02/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO30.2 - Diálogos entre saúde, cuidado e cultura |
46085 - AGROECOLOGIA, DO PLANTAR SAÚDE AO COLHER TRANSFORMAÇÃO: RELATO DE EXPERIÊNCIA DO CURSO DE FORMAÇÃO EM MARCELLE AZEVÊDO RODRIGUES DE SOUZA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO, UFRJ
Contextualização O Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea, espaço de memórias do território da Colônia Juliano Moreira, ex-colônia manicomial, fica localizado no bairro de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Dentre as atividades desenvolvidas no recinto encontra-se o projeto “Arte, Horta & Cia”, que teve sua origem há duas décadas, tendo como um dos objetivos a intensificação dos cuidados com a saúde do indivíduo através do cuidado com o meio ambiente. O projeto possui uma horta agroecológica comunitária, situada no terreno que abrigou o antigo núcleo de internação masculina Ulisses Viana, atualmente desativado.
Descrição No ano 2023, deu-se início no projeto a formação popular em “Agricultura Urbana e Agroecologia”, a primeira turma contando com 30 participantes, entre usuários da rede de saúde mental e moradores da comunidade local. O curso mesclou aulas práticas e teorias, sendo dividido em 3 módulos - introdutório, básico e avançado - com duração de 6 meses, e a partir dos diálogos diários desenvolvidos, debateu-se com os presentes temas variados como arte, cultura, atuação social, gestão participativa, técnicas agrícolas e sustentabilidade. Além disso, intencionou-se a aproximação dos diversos atores sociais da região, bem como a emancipação dos sujeitos, inserindo-os como cidadãos cocriadores do espaço que ocupam.
Período de Realização O presente relato de experiência compreende o período entre Janeiro de 2023 e Junho de 2023, no qual ocorreu a execução da formação da primeira turma em "Agricultura Urbana e Agroecologia".
Objetivos Expor o potencial da formação em Agricultura Urbana e Agroecologia na promoção da saúde integral, da autonomia e do protagonismo dos diferentes atores sociais.
Resultados Durante o curso de formação em "Agricultura Urbana e Agroecologia" os alunos tiveram no roteiro educativo alternativas motivadoras, utilizando metodologias participativas, como pilar a pedagogia Freiriana. Em vista disso, o conteúdo programático foi aplicado de forma horizontalizada, envolvendo práticas de trocas de conhecimentos entre os educadores populares e os participantes, os quais sentiram-se parte integrante do processo formativo. Houve a realização de assembleias quinzenais, em que foi fomentada a escuta afetiva e a resolução de questões ligadas as práticas educativas e a gestão do espaço. As decisões foram votadas coletivamente ampliando o poder deliberativo das ações. Temas geradores foram oferecidos e criou-se uma relação de confiança entre os presentes, pois todos se expressaram livremente. Outro fator elencado foi que alguns dos participantes relataram, ao entrar no projeto, possuir questões múltiplas com a saúde, como quadros depressivos, de ansiedade e redução de mobilidade, ao final da formação foi aplicado um questionário sobre os benefícios observados na participação e frequência no espaço da horta e de forma unânime foi exposto que houve significativa melhora nessas condições.
Aprendizados A Agroecologia designa sobre resistência, remetendo a pluralidade ambiental e de indivíduos, trazendo visibilidade ao que é invisível aos olhares desatentos. Entende-se também como a necessidade de cuidar, auxiliando para que a vida gerada no solo possa também ser gerada nos que frequentam o espaço. Percebe-se que, ter a disposição atividades que movimentam o corpo, a mente, inseri-los na tomada de decisão, plantar, colher e ter o entendimento que pertencer é estar disponível para contribuir coletivamente faz com que se sintam cada vez mais motivados e autônomos para novos desafios, e assim forma-se a realidade local, aumentando as potencialidades do território. Diferentes provocações são feitas, dentre elas a importância das práticas agroecológicas na produção de alimentos de qualidade e a possibilidade da participação de grupos marginalizados. Desse modo, é fomentada a produção alimentar nas cidades, cooperando e não competindo com o meio ambiente. Observa-se que, a partir disso há a desconstrução de diferentes estigmas coloniais, trazendo assim a tônica da amplitude do ambiente. Essa integração de saberes populares antigos e conhecimentos científicos modernos é um dos pilares fundamentais da agroecologia.
Análise Crítica As provocações feitas levam a reflexão acerca do acolhimento integral tido nas práticas coletivas para a saúde dos indivíduos e dos territórios. Percebe-se que, o processo formativo em "Agricultura Urbana e Agroecologia" teve o potencial de oferecer ao grupo bem-estar de diferentes maneiras. As práticas agroecológicas surgem como base para interações homem-território, homem-natureza, homem-homem, resgatando diferentes interpretações do mundo. O sentimento de exclusão e exploração, vivenciado por camadas sociais em situação de vulnerabilidade, nega a esses grupos oportunidades e direitos. Os princípios da agroecologia caminham na contramão desse fazer, prezando pela vida e sua origem múltipla, visando a integralidade de cuidados, saúde física e mental para o fortalecimento e autonomia.
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