Comunicação Oral Curta

03/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC3.3 - Mecanismos de equidade na formação: estratégias e vivências nas instituições

46380 - A FORMAÇÃO DE UM GRUPO DE SAÚDE COLETIVA COM ÊNFASE NAS CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS
ANA PAULA AZEVEDO HEMMI - UFVJM, ANDRÉ LUÍS LOPES BORGES DE MATTOS - UFVJM, DIOGO NEVES PEREIRA - UFVJM, PAULO AFRANIO SANT‘ANNA - UFVJM


Contextualização
Trata-se de um relato de experiência sobre a formação e consolidação de um grupo de Saúde Coletiva, denominado Núcleo de Pesquisa, Estudos e Extensão em Saúde Coletiva (NUPEESC) no âmbito da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Descrição
Como Núcleo, este foi fundado institucionalmente - na UFVJM e no Diretório de Grupos do Cnpq - em 2016 com a perspectiva de formar um grupo para estudar, pesquisar e atuar no contexto da saúde, tendo como parâmetro as demandas e necessidades sociais da população da região do Vale do Jequitinhonha.

Período de Realização
2016 a 2023

Objetivos
Relatar os desafios da formação de um Núcleo de Saúde Coletiva com ênfase nas Ciências Sociais e Humanas.

Resultados
De 2016 a 2020 dentre suas principais ações, o grupo composto por docentes, profissionais e estudantes da área da saúde, realizou eventos - Encontros de Saúde Coletiva no Vale do Jequitinhonha - e organizou um livro - Perspectivas da Saúde Coletiva no Vale do Jequitinhonha: temas, debates e reflexões. Dentre os maiores desafios desse período, destacou-se a articulação entre as diferentes perspectivas dos participantes sobre como pesquisar e atuar na Saúde Coletiva. Em geral, a saúde fora entendida e praticada seguindo as evidências científicas provenientes de estudos epidemiológicos. Ressalta-se que, institucionalmente, é possível perceber a hegemonia da epidemiologia no que diz respeito à Saúde Coletiva. Isso pode ser observado pela ênfase dada pelas publicações, disciplinas e atuação em pesquisa dos cursos da área da saúde da UFVJM. Além disso, não se pode desvincular o discurso estatal associando o Vale do Jequitinhonha à ideia de atraso, devido à pobreza e às doenças endêmicas. Como os estudos epidemiológicos de base estatística produzem indicadores para atuação de ações estatais, não é de se estranhar a hegemonia da epidemiologia também no âmbito da academia. Com base na experiência acumulada pelo Núcleo, entende-se que as dificuldades encontradas apontam para desafios importantes a serem debatidos e trabalhados. Isso se deve, sobretudo, à dificuldade em se desconstruir um pensamento colonial e desenvolvimentista, fundamental para que a Saúde Coletiva se fortaleça tanto na formação em saúde, quanto na prática da saúde no Brasil, considerando as distintas realidades e suas condições de vida das populações que vivem nas diversas regiões do país.

Aprendizados
Houve, entre 2020 e 2023, uma mudança dos participantes do Nupeesc. Acredita-se que o isolamento social e o contexto pandêmico, favoreceu o distanciamento para a realização de algumas atividades, mas também propiciou ampliar a reflexão sobre saúde atrelada às questões sociais. Nesse contexto, algumas aproximações ocorreram entre docentes que estavam interessados em realizar um debate sobre saúde com uma perspectiva social. No final de 2021, o Núcleo retomou suas reuniões de forma remota, atraindo membros de diferentes áreas do conhecimento e incorporando, dessa vez, pesquisadores e estudantes das ciências humanas, entre eles, destaca-se os pesquisadores das áreas de antropologia e psicologia social. Tal inclusão tem sido importante para o desenvolvimento de pesquisas em conjunto, tais como a intitulada “Participação e controle social em saúde: um estudo etnográfico das práticas estatais na cidade de Diamantina, Minas Gerais”; além de estudos de textos sobre temas diversos, tais como etnografia, Estado, políticas públicas, contexto da saúde, participação e controle social em saúde, dentre outros; o oferecimento de uma Unidade Curricular na pós-graduação sobre políticas de saúde e participação; além das atividades de extensão, como a realização do “Ciclo de Debates em Saúde Coletiva: diálogos interdisciplinares”. Todas essas atividades têm sido realizadas de maneira coletiva, respeitando os limites e possibilidades de cada participante. No entanto, destaque deve ser dado à possibilidade de trabalhar com um grupo interdisciplinar que tem por princípio a escuta, tanto nas atividades de ensino, como de extensão, mas também nas atividades de pesquisa.

Análise Crítica
Esse aspecto não é trivial, sobretudo quando pensamos que geralmente a atuação acadêmica, assim como da saúde não está isenta dos valores biomédicos, ou seja, aqueles que se encontram na posição de um saber supostamente verdadeiro e legítimo. Essas experiências têm propiciado ao grupo avançar no conhecimento sobre as necessidades sociais da população da região. No entanto, percebe-se que a interlocução e interdisciplinaridade colocada em prática ainda é um desafio. O grupo em diversos momentos esbarrou em debates conceituais e também epistemológicos. Acredita-se que isso se deve em parte às diferentes formações e afinidades teórico-metodológicas. No bojo de discussões e debates do CT, acredita-se que essa experiência possa disparar diálogos visando o fortalecimento de grupos de Saúde Coletiva que se encontram em diversas regiões do país.