Comunicação Oral Curta

02/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC4.4 - Redes em saúde, coletivos e educação

46788 - EXTENSÃO, SUS E SERTÃO: UM OLHAR DE ATENÇÃO PARA QUEM PRECISA SER VISTO
SANDRO HENRIQUE GONÇALVES SANTOS PAVÃO - UFPE


Contextualização
A saúde da população é condicionada a partir de fatores sociais, ambientais e econômicos que, juntos, contribuem para um bom desempenho e assistência ideal para o cuidado de cada indivíduo. A Constituição Federal de 1988, apresenta em seu artigo 196: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a promoção, proteção e recuperação”.

Em geral, o Sistema Único de Saúde (SUS) possui fragilidades que precisam ser enfrentadas. Muitas delas estão relacionadas às longas filas de espera por um atendimento, à falta de leitos em UTI, desigualdade nos serviços de saúde, e ineficiência no uso de recursos disponibilizados. Dos itens salientados, fica claro que um grande número de problemas cruciais nos sistemas de saúde não está somente relacionado a fatores econômicos, mas também aos regionais e sociais.

Diferentemente do contexto urbano, a população residente no ambiente semiárido apresenta distintas características em relação à população urbana, tais como: baixa escolaridade e rendimento salarial, difícil acesso dos seus moradores aos serviços sociais, de saúde e comércio, assim como dos profissionais de saúde que atuam nessa área, tendo em vista as distâncias territoriais e a falta de transporte público para deslocamento, tanto dos usuários como da equipe de saúde que a eles assistem.

O presente relato foi desenvolvido a partir da vivência no projeto de extensão UFPE no MEU QUINTAL (UFPENMQ). O projeto é uma iniciativa de extensão da Universidade Federal de Pernambuco, que leva estudantes de graduação para pequenas cidades do sertão do Estado para ministrar rodas de diálogo para/com agentes multiplicadores e para a população em geral.

Descrição
O tema trabalhado nas oficinas foi “O combate a automedicação e o uso inadequado de medicamentos”. Utilizou-se a educação em saúde para dialogar sobre o uso correto dos medicamentos, a fim de diminuir usos inadequados e a automedicação, priorizando uma boa adesão aos tratamentos de pessoas com comorbidades a fim de promover autonomia e reduzir os efeitos colaterais.

A oficina foi ministrada em diferentes locais da cidade: escolas municipais, escolas estaduais, centro do idoso e povoados situados a uma distância considerável da cidade. Para os mais variados públicos, como crianças, adolescentes, adultos e idosos.

Período de Realização
As ações foram realizadas entre os dias 22 e 26 de maio de 2023, em um município do sertão Pernambucano.

Objetivos
Identificar os desafios encontrados ao ministrar uma oficina de educação em saúde para a população do sertão

Resultados
Durante os encontros a população relatou algumas dificuldades, dentre as quais: Não conseguir acessar alguns medicamentos, já que havia limitações na Rede de Atenção à Saúde para acessar o profissional médico; A falta de compreensão das pessoas ou familiares que não conseguiam interpretar as informações descritas na bula; A dificuldade de adesão ao tratamento, devido às fragilidades na orientação médica ou por outro profissional da saúde. Além disso, foi relatada a dificuldade de atendimento em uma unidade de urgência e emergência no município, uma vez que, devido à escassez de profissionais especializados em áreas de extrema relevância, os pacientes precisavam ser transferidos para municípios vizinhos, o que acarretava atrasos no atendimento e dificuldades na reversão do caso clínico.



Aprendizados
Além de um olhar específico para uma população distante da capital, a intervenção em Ibimirim despertou a atenção para a necessidade de cuidado e atenção às pessoas. É importante compreender e enxergar as dificuldades dos indivíduos antes de prestar qualquer assistência. Ao dedicar o cuidado à população do sertão, foi necessário compreender as dificuldades no enfrentamento da problemática em questão, assim como reconhecer que o acesso é fundamental para que a população possa ser contemplada com os princípios norteadores do SUS.

Análise Crítica
Apesar dos resultados reproduzirem cenários ditos ‘comuns’ no SUS, a vivência na prática é, no mínimo, tocante. Embora já se escute relatos de indivíduos enfrentando dificuldades para acessar os serviços mais importantes na cidade, essa situação se torna ainda mais frequente em áreas distantes e descentralizadas. É impossível trabalhar com autonomia de forma eficiente com uma população que não tem acesso facilitado a uma opinião médica ou a qualquer outro profissional da saúde.

Por fim, essa intervenção destaca a necessidade do entendimento mais amplo de processo inclusivo, que abarque os motivos que dificultam as práticas educativas em saúde. Ao não atentar para isso, corre-se o risco de invisibilizar sujeitos, que precisam ser vistos. A partir disso, ressalta-se a importância dos gestores interfederativos traçarem um planejamento eficaz de resgate, a fim de incluir essa população nos diversos serviços públicos de saúde garantidos por lei.