45127 - DEBATENDO AGROTÓXICO, AMBIENTE E SAÚDE COM TRABALHADORES(AS): EXPERIÊNCIAS DE FORMAÇÃO COM MUNICÍPIOS DO INTERIOR DE MATO GROSSO PABLO CARDOZO ROCCON (PABLO CARDOZO ROCON) - UFMT, HAYA DEL BEL - UFMT, ALANE ANDRÉA SOUZA COSTA - UFMT, MÁRCIA LEOPOLDINA MONTANARI CORREA - UFMT, MAELISON SILVA NEVES - UFMT, MARIANA ROSA SOARES - UFMT
Contextualização O Brasil é conhecido como o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, sendo o estado do Mato Grosso o maior consumidor no Brasil. Oliveira et al (2018) e Fava et al (2023) pontuam que a exposição por agrotóxicos atinge de maneira imediata os(as) trabalhadores(as) que trabalham diretamente com esses produtos químicos. Pignati et al (2022), Neves e Pignati (2021), Costa et al (2021), Lara et al (2021) e Soares et al (2021) evidenciaram os efeitos negativos das intoxicações agudas e crônicas de maior relevância na saúde humana e ambiental: cânceres em adultos e infanto-juvenis, desregulações endócrinas, neurológicos, cognitivos, malformação fetal, adoecimento mental, suicídio, aborto espontâneo, evoluindo para danos irreversíveis a saúde e até o óbito.
Diante deste cenário, a realização das notificações das intoxicações agudas e crônicas por agrotóxicos, ainda que previstas em lei como obrigatórias no processo de trabalho em saúde, tem-se apresentado como desafio (LARA et al, 2021; PIGNATI et al, 2022). Pignati et al (2022) estimaram uma taxa de subnotificação de intoxicações por agrotóxicos de 1 caso notificado para cada 100 casos subnotificados em um município do Mato grosso. Neto et al (2014) evidenciaram a ausência de interesse político na realização de ações de vigilância de saúde em municípios relacionados à cadeia produtiva do agronegócio.
A partir deste cenário, o Núcleo de Estudos Ambientais e Saúde do Trabalhador tem executado o projeto de extensão e inovação tecnológica “Curso de Formação Básica em Agrotóxicos, Ambiente e Saúde” com municípios da região de saúde sul, no interior do Estado de Mato Grosso, dividido em três etapas. Neste resumo, compartilhamos a experiência de execução da primeira Etapa.
Descrição O curso foi executado pela oferta de três turmas com 30 vagas cada uma. O curso ofertado para cada turma teve duração de 7 semanas, com aulas síncronas pela plataforma zoom e atividades assíncronas pelo ambiente virtual de aprendizagem – AVA, da UFMT. Participaram do curso trabalhadores(as) da saúde (médicos, enfermeiros, agentes comunitários de saúde, agentes de controle de endemia, vigilância sanitária, ambiental, epidemiológica e saúde do trabalhador, Centro de Referência em Saúde do Trabalhador, etc), trabalhadores(as) do Ministério Público e Defensoria Pública.
O conteúdo programático compreendeu os temas: território e saúde, Contaminação ambiental, Saúde do Trabalhador, notificação de acidente de trabalho e exposição aos agrotóxicos, Vigilância em saúde e articulação com a atenção básica, Territórios saudáveis e sustentáveis. Foi realizado acordo de cooperação técnica com o município, e com o Ministério Público do Trabalho – MPT, para que os profissionais realizassem o curso em horário de trabalho.
Ao final, 90 trabalhadores(as) concluíram o curso e avaliaram positivamente a experiência de realização do curso em horário de trabalho mediado por tecnologia.
Período de Realização 01 de janeiro de 2022 a 17 de outubro de 2022.
Objetivos Capacitar agentes públicos e sociedade civil sobre as relações entre agrotóxicos, ambiente e saúde, visando qualificar ações básicas de promoção, proteção, vigilância e atenção à saúde de base territorial.
Resultados O curso possibilitou discussões sobre baixo número de registro de intoxicações e que soluções sejam elaboradas. Cursistas relataram que, a partir das aulas, começarem a: 1. identificar casos de contaminação aguda e crônica por agrotóxicos e sua relação com território, ambiente, uso de agrotóxico; 2. notificar contaminação por agrotóxico; 3. relacionar a contaminação por agrotóxico como acidente de trabalho e, com a aula, passaram a registrar a Comunicação de Acidente de Trabalho – CAT; 4. A considerar as atividades econômicas que acontecem no território com o processo de notificação dos agravos em saúde atendidos na atenção básica.
Aprendizados Como aprendizados ficam a experiência de levar a sala de aula ao cotidiano dos serviços de saúde, possibilitando a partilha de dúvidas/problemas e a produção coletiva de soluções e do conhecimento em meio ao processo de trabalho. Para tal feito: 1. o curso foi planejado a partir da realidade socioambiental do município; 2. inseriu os casos surgidos nos cotidianos dos atendimentos em sala para debate e auxílio no processo de notificação; 3. foram firmados acordos de cooperação a fim de tornando-o atrativo e parte da jornada de trabalho.
Análise Crítica O curso mediado por plataformas virtuais possibilitou realizar capacitações com profissionais de municípios distantes da capital, fortalecendo os processos de notificação e a integração entre atenção e vigilância em saúde. Todavia, ainda permanecem os desafios políticos de convencimento dos(as) trabalhadores(as), especialmente da saúde a realizarem este curso de formação, na medida em que abordar a temática agrotóxicos no território do agronegócio parece os (as) afastar trabalhadores(as) por motivos diversos.
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