03/11/2023 - 08:30 - 10:00 COC12.2 - Decolonizar teorias, práticas e saberes: Movimentos sociais e populares por Soberania Sanitária em territórios da América Latina e do Caribe |
47078 - DESCOLONIZANDO A SAÚDE COLETIVA: CONTRIBUIÇÕES DIANTE DA EMERGÊNCIA CLIMÁTICA E SUAS IMPLICAÇÕES NA SAÚDE DAS POPULAÇÕES RACIALIZADAS MAYARA MELO ROCHA - UFC, RAQUEL MARIA RIGOTTO - UFC
Apresentação/Introdução Apresenta-se a base teórico-conceitual de uma pesquisa de doutorado que visa contribuir com análises descolonizadoras e antirracistas no campo da Saúde Coletiva, buscando ampliar sua capacidade de resposta aos efeitos da crise climática sobre a saúde das populações racializadas no Brasil. A emergência climática tem sido reconhecida como um dos maiores desafios globais da atualidade. Em seus últimos relatórios, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) apresentou as consequências decorrentes do aumento da temperatura do planeta, tais como o derretimento acelerado das calotas polares, eventos climáticos extremos e alterações nos padrões de precipitação. Essas mudanças têm um impacto significativo na saúde das populações, especialmente aquelas que já enfrentam desigualdades históricas, como as populações racializadas. A proposta de uma ecologia decolonial, que pretendemos aproximar do campo da Saúde Coletiva, implica combinar abordagens ecológicas com a superação da colonialidade e do racismo. Utilizando uma abordagem qualitativa e interseccional, busca-se compreender como o colonialismo, o capitalismo racial e o racismo influenciam a crise climática e suas implicações na saúde. Destaca-se a importância de uma abordagem crítica e interseccional para lidar com as mudanças climáticas, repensando as bases teóricas, metodológicas e políticas da Saúde Coletiva, desafiando a supremacia branca e o colonialismo, e valorizando conhecimentos descolonizadores e contracoloniais.
Objetivos Contribuir com análises descolonizadoras e antirracistas no campo da Saúde Coletiva, visando ampliar sua capacidade de resposta aos efeitos da crise climática sobre a saúde das populações racializadas no Brasil.
Metodologia Metodologicamente trabalha-se com uma abordagem qualitativa que usa a interseccionalidade como ferramenta analítica. A análise documental e a revisão bibliográfica fundamentam a base teórica-conceitual sobre as relações entre colonialismo, capitalismo racial, supremacia branca, emergência climática e saúde.
Resultados e discussão Discute-se como o colonialismo e o capitalismo racial moldaram a crise climática, compreendendo que a acumulação capitalista vai além da exploração do trabalho, da terra e dos recursos, pois é um sistema de violência que separa e desativa as relações entre seres humanos e entre humanos e natureza, o que é fundamental para a expropriação operar. O capital só acumula por meio de relações profundamente díspares entre grupos humanos, o que exige a diferenciação desigual do valor humano, e o racismo é o mecanismo que mantém essa desigualdade. Importa reconhecer o racismo como uma construção material e discursiva que gera valores humanos diferenciados, mas importa também compreender como a supremacia branca – operando como um sistema de crença subjacente que influencia praticamente todos os aspectos da cultura e da nossa forma de produzir conhecimentos –, dificulta a emergência de leituras antirracistas sobre a saúde das populações diante da emergência climática. Identifica-se que embora a Saúde Coletiva tenha avançado na discussão dos processos de vulnerabilização em saúde, encontra limitações em incorporar o debate interseccional sobre os sistemas de dominação articulados no arco “patriarcado supremacista branco capitalista imperialista” para enfrentar os efeitos da emergência climática sobre a saúde. Essas limitações são verificáveis na revisão de literatura do campo na qual não foram detectadas produções que aprofundem esse debate colocando em análise a própria composição do campo e a influência da supremacia branca em seus modos de produzir conhecimentos e compreender a emergência climática. Observa-se que as soluções apontadas para lidar com as repercussões das mudanças climáticas sobre a saúde ainda se concentram na mitigação e na adaptação, encontrando-se poucas análises que considerem a articulação dos seis eixos centrais da interseccionalidade: a desigualdade social, as relações de poder interseccionais, o contexto social, a relacionalidade, a justiça social e a complexidade.
Conclusões/Considerações finais Considera-se fundamental promover um debate epistemológico que questione a composição, organização e práticas do campo da Saúde Coletiva. É necessário compreender como a supremacia branca, presente no desenvolvimento da ciência moderna, tem constrangido as abordagens sobre a crise climática e dificultado a emergência de soluções que transcendam a reprodução da lógica da branquitude nesse campo. Além disso, ressalta-se a relevância de pesquisar e desenvolver abordagens descolonizadoras e antirracistas que promovam a vida, ao invés de apenas mitigar impactos e propor adaptações à emergência climática que desconsideram modos de vida, saberes e conhecimentos não alinhados à perspectiva da modernidade/colonialidade.
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