Outras Linguagens

03/11/2023 - 08:30 - 10:00
OL7 - Potencialidades e desafios das linguagens da ESCRITAS DE MEMÓRIAS, CORDEL e POESIA para pensar o cuidado como práxis decolonizadora

48104 - CIPÓ TUPI E O AUDIOVISUAL COMO DISPOSITIVO DE SAÚDE E DECOLONIALIDADE
LEONARDO JOSÉ DE ALENCAR MENDES - UFBA/UFRB, GLICÉRIA JESUS DA SILVA - UFRJ


Processo de escolha do tema e de produção da obra
A escolha do tema do filme e sua realização ocorreu de modo ocasional, mais em decorrência do que estava acontecendo do que uma proposição temática e cenográfica. Acompanhar a atividade do casal de anciões na artesania do cipó foi o mote principal. Assim, ele e ela nos dirigiram. Nisto vemos outra potência da obra, que fornece pistas para pesquisas e realizações artísticas com povos indígenas e coletivos populares.

Objetivos
Debater o audiovisual como instrumento de produção de saúde e descolonização dos olhares sobre indigenas e suas existências.

Ano e local da produção
Filmado no ano de 2019 e finalizado em 2021 na aldeia Tupinambá da Serra do Padeiro, sul da Bahia, além de ensinar a tecer com cipó, o filme mostra que a artesania, junto com o acompanhamento e diálogo audiovisual, imprime no concreto dos objetos distintas histórias. Carrega consigo modos de cuidar, como o legado da luta cotidiana, do zelo com a terra, os vínculos comunitários, o cultivo da fé. Registra o espírito de nunca deixar de sorrir, o que se estampa nos personagens, algo que Tupinambá faz tão bem. Do cesto para a neta que vai nascer (mesmo que não esteja evidenciado no filme), da vassoura que limpa a casa, as lições para se varrer o mundo.

Análise crítica da obra relacionada à Saúde Coletiva e ao tema do congresso
Nas suas modestas pretensões, a obra se afina com alguns entendimentos que temos da relação entre emancipação e saúde, mostrando que a aproximação cuidadosa, inclusive com o dispositivo audiovisual, pode colaborar no aflorar das potências das pessoas. Operando de tal modo que favoreça processos de reparação e reconstrução de suas condições de vida e subjetividades (inclusive quando elas e a comunidade se assistem).

Em pleno século XXI, os povos indígenas ainda sofrem preconceitos e racismos diversos. Muitos ligados a estereótipos criados no Brasil e no mundo, muitas vezes fortalecido pelas mídias, onde são apresentados e vistos como incapazes, sem potencial de autonomia e de possuir o protagonismo sobre sua história.
Eis aqui uma das importâncias do audiovisual nas mãos dos povos indígenas e, no caso presente, de suas mulheres: fornece uma ferramenta de luta para a defesa do território. Por meio da preservação de memórias, faz com que sejam defensoras de sua aldeia, contribuindo para a valorização de seu povo e cultura, dando ênfase para uma visão interior da comunidade. Com um instrumento dessa categoria, fazem com que outros espaços sejam conquistados, e uma outra categoria de linguagem. Espaços onde não tinham tido a chance de se expressar e que tem se conquistado nos últimos anos. Assim, cada vez mais o potencial e a capacidade das mulheres indígenas têm se mostrado. Valorizando a cultura do seu povo, tentando armazenar e guardar eventos, memórias, histórias, saberes ancestrais contidos em pessoas que podem ser consideradas como bibliotecas vivas e raras. Além disso, desconstroem estereótipos e preconceitos, combatendo racismos.
A câmera se faz ferramenta para fomentar a luta e desmistificar o racismo. Várias etnias indígenas estão produzindo materiais que contribuem para a luta do seu povo e algumas iniciativas têm exibido esses trabalhos. A partir da valorização da arte audiovisual indígena também se cria dentro da comunidade mobilização com o sentimento de trabalho recompensado e despertar em jovens a vontade de fazer parte e contribuir desse modo.


Formatos e suportes necessários referentes à apresentação
A apresentação requererá estruturas elementares para qualquer exibição audiovisual

Breve biografia do autor
Glicéria Jesus da Silva é artista e pesquisadora Tupinambá. Realizou o premiado documentário Voz Das Mulheres Indígenas (2015). Realiza projetos de literatura, artes plásticas e audiovisual, participa de exposições, dentre elas Um outro céu (2020) e Essa é a grande volta do manto tupinambá (2021) com sua obra Manto Tupinambá, contemplada com o Prêmio Funarte Artes Visuais 2020/2021 e prêmio PIPA 2023.