02/11/2023 - 08:30 - 10:00 COC4.4 - Redes em saúde, coletivos e educação |
47009 - EDUCAÇÃO EM SAÚDE NUMA PERSPECTIVA DIALÓGICA, PARTICIPATIVA E EMANCIPADORA: RELATO DE EXPERIÊNCIA DO PROJETO ESPERANÇA DO VERBO ESPERANÇAR ERICK CARDOSO DA ROSA - UFSC, DIPAULA MINOTTO DA SILVA - UNESC
Contextualização O Projeto de Extensão “Esperança do verbo esperançar: fortalecimento dos vínculos comunitários para a promoção da saúde" foi desenvolvido a partir do Programa Território Paulo Freire II, promovido pela Diretoria de Extensão e Ações Comunitárias da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC). Participaram da construção alunos/ bolsistas e professores dos cursos de Psicologia, Farmácia, Gastronomia, Educação Física e Serviço Social, reforçando o caráter interdisciplinar do projeto.
Descrição A proposta metodológica foi organizada em três etapas: etapa I: mapeamento psicossocial participativo - reconhecimento do território (identificação dos serviços, organizações e lideranças), visitas e entrevistas, e encontros de estudos mensais sobre educação libertadora de Paulo Freire e promoção de saúde; etapa II: aprofundamento do mapeamento psicossocial participativo, incluindo a construção de novos espaços de diálogos com a comunidade e buscando aprofundar a compreensão das relações entre sujeitos e instituições no território; etapa III: desenvolvimento de ações de educação em saúde a partir de temáticas identificadas no mapeamento. O critério para definição do cenário de atuação prática da equipe foi o mapa do território de abrangência da Estratégia de Saúde da Família da Unidade Básica de Saúde (UBS). Partiu-se do conceito ampliado de saúde, de modo a compreender as mais diversas formas de vulnerabilidade como importantes marcadores nos processos que envolvem o binômio saúde-doença, com base nos Determinantes Sociais em Saúde. Vale ressaltar que o território em questão carrega um forte estigma relacionado a criminalidade e pobreza, alimentado pelo cenário de grande desigualdade socioeconômica na região. A problemática da insegurança alimentar aparece como central durante todo o processo de contato com a comunidade, gerada tanto pela falta de alimentos, quanto pelo acesso recorrente a alimentos de baixa qualidade nutricional.
Período de Realização Sua duração foi de 2 anos, tendo início no primeiro semestre de 2021 até o final do segundo semestre de 2023.
Objetivos O objetivo principal do projeto foi fortalecer os vínculos comunitários para promoção da saúde, a partir das propostas freirianas de construção da autonomia para o exercício da cidadania, privilegiando metodologias dialógicas, visando assim, contribuir com o desenvolvimento comunitário. Buscou-se viabilizar mecanismos de promoção da saúde dentro do território a partir do conceito freiriano de educação popular, partindo da ideia de território como espaço indissociável da manifestação dos processos de saúde e doença.
Resultados A partir desse diagnóstico, traçou-se como estratégia a reativação da horta comunitária do Centro de Referência em Assistência Social, com oficinas que abordaram temáticas como o consumo e a inclusão de alimentos saudáveis na rotina alimentar, o manejo da terra para a produção autônoma de alimentos em casa ou em espaços comunitários, e o preparo de refeições nutricionalmente adequadas. As oficinas de horta comunitária e hábitos alimentares saudáveis foram utilizadas como ferramenta de emancipação, com o intuito de cultivar a autonomia, os saberes populares, a coletividade e a democracia. Durante o segundo ano de projeto, foram realizadas também oficinas de Auriculoterapia, Biblioterapia, Fitoterapia, “Saúde e Espiritualidade”, “Saúde e Cidadania”, Gestão Autônoma de Medicamentos, Saúde, entre outros. Participaram das ações grupos de diferentes idades, mas com um vínculo em comum, que foi a ligação com os programas do CRAS e/ou o cadastro na UBS.
Aprendizados Para “promover saúde”, foi necessário que a equipe considerasse o território como potencial promotor de saúde, principalmente através das interações e relações entre os sujeitos que o compõem. O fomento à autonomia em saúde consistiu em estimular o diálogo e o protagonismo, fazendo com que a comunidade se envolvesse nos cuidados consigo mesma. O mapeamento psicossocial participativo permitiu conhecer as principais vulnerabilidades, mas sobretudo, reconhecer o conceito de “saúde” para os sujeitos envolvidos com o território, fortemente associado à ideia de assistência pública em saúde, bastante assistencialista e biomédica, apesar de também ter aparecido de forma a relacionar a garantia da alimentação, de renda e de moradia. A proposta promoveu o aprendizado de estudantes que, pela experiência (escuta e contato), transformaram seu modo de pensar o processo saúde doença, superando a visão fragmentada e biomédica.
Análise Crítica A educação em saúde que se alcançou nas oficinas, não foi aquela na qual estudantes ensinaram e a comunidade aprendeu, mas de modo que todas as pessoas aprenderam enquanto ensinaram e ensinaram enquanto aprenderam, num processo humanizador. Considerando que o trabalho aconteceu articulando diferentes áreas do conhecimento, os espaços de partilha e estudo foram potentes, levando a reflexões críticas sobre saúde, iniquidades e modos de produzir esperanças do verbo esperançar para a promoção de saúde.
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