Comunicação Oral

02/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO24.2 - Territórios de desigualdades: Iniquidades no acesso aos serviços de saúde

47792 - OS DENTES DA DESIGUALDADE: UM RETRATO DO USO DOS SERVIÇOS ODONTOLÓGICOS NO BRASIL
ANA KARINE MACEDO TEIXEIRA - UFC / FIOCRUZ, PAULO ROBERTO BORGES DE SOUZA JUNIOR - ICICT-FIOCRUZ


Apresentação/Introdução
As iniquidades em saúde são diferenças nas condições em saúde que são evitáveis, abusivas e injustas, e podem ser reduzidas por meio de políticas públicas efetivas. Apesar da melhora da saúde bucal nos últimos anos no Brasil, se observa uma melhora desigual entre os estratos sociais.
Estudos já demostram a presença de desigualdades no cuidado a saúde bucal, no acesso ao serviço odontológico, em comportamentos relacionados a saúde e nos indicadores de saúde bucal como a perda dentária (FAGUNDES ET AL, 2021, GALVÃO et al, 2022, BASTOS et al, 2019; CORASSA et al, 2022). Entretanto, poucos estudos realizaram essa análise em saúde bucal por meio de medidas complexas de desigualdade, no sentido de compreender a distância entre os estratos sociais em relação ao uso dos serviços odontológicos da população brasileira.


Objetivos
Avaliar a desigualdade no uso dos serviços odontológicos a partir da Pesquisa Nacional de Saúde na população adulta do Brasil.

Metodologia
Trata-se de um estudo transversal a partir de dados secundários da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019, que é um inquérito domiciliar conduzida pelo IBGE, representativo da população brasileira residente em domicílios particulares permanentes (STOPA, 2020). Para esse estudo considerou-se a população com 18 anos ou mais, totalizando 88.531 pessoas na amostra.
Foram utilizados três desfechos relacionadas com o uso dos serviços odontológicos: 1- Ter ido ao dentista pelo menos uma vez na vida, 2-Uso do serviço odontológico no último ano, 3-Uso do serviço odontológico para prevenção no último ano.
Como varáveis independentes utilizou-se o gênero, raça/cor, a renda per capita familiar (até 1 salário mínimo, entre >1-2 salários mínimos, > 2-3 salários mínimos, >3–5 salários mínimos, >5 salários mínimos) e a escolaridade (sem escolaridade, ensino fundamental incompleto, ensino fundamental completo, ensino médio incompleto, ensino médio completo e ensino superior incompleto ou mais).
Calculou-se a desigualdade no uso dos serviços odontológicos segundo a escolaridade e a renda per capita familiar por meio de medidas complexas de desigualdade: o índice absoluto de desigualdade (IAD) e o índice relativo de desigualdade (IRD).


Resultados e discussão
Observou-se que as mulheres consultaram mais o dentista no último ano (52,6%) e somente 1,2% das mulheres nunca foi ao dentista. Em relação a raça/cor, verificou-se que pretos e pardos utilizaram menos os serviços odontológicos. Enquanto 45% de pessoas pretas e pardas consultaram o dentista no último ano e 43,7% destes foram para realizar consulta preventiva, já os brancos apresentaram 54,5% e 51,7% respectivamente. Verificou-se ainda que 2,5% de pretos e pardos nunca foram ao dentista.
Ao analisar os índices de desigualdade observou-se que o grupo de maior escolaridade usou o serviço odontológico no último ano 2,1 vezes mais e 6 vezes mais para realizar prevenção odontológica quando comparado com o grupo de menor escolaridade.
Já o grupo de maior renda familiar usava 2,1 vezes mais o serviço odontológico e 4 vezes mais o serviço para prevenção odontológica no último ano quando comparado com o estrato mais vulnerável. Em relação a variável já ter ido ao dentista pelo menos uma vez na vida não se observou diferença entre os estratos sociais de renda e escolaridade.
Esse estudo revela a intensidade da diferença do uso dos serviços odontológicos entre os estratos sociais por meio da análise de medidas complexas de desigualdades. Demonstra que pessoas de melhor classe social apresentam maior chance de receber cuidados de saúde bucal frequentes e realizar consultas de prevenção odontológica.
A implantação da Política Nacional de Saúde Bucal, em 2004, representou um marco para a atenção em saúde bucal no Brasil, pois contribuiu para a melhoria do acesso aos serviços da população (BRASIL, 2004). Entretanto, mesmo com o direito ao acesso universal a saúde bucal no Brasil, ainda ocorrem iniquidades no acesso aos serviços, necessitando de uma reorientação da política para também reduzir as desigualdades no uso dos serviços.


Conclusões/Considerações finais
Este estudo revela que as iniquidades em saúde bucal na população brasileira persistem, necessitando desenvolver políticas públicas que reduzam as diferenças entre os grupos sociais. Melhorar a renda familiar e a escolaridade da população implica em melhor uso dos serviços odontológicos.