03/11/2023 - 08:30 - 10:00 COC5.3 - Racismo, marcadores sociais e o cuidado em saúde |
47874 - DISPARIDADES NA AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NO RIO GRANDE DO SUL DE ACORDO COM A COR DA PELE BEATRIZ RAFFI LERM - PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EPIDEMIOLOGIA, UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL, MARIA ALICE LANTMANN - SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE DO RIO GRANDE DO SUL, DEISE VALÉRIO VETROMILLA - SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE DO RIO GRANDE DO SUL, MAISA BELTRAME PEDROSO - SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE DO RIO GRANDE DO SUL, CAMILA GIUGLIANI - PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EPIDEMIOLOGIA, UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
Apresentação/Introdução O Brasil é um país marcado por suas desigualdades sociais, sobretudo àquelas relacionadas a raça/cor, e carrega consigo reflexos de séculos de dívidas sociais e segregação. Historicamente, a população negra enfrenta maiores dificuldades em acessar os serviços de saúde. No Rio Grande do Sul, assim como em outras partes do Brasil, existem disparidades nos desfechos de saúde entre a população negra e branca, como uma maior taxa de mortalidade infantil, maior prevalência de doenças crônicas e piores indicadores de estado nutricional e alimentação. A aferição e acompanhamento do estado nutricional desta população torna-se imprescindível para combater esses piores desfechos em saúde e possibilitar análises de desigualdades. Entretanto, o número de avaliações nutricionais realizados na Atenção Primária à Saúde (APS) são sobremaneira baixos, o que impede a realização de um diagnóstico nutricional baseado nesses registros, porém, é possível avaliar as desigualdades relacionadas à aferição e registro das medidas antropométricas. O RS é também um estado que, ao contrário da maioria dos demais, possui um maior número de população de cor de pele branca, em relação à pele negra, e portanto, ao analisar as desigualdades, faz-se necessário levar em consideração a população segundo raça/cor, que pode ser feita através da comparação de taxas, que levam em consideração o tamanho de cada grupo populacional segundo raça/cor da pele.
Objetivos Estimar e comparar a taxa de avaliações nutricionais realizadas na Atenção Primária à Saúde na população branca com a da população negra do Rio Grande do Sul (RS) e das Regiões de Saúde do Estado.
Metodologia A taxa de avaliações nutricionais/1000 habitantes na população branca e negra, no nível de estado e regiões de saúde, foi calculada através da razão entre o número de avaliações antropométricas realizadas no ano de 2022, registradas no Sistema de informação da Atenção Básica (dados referentes às avaliações realizadas na Atenção Primária à Saúde, extraídas através dos relatórios de estado nutricional do SISVAN) e o número de habitantes nas respectivas localidades (estimativas disponibilizadas pelo IBGE referentes ao ano de 2017) multiplicado por 1000 habitantes. Para fins de comparação entre as taxas de avaliação nutricional entre brancos e negros calculou-se a razão entre essas duas estimativas. Considerou-se como negros a soma da população preta e parda.
Resultados e discussão No RS, a taxa de avaliações nutricionais na população branca foi de 170 avaliações por 1000 habitantes, enquanto que para os negros foi de 130 avaliações. Quando avaliada a mesma taxa de acordo com as 30 regiões de saúde do estado, em apenas 3 regiões a taxa foi maior na população negra em relação à branca (região Carbonífera/Costa Doce, Diversidade e Capital/Vale do Gravataí). Nestas regiões, é possível que a população branca conte com maiores acessos a planos privados de saúde, e portanto, não utilizem os serviços da APS. No restante das regiões, a razão entre as duas taxas variou de 1,1 na região Vinhedos/Basalto - ou seja, a taxa de avaliações nutricionais dos brancos foi 1,1 vezes maior do que a dos negros – à 4,5 na região Sete Povos das Missões. Em 11 regiões a taxa de avaliações entre brancos foi o dobro da taxa dos negros. Faz-se necessário ressaltar que essas disparidades não são causadas pela cor da pele em si, mas sim pelas desigualdades sociais, econômicas e estruturais que afetam negativamente certos grupos raciais ou étnicos. Alguns desses fatores são: racismo institucional e estrutural, a qual pode se manifestar de diversas maneiras, como o tratamento diferenciado, estereótipos negativos e preconceitos implícitos; desigualdades socioeconômicas, que podem limitar o acesso aos serviços de saúde através da falta de tempo para buscar assistência à saúde mediante a preocupação para atingir meios para atingimento de necessidades básicas como a alimentação, moradia, condições de habitação, educação e emprego, dificuldade de transporte para unidades de saúde, entre outros e a falta de informações adequadas sobre prevenção, tratamento e serviços disponíveis.
Conclusões/Considerações finais As avaliações nutricionais registradas nos sistemas de informação da APS foram baixas para toda a população. Entretanto, a população negra foi a que teve menos avaliações registradas. Para superar essa desigualdade, é fundamental implementar políticas e práticas que garantam o acesso equitativo aos serviços de saúde para todas as populações. Isso inclui a redução das desigualdades socioeconômicas, garantia ao direito à saúde, promoção da competência cultural e sensibilidade nos cuidados de saúde e combate à discriminação racial no sistema de saúde.
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