02/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO16.4 - Gênero, produção de saberes e Saúde Coletiva |
47997 - QUEM TEM MEDO DAS LGBTS? ANÁLISE DOS DESAFIOS PARA A FORMAÇÃO CONTINUADA SOBRE QUESTÕES DE GÊNERO E SEXUALIDADE NO CAMPO DA SAÚDE COLETIVA EM SÃO PAULO ALLAN GREICON MACEDO LIMA - UNIVERSIDADE DE OXFORD, ALEXANDER AUGUSTO RODRIGUES - PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA (PUC)
Apresentação/Introdução A formação inicial e continuada dos profissionais da saúde quanto às questões de gênero na saúde coletiva é fundamental para promover um atendimento inclusivo e de qualidade à população LGBTQIA+. No entanto, a realidade revela que essa formação ainda é escassa e inconsistente. Neste artigo, discutiremos seis motivos centrais que contribuem para essa situação, a partir de uma abordagem sistêmica do problema.
Objetivos Desta maneira, o objetivo deste trabalho visa esquematizar alguns dos desafios enfrentados na formação continuada de profissionais que atuam no campo da Saúde Coletiva, impactando na deslegitimação das vivências LGBTQIA+ e nas práticas de cuidado à essa população.
Metodologia Para isso, foi realizada uma busca de artigos e pesquisas relacionadas à temática e a análise de relatos de experiência de profissionais da saúde que atuam no SUS. Esse material foi descrito e esquematizado em seis principais motivos que contribuem para a escassez de espaços de formação em gênero e sexualidade para os profissionais da saúde:
Resultados e discussão 1) Questão sistêmica e estrutural da sociedade LGBTfóbica: Um dos principais obstáculos para a formação em questões de gênero na saúde coletiva é a existência de uma sociedade permeada pela LGBTfobia e pela falta de compreensão dos direitos e da diversidade das pessoas LGBTs como algo intrínseco e positivo na sociedade. Essa realidade dificulta a implementação de políticas inclusivas e o reconhecimento da importância da formação nessa área; 2) Falta de currículo adequado para discutir tais assuntos: A falta de conteúdos específicos e atualizados sobre diversidade sexual e de gênero nos programas educacionais impede uma compreensão aprofundada dessas temáticas, perpetuando a invisibilidade das vivências e necessidades da população LGBTQIA+; 3) Falta de formadores qualificados: A escassez de formadores capacitados é um obstáculo crucial. Profissionais com expertise em questões de gênero e competências pedagógicas são fundamentais para aproximar a formação dos profissionais de saúde às reais necessidades do sistema, promovendo uma política de educação permanente em saúde inclusiva e efetiva (BATISTA, GONÇALVES, 2011). 4) Falta de recursos físicos e estruturais: Os profissionais de saúde enfrentam uma carga de trabalho intensa, o que dificulta a participação em formações continuadas sobre questões de gênero. A falta de tempo regulamentado para essas atividades compromete o desenvolvimento e a implementação de programas de formação de qualidade; 5) Falta de incentivos institucionais para que os profissionais se qualifiquem, o que inclui avaliação do trabalho realizado com a população LGBTQIA+ e dados sobre orientação sexual e identidade de gênero nas ferramentas de saúde: A ausência de mecanismos formais de avaliação do trabalho realizado com a população LGBTQIA+ e a escassez de dados sobre orientação sexual nas ferramentas de saúde contribuem para a falta de estímulo e reconhecimento da importância dessas competências. A ausência de critérios de avaliação específicos dificulta a mensuração do impacto das ações desenvolvidas pelos profissionais e a valorização de seu engajamento na busca pela equidade de gênero e respeito à diversidade. 6) Falta de equipe e estrutura nos equipamentos de saúde e nos conselhos gestores que tenham conhecimento sobre orientação sexual e de gênero: A presença de profissionais capacitados para lidar com as especificidades da população LGBTQIA+ é fundamental para a promoção de um atendimento adequado e livre de preconceitos. Além disso, a ausência de uma estrutura organizacional sólida compromete a implementação de políticas e ações efetivas voltadas à saúde e ao bem-estar dessa população. É necessário investir na criação de equipes multidisciplinares que possam oferecer suporte integral e qualificado aos pacientes LGBTQIA+. Ao mesmo tempo, é fundamental fortalecer os conselhos gestores, assegurando que +sejam compostos por representantes com conhecimento aprofundado sobre diversidade de gênero e sexualidade para que possam desenvolver e implementar políticas e diretrizes alinhadas com as necessidades da população LGBTQIA+.
Conclusões/Considerações finais Superar os desafios apresentados exige ações integradas e uma abordagem sistêmica, que envolva a promoção de políticas inclusivas, a capacitação dos profissionais de saúde, a criação de espaços de discussão e formação continuada, bem como a valorização do trabalho realizado nessa área. Somente através de um compromisso coletivo em reconhecer e enfrentar obstáculos estruturais e institucionais será possível promover uma formação em questões de gênero na saúde coletiva que seja ampla, inclusiva e de alta qualidade, visando a promoção integral da saúde e o respeito à diversidade.
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