Comunicação Oral Curta

03/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC10.2 - Análise Institucional e a multiplicidade de práticas na Saúde Coletiva

46385 - PESQUISA-FORMAÇÃO EM SAÚDE MENTAL: DIÁLOGOS PARTILHADOS ENTRE O BRASIL E FRANÇA NA PERSPECTIVA DA ANÁLISE INSTITUCIONAL
JULIANA HESPANHOL DORIGAN - UNICAMP, LUCIANE MARIA PEZZATO - UNIFESP


Apresentação/Introdução
A articulação entre pesquisa e intervenção, a partir da perspectiva da Análise Institucional, coloca-se como base nesse estudo para compreender e analisar o campo de formação em saúde mental numa determinada região de saúde do estado de São Paulo, no Brasil, e experiências de formação específicas à assistência em saúde mental na França. No Brasil, o estudo procurou considerar os deslocamentos entre as especificidades da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde e as experiências vivenciadas por um grupo de profissionais que participaram de um curso de especialização em saúde mental e atenção psicossocial, em âmbito regional. Na França, propõe-se a analisar os dispositivos de formação continuada em saúde mental, presentes em situações próprias de cuidado e, mesmo no campo da assistência social.

Objetivos
Situada como pesquisa-intervenção-formação, a abordagem tem a intenção de agenciar dispositivos analisadores, que possibilitem aos grupos de profissionais envolvidos apresentar ao campo de análise suas particularidades e suas potencialidades, com base, especificamente, nos momentos de escrita a que os profissionais foram convidados a participar em situação de intervenção na pesquisa, incluindo-se a escrita de cartas.

Metodologia
Os momentos de escrita possibilitam a pergunta: o que significa analisar as próprias práticas a fim de construir um campo de conhecimento ou de ressignificar conhecimentos apreendidos? A escrita de si constitui uma prática e um caminho para a construção de conhecimento e para a própria formação e cuidado de si, de modo que, a escrita da experiência sobre o fazer-formador compõe o método deste estudo. Apoiamo-nos teórico-conceitualmente nas bases da literatura que afirmam que o processo formativo se dá por meio da elaboração, da formação de constructos, pela reflexão exercida no âmbito das narrativas de vivências, onde a construção de saber prioriza o significado da experiência na construção de si como sujeito da formação e em formação. Não se trata de análise comparativa ou mesmo, de análise qualitativa, nesse estudo trata-se de emergir experiências em processos de pesquisa e formação, seja no continente europeu ou na américa. Propomo-nos, assim, transpor esses vieses de pesquisa, e consideramos a epistemologia dos sujeitos em formação, seus saberes múltiplos e suas transversalidades.

Resultados e discussão
Observa-se que a construção de saberes que prioriza o significado da experiência, na construção de si como sujeito da formação e em formação, envolve processos decisórios e coloca o sujeito como autor e co-produtor de autonomia em seu fazer cotidiano. São práticas que buscam o movimento de valorizar e reivindicar a experiência, permitindo explorar a complexidade das práticas em saúde com vistas a construir a integralidade do cuidado. Tais perspectivas no contexto da saúde coletiva brasileira dialogam com as políticas nacionais de Educação Permanente em Saúde e de Humanização do SUS, que deixaram “rastros de resistências” nos modos de pensar e operar as práticas de saúde, mantendo vivas as possibilidades de criação de espaços para a prática reflexiva e pluriepistêmicas. O estudo abre campo para possibilidades de mesclar abordagens teórico-metodológicas advindas de outros países, em particular da França, com as do Brasil, que possui experiências singulares na construção da saúde coletiva e, em especial, da saúde mental. Desta maneira, possibilita compor o caldeirão de palavras, experiências e saberes múltiplos, onde se priorizam o compartilhar, o pensar, o refletir, ser transformado e transformar-se durante e a partir dos dispositivos de análises.

Conclusões/Considerações finais
O desafio da pesquisa, ainda em andamento, será o de realizar a composição desse quadro complexo, desse universo particular, dos sujeitos e dos contextos vividos em suas experiências profissionais, seus desafios cotidianos e o próprio campo de análise, composto e decomposto em forças e instituições transversalizadas nesses processos.