02/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO15.3 - Formação, Educação Permanente em Saúde e vivência acadêmica |
47323 - RELATO DE EXPERIÊNCIA: O ENCONTRO COM AS EXPERIÊNCIAS DA CORPOREIDADE TRANS NO AMBULATÓRIO TRANSSEXUAL E TRAVESTI EM NATAL/RN MARIA LUIZA DE SOUSA BELÉM - UFRN, ANA CAROLINA RIOS SIMONI - UFRN, JADER FERREIRA LEITE - UFRN, OSWALDO GOMES CORRÊA NEGRÃO - UFRN, NEUMA MARINHO DE QUEIROZ SANTOS DA COSTA CUNHA - UFRN, IRINA PEDROSA NEGREIROS - UNP
Contextualização Este relato de experiência foi composto a partir das atividades de estágio obrigatório do curso de Psicologia da UFRN e do PET-Saúde UFRN, realizado no âmbito do ambulatório transsexual e travesti da cidade de Natal/RN. Foi possível a participação em modalidades individuais e grupais de atendimento, essas com a participação de profissionais do serviço, supervisores/gestores do campo, usuárias/os/es e, por vezes, familiares dos/as/es mesmos/as/es. Essas atividades possibilitaram o desenvolvimento de uma escuta atravessada diretamente pelo tema da corporeidade, levantando reflexões acerca do como a escuta do corpo trans vem acontecendo nesses serviços. Essas reflexões eram levadas às supervisões coletivas de estágio onde foram debatidos temas de gênero e ética no cuidado em saúde mental. A prática em um serviço de saúde direcionado à população transsexual e travesti exige um resgate histórico acerca do modo como essa população acessa a saúde, visibilizando um posicionamento ético-político de busca e efetivação de direitos, tal como de implementação e acesso a políticas públicas em saúde.
Descrição O Ambulatório de Transexuais e Travestis, inaugurado em 2020, é um serviço da Secretaria Municipal de Saúde de Natal, especializado no atendimento à essa população. O serviço conta com uma equipe multiprofissional composta por médicos, enfermeiros, psicólogas e assistentes sociais. Os casos mais complexos, são referenciados para o cuidado na rede de atenção especializada de saúde.
As atividades contaram com a parceria da UFRN, por meio do programa do PET-Saúde e do estágio obrigatório do curso de psicologia, o que viabilizou a articulação ensino-serviço-comunidade que está na política de educação permanente em saúde do SUS, em prol de uma qualificação a atenção a saúde integral a populações historicamente vulnerabilizadas.
Período de Realização As atividades contempladas pelo relato de experiência em questão foram realizadas no primeiro semestre de 2023.
Objetivos O presente trabalho objetiva discutir como a corporeidade trans vem encontrando espaço nos serviços especializados a essa população, a partir da análise das experiências grupais nesses.
Resultados Foi possível desenvolver um manejo terapêutico em grupos, onde a palavra circulava, tensionando uma condução que tendesse a um enclausuramento da palavra na posição dos estudantes e profissionais do serviço. Esse manejo permitiu que as singularidades e as similaridades dos relatos aparecessem, de tal forma que a coesão entre os participantes aparecia tanto no espaço dos grupos, quanto fora dele. De maneira semelhante, nesse espaço de horizontalidade, eram estreitados vínculos entre os profissionais e os usuários/as/es, vínculos esses que visavam a um distanciamento de uma posição de tutela, dando lugar a uma gestão coletiva daquele espaço. Dessa forma, o trabalho a partir das grupalidades convocou ao redimensionamento das relações de saber/poder entre esses personagens.
Além disso, nas trocas a partir das bordas dos grupos, encaminhamentos também foram possíveis, reivindicando direitos como o direito à cirurgia de redesignação sexual pelo SUS. Sendo assim, o acesso ao serviço facilitou o reconhecimento dos direitos dos usuários/as/es enquanto permitia à discente o reconhecimento das dificuldades para tal.
Aprendizados As experiências no ambulatório possibilitaram um maior conhecimento acerca da rede e a política de saúde à população LGBTQIAPN+, abordando a corporeidade trans a partir de uma escuta qualificada e atenta às demandas, na tentativa de desarticular uma posição biomédica e patologizante do corpo “desviante”. Possibilitando um olhar sensível para as particularidades das vivências dos usuários/as/es, fazendo emergir as problemáticas que atravessam suas experiências, as possíveis relações construídas com o social e a realidade, pensando também, como se dá o acesso às políticas públicas, expondo a necessidade da articulação intersetorial, com outras políticas, para a efetivação da garantia de direitos.
Análise Crítica A vivência no serviço pôde servir de lente para perceber que muitas fragilidades existem no que diz respeito à construção de um currículo nos cursos do campo da saúde que contemple a temática da atenção integral à população LGBTQIAPN+. No que tange a isso, percebe-se a potencialidade de programas como o PET-Saúde, que permitem, por meio da educação pelo trabalho, que estudantes possam vivenciar o cotidiano dos serviços de forma implicada com o cuidado em saúde e a partir de uma experiência interprofissional.
As dúvidas que surgiam nos grupos e nas bordas dos mesmos, por vezes, gerando outros encaminhamentos, levantaram o questionamento acerca da forma pela qual a informação acerca dos direitos vem chegando a essa população e de que maneira a população trans vem conseguindo reivindicar por seus direitos.
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