declararam-se evangélicas (45%). acessaram o ensino superior (58%), declaram reconhecer que seu trabalho sofreu impacto direto com a pandemia do COVID (80%). Atuam em relação à educação, saúde, assistência social, meio ambiente e outros. Participam de espaços coletivos e atuam em rede (100%). Destacamos entre como os principais problemas que vem sendo mobilizados pelas lideranças femininas o aumento da pobreza, situação de estresse em casa, as relações desiguais quanto ao papel de cuidado dos filhos, o desemprego e a insegurança alimentar e nutricional, violência intrafamiliar decorrentes do machismo, além das invasões violentas e genocida da polícia. O acolhimento e escuta são presentes no cotidiano dessas lideranças femininas que articulam redes que se constroem como teias para o enfrentamento das desigualdades de gênero.

Conclusões/Considerações finais
Atuar em espaços populares marcados pela violência e violação dos direitos humanos requer habilidade, criatividade, coragem, ousadia e muita resistência. O contexto da covid potencializou as demandas em ações coletivas, com capacidade de dar respostas com organização e solidariedade. Destacamos nesse protagonismo a atuação das mulheres que exercem um ativismo cotidiano nos espaços favelizados e periféricos e que atuam cotidianamente na articulação de recursos materiais e imateriais para apoio a outras mulheres que interseccionam as expressões das determinações sociais da saúde. Suas lutas se traduzem no reconhecimento da cidadania, no resgate dos valores que pautam a humanização dos corpos e na construção de estratégias para a superação das desigualdades, evidenciando um movimento que é público, porém não estatal.