Comunicação Oral

02/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO30.2 - Diálogos entre saúde, cuidado e cultura

46500 - A PARTICIPAÇÃO POPULAR NA SALA DE ESPERA DE UM CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL (CAPS) GERAL DE FORTALEZA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
MARIA MARIANA DE ANDRADE SILVA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, LARA SILVA PINHEIRO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, VINICIUS NOGUEIRA LOPES - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, NATÁLIA MATOS DE SOUZA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, ANTONIO CAIO RENAN SILVA PENHA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, ALANA MARIA LOBO DE QUEIROZ PINHEIRO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, JOÃO PEDRO MORAIS SALES - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, SUZETTE DE OLIVEIRA SIQUEIRA TELLES ALVES - -, MARIANA TAVARES CAVALCANTI LIBERATO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, ERICA ATEM GONÇALVES DE ARAÚJO COSTA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, CAMILA RIBEIRO DE OLIVEIRA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, MARTA CLARICE NASCIMENTO OLIVEIRA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ


Contextualização
Um dos pilares que marca o movimento da Reforma Psiquiátrica e da Luta Antimanicomial é a participação social na construção ativa de um sistema de saúde que promova saúde mental (SM) e, para além disso, garanta direitos e cidadania aos usuários. Por isso, as fragilidades que permeiam esse sistema devem ser traçadas, melhoradas e efetivadas de maneira coletiva entre os usuários profissionais, gestores, eixos comunitários, movimentos sociais, políticas públicas e demais atores e instâncias, respeitando o território e seu contexto sócio-histórico e cultural para que as estratégias sejam singularizadas frente a demanda do recorte populacional.

Descrição
Traçando essa lógica, o Programa Pasárgada: Promoção de Arte, Saúde e Garantia de Direitos em parceria com o Programa de Educação Tutorial (PET), ambos vinculados ao Curso de Psicologia da Universidade Federal do Ceará (UFC), promoveu com extensionistas atividades de Salas de Espera no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Geral da Regional II de Fortaleza, no Ceará, com acompanhamento e supervisão de profissionais de referência do próprio serviço, consistindo em um momento, durante a espera por atendimento, no qual se possa debater e informar sobre temáticas que atravessam a rotina dos usuários.

Período de Realização
A extensão ocorreu semanalmente entre junho de 2022 a junho de 2023.

Objetivos
O objetivo da extensão é tensionar e subverter esse espaço, resgatando potencialidades ao legitimar os saberes dos usuários e produzir outros propondo debates, bem como promover a participação popular ao compreender que a construção de um serviço perpassa diretamente por demandas territoriais únicas e se entrelaça com a historicidade da própria comunidade que o utiliza, implicando também a convivência comunitária. Essa perspectiva de promoção em saúde, compreendida de forma ampliada, busca não sucumbir processos singulares de adoecimento à medicalização em massa que patologiza a vida, característico de modelos de saúde ambulatorizados, mas sim coletivizar o cuidado por divergir da premissa neoliberal que insiste em trazer para o âmbito individual as questões de sofrimento do sujeito.

Resultados
Para isso, as atividades de educação em saúde propostas faziam interlocução com a arte ao pautar temas como: prevenção de doenças, população LGBTQIAPN+, territórios, redes de apoio, SM nas políticas públicas, SUS e potencialidades do próprio CAPS, em busca de mobilizar suas demandas de forma compartilhada com os demais presentes e promover o diálogo em potencial criativo, obtendo materialidades artísticas conjuntas para compor o ambiente após cada sala de espera realizada. Ademais, também como resultado das atividades da sala de espera, mobilizações foram realizadas no CAPS a fim de convocar os trabalhadores da área da saúde junto aos pacientes para compor a Semana da Luta Antimanicomial em Fortaleza, onde eles estiveram presentes lutando de maneira unificada pela melhoria da política de SM na cidade e participando de também de atividades artístico-culturais promovidas, o que ultrapassa as paredes do dispositivo e adentra ao território.

Aprendizados
Portanto, a participação social fortalece a construção de um indivíduo político implicado em questões sociais enquanto um agente transformador para além dos muros dos CAPS, o qual sua autonomia influi nas tomadas de decisões que partem para o âmbito coletivo e transforma concepções de saúde reducionistas. Tal mudança de paradigma gera aprendizados mútuos e também é decisória para construir um Projeto Terapêutico Singular que engloba atividades de participação social em prol do fortalecimento da RAPS no município, sendo a atividade de sala de espera um passo importante para essa solidificação.

Análise Crítica
Nessa ótica, os fluxos apressados em um dispositivo de saúde por vezes deixam escapar a potência de promover garantia de direitos, para além de tratar e acolher a necessidade do adoecimento. Desta forma, repensar práticas e rotinas de trabalho para garantir a presença dos usuários nos processo de formulação e controle das políticas públicas de saúde torna-se um pilar primordial e desafiador. Este cuidado atravessado pelo próprio sujeito a partir do seu conhecimento acerca da rede que utiliza e possibilidades de sua própria participação, protagonismo e corresponsabilização no seu cuidado, pode ser um processo construído dentro das práticas e espaços dos dispositivos de saúde, mediado na relação usuário-profissional. O contraste disso é a caracterização de um cuidado individualizado, bem como o fomento de um modelo ambulatorial que diverge da proposta voltada para tais dispositivos de saúde que compõem a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS).