47915 - AVALIAÇÃO DA LINGUAGEM ESTIGMATIZANTE NAS RECOMENDAÇÕES PARA AS PRÁTICAS DE CUIDADO DAS PESSOAS COM OBESIDADE NO SUS ANA CLÁUDIA MORITO NEVES - UFOP, ELIZA DE OLIVEIRA TEODORO MACEDO - UFSJ CCO, ELMA LÚCIA DE FREITAS MONTEIRO - UFTM, TATIANE PALMEIRA ELEUTÉRIO - UNIMONTES, PHILLIPE AUGUSTO FERREIRA RODRIGUES - UNIABEU, ERIKA CARDOSO DOS REIS - UFOP
Apresentação/Introdução O estigma do peso se refere à desvalorização social e ao descrédito de indivíduos pelo excesso de peso, o que pode construir estereótipos e preconceitos (RUBINO et al., 2020).
A estigmatização praticada por profissionais de saúde no atendimento a pessoas com obesidade é ainda mais nociva, uma vez que referir-se aos indivíduos com obesidade como “obesos” influencia na forma como as pessoas se sentem em relação à sua condição e reduzem as chances de busca por cuidados de saúde (PUHL; BROWNELL, 2006). Por isso é importante que a produção de conteúdo sobre o cuidado das pessoas com obesidade fortaleça e reforce a linguagem não estigmatizante, a fim de reduzir preconceitos e ampliar a capacidade de cuidado.
Objetivos Analisar a linguagem adotada ao se referir à pessoa com obesidade nos documentos do Ministério da Saúde sobre o cuidado de indivíduos com obesidade.
Metodologia Foi realizada uma busca de documentos institucionais, publicados nos últimos 10 anos pelo Ministério da Saúde. A busca foi realizada na página eletrônica da biblioteca da secretaria de atenção primária à saúde (https://aps.saude.gov.br/biblioteca/index).
As expressões: “pessoa, indivíduo, paciente, idoso, homem, mulher, adolescente, criança, gestante e usuário (s) com obesidade” foram identificadas como linguagem que coloca a “pessoa em primeiro lugar”; por sua vez, o termo “obeso (as)” e a expressão “pessoa, indivíduo, paciente, idoso, homem, mulher, adolescente, criança, gestante e usuário(s) obeso (a)” foi identificada como “a que coloca a condição em primeiro lugar”. Não foram consideradas as expressões ou termos identificados no sumário, citações, referências e anexos.
Os documentos analisados são de acesso público e irrestrito, não havendo, portanto, necessidade de submissão e análise do estudo pelo Comitê de Ética em Pesquisa.
Resultados e discussão Foram analisados dez documentos, publicados entre 2014 e 2022, a saber: Caderno de Atenção Básica nº 38 - Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica obesidade (CAB-38); Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas de Sobrepeso e Obesidade em Adultos (PCDT); Material teórico para suporte ao manejo da obesidade no Sistema Único de Saúde; Instrutivo para manejo da obesidade no Sistema Único de Saúde: caderno de atividades educativas; Instrutivo de Abordagem Coletiva para manejo da obesidade no SUS; Orientação alimentar de pessoas adultas com obesidade, hipertensão arterial e diabetes mellitus: bases teóricas e metodológicas - Protocolos de uso do guia alimentar para a população brasileira; Orientação alimentar de pessoas adultas com obesidade - Protocolo de uso do guia alimentar para a população brasileira; Manual de Atenção às Pessoas com Sobrepeso e Obesidade no Âmbito da Atenção Primária à Saúde (APS) do Sistema Único de Saúde; Instrutivo para o cuidado da criança e do adolescente com sobrepeso e obesidade no âmbito da Atenção Primária à Saúde; e PROTEJA: Estratégia Nacional para Prevenção e Atenção à Obesidade Infantil: orientações técnicas.
Entre os documentos analisados, somente dois utilizam termos ou expressões que colocam a “condição em primeiro lugar”. O CAB-38 refere-se às pessoas com obesidade por termo ou expressão que coloca a “condição em primeiro lugar”, sendo identificadas 40 referências e, destas, 67,50% (n = 27) utilizaram o termo “obeso” ou a expressão “pessoa obesa”.
No PCDT, foram identificadas 10 termos ou expressões que se referiam a pessoas com obesidade, e uma expressão que coloca a “condição em primeiro lugar”.
Já no que se refere aos demais materiais supracitados não foram identificados termos ou expressões que colocam a “condição em primeiro lugar”, sendo todos os termos encontrados (100,0%) relacionados à “pessoa em primeiro lugar”.
A partir dos documentos analisados observou-se uma transição nos termos e expressões utilizados pelos materiais ao se referirem às pessoas com obesidade, sendo que os materiais recentemente publicados, adotam uma linguagem mais respeitosa e não estigmatizante. Uma hipótese para essa transição se refere a um maior reconhecimento da obesidade como uma doença crônica complexa, apesar de ainda ser considerada por muitos, como o resultado unicamente de hábitos alimentares não saudáveis e inatividade física.
Expressões e termos que colocam a condição em primeiro lugar, definem o indivíduo a partir da sua doença, e essas expressões são percebidas de forma negativa pela pessoa com obesidade e podem quebrar o vínculo usuário-equipe de saúde, além de dificultar o acesso ao tratamento.
Conclusões/Considerações finais Identifica-se um avanço na linguagem utilizada ao longo dos anos nos documentos ministeriais. Assim, é importante reconhecer que documentos utilizados no cuidado das pessoas com sobrepeso e obesidade que enfatizam a complexa etiologia da obesidade e utilizam uma linguagem mais respeitosa, contribuem para o fortalecimento de vínculos através de um cuidado mais acolhedor, além de eliminar estereótipos e estigmas relacionados à obesidade, dentro e fora do sistema de saúde.
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