Comunicação Oral Curta

03/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC7.2 - Interseccionalidades na Comunicação e Saúde

46418 - DESCOLONIZAÇÃO DA COMUNICAÇÃO EM TEMPOS DE DESASTRES: PROMOVENDO O ACESSO À INFORMAÇÃO E A PARTICIPAÇÃO CIDADÃ EM COMUNIDADES ATINGIDAS POR DESASTRES
PAOLA PINHEIRO BERNARDI PRIMO - UFES, MICHELE NACIF ANTUNES - UFES, BRUNA RIBEIRO DOS REIS - UFES, AUREA SANTOS DE OLIVEIRA - UFES, MARIELA PITANGA RAMOS - UFES, ADAUTO EMMERICH OLIVEIRA - UFES


Apresentação/Introdução
As comunidades ribeirinhas na calha do Rio Doce ainda enfrentam as consequências do rompimento da Barragem de Fundão (MG), ocorrido em 2015. A falta de reparação dos danos ambientais e sociais e o enfrentamento de problemas de saúde, são constantes nas comunidades atingidas pelo derramamento do rejeito. Além disso, seus direitos, incluindo o direito à comunicação, são constantemente negligenciados.

Objetivos
Nesse contexto, o Sistema de Monitoramento de Informação sobre Desastre (SIGDesastre) foi desenvolvido como uma plataforma para promover o acesso à informação e ampliar o direito à participação das comunidades atingidas.

Metodologia
O sistema, ancorado nas TIC´s, monitora na internet informação sobre essa tragédia-crime por meio do uso de palavras-chave e sites pré-definidos. A partir daí, um mecanismo robô busca e compila as informações relevantes, tornando-as acessíveis ao público em geral em um ambiente amigável, acessado pela internet. Por meio do SIGDesastre, busca-se não apenas disponibilizar informações confiáveis sobre as ações pós-desastre, mas também fortalecer a comunicação de desastres de forma mais cidadã. Com o propósito de envolver as lideranças femininas das comunidades atingidas, está em curso testes de usabilidade do SIGDesastre, em três comunidades atingidas no Espírito Santo. As metodologias de avaliação de usabilidade são essenciais para garantir uma experiência satisfatória aos usuários, pois envolvem a observação direta dos usuários interagindo com o sistema, permitindo identificar problemas e obstáculos em tempo real. A análise de métricas de desempenho permite avaliar o tempo de carregamento de páginas, taxas de conversão, métricas de engajamento e outros indicativos relevantes para medir a eficiência do sistema. Ao combinar essas metodologias, é possível obter insights valiosos sobre a usabilidade, identificar áreas de melhoria e tomar medidas para otimizá-lo, garantindo uma experiência mais intuitiva e agradável aos usuários.

Resultados e discussão
A comunicação tradicional muitas vezes reproduz relações de poder assimétricas, privilegiando determinados grupos e marginalizando outros. Quando analisamos essa comunicação na ocorrência de desastres, a desigualdade no acesso à informação e a falta de representação das vozes das comunidades atingidas são problemas recorrentes. As populações ribeirinhas afetadas pela tragédia de Mariana são um exemplo disso, enfrentando falta de acesso à informação confiável, ausência de responsabilização e falta de atenção às suas necessidades e sofrimentos.
Reconhecendo ainda as desigualdades de gênero e os impactos diferenciados dos desastres sobre as mulheres, resolveu-se priorizar neste primeiro momento, a participação das lideranças femininas como agentes de mudança nas políticas de enfrentamento aos desastres e na promoção de uma comunicação mais inclusiva nos territórios atingidos. Apesar das mulheres estarem mais vulneráveis ao desastre, elas não são vítimas indefesas. Elas carregam experiências e conhecimentos valiosos na gestão, enfrentamento e mitigação dos desastres. Ao promover a participação ativa dessas lideranças no uso e construção coletiva do SIGDesastre, a plataforma contribui para a descolonização da comunicação. Com a valorização das vozes e perspectivas das mulheres, o sistema se torna mais sensível às necessidades e demandas específicas das comunidades afetadas, superando a marginalização e invisibilidade que muitas vezes ocorrem no processo de comunicação. O SIGDesastre busca, portanto, rompe com essa dinâmica ao proporcionar um espaço de comunicação mais igualitário e inclusivo, ao potencializar a atuação das lideranças femininas das comunidades atingidas, reconhecendo suas experiências e conhecimentos valiosos na gestão, enfrentamento e mitigação dos desastres.

Conclusões/Considerações finais
Sendo assim, o sistema contribui para uma comunicação mais justa e emancipatória, e consequentemente, incentiva as lideranças femininas e as populações afetadas a terem voz ativa e participarem na construção de soluções e na busca por reparação dos danos causados pelos desastres. O SIGDesastre não apenas facilita o acesso à informação e promove a participação das comunidades atingidas, mas também atua na descolonização da comunicação, criando espaços mais inclusivos e equânimes. Ao reconhecer as desigualdades e desafiar as estruturas de poder presentes na comunicação, a plataforma busca estabelecer relações mais justas e equitativas, ampliando a capacidade das comunidades atingidas de se expressarem e influenciarem nas decisões que afetam suas vidas.