Comunicação Oral Curta

02/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC8.1 - Cuidado, trabalho, diferenças e intersecções em perspectiva

47332 - DEFICIÊNCIA E EMANCIPAÇÃO: UMA PRÁTICA EXTENSIONISTA ORIENTADA POR UMA PERSPECTIVA CRÍTICA E DECOLONIAL
ADRIANA MIRANDA PIMENTEL - UFBA, FERNANDA REIS - UFBA, ALEXANDRE SOUSA - UFBA, JULIANO MATOS - UFBA, ESTELA ROZENO DOS SANTOS - UFBA


Contextualização
Este trabalho refere-se a um relato de experiência de uma Atividade Curricular em Comunidade e Sociedade (ACCS) intitulada Deficiência e Emancipação: experiências e participação, ofertado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Trata-se de um componente curricular com caráter extensionista, orientado por uma perspectiva crítica e decolonial, provocado pela análise de que existem crises tanto do ponto de vista do saber-fazer, quanto do poder sobre as pessoas com deficiência. Há movimentos de mudança ao longo dos últimos séculos; saímos, mas não totalmente, de uma lógica da tragédia pessoal para a lógica dos direitos humanos, particularmente do ponto de vista legal e do discurso, porém com práticas e ações que de fato não modificaram substantivamente as condições de existência destas pessoas. Há um discurso sobre a ‘participação social’ das pessoas com deficiência, porém acompanhado de uma perspectiva da correção e da normalização dos corpos para a execução do movimento e para a obtenção de comportamentos ajustados, mas distanciada da criação e ampliação dos espaços de participação.

Descrição
Esta ACCS é ofertada para estudantes de diferentes cursos de graduação da UFBA e do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Reabilitação (PPGREAB), acontece uma vez por semana, e é desenvolvida no bairro do Garcia, em Salvador - BA, em parceria com a Unidade de Saúde da Família, Escola Municipal e Estadual, além de membros da comunidade. O bairro é localizado na região central da cidade e possui relevância histórica e cultural. Segundo dados do IBGE, em 2010, a maior parte da sua população se autodeclarava parda (45,16%) e preta (27,67%), do sexo feminino (56,07%), se encontrava na faixa etária entre 20 e 49 anos (50,85%) e possuía renda de 1 a 3 salários-mínimos (31,7%).


Período de Realização
2022.2 e 2023.1.

Objetivos
A atividade visa criação de espaços sociais que promovam a participação social, organização comunitária, diálogo de saberes e produção de práticas e experiências entre pessoas com e sem deficiência, e outras populações em situação de vulnerabilidade, com diferentes grupos e instituições da cidade de Salvador.


Resultados
Ao longo da ACCS, são realizadas ações junto às/aos estudantes com a finalidade de: i) conhecer o material acadêmico e documental produzido sobre o bairro e entorno, especialmente para atualizar um mapeamento de instituições, espaços e atividades que poderiam ser utilizados; ii) facilitar o acesso e uso destes espaços para a realização de práticas sociais; iii) produzir atividades artístico-culturais, educativas e sociais, envolvendo jovens e adultos com e sem deficiência; iv) articular grupos e manifestações culturais do bairro com outros fóruns, redes e organizações da cidade; v) integrar o bairro com a comunidade acadêmica, particularmente estudantes da UFBA; vi) promover ações que viabilizem o ingresso de pessoas com deficiência à Universidade. Desde 2022, algumas ações ocorreram, tais como oficinas com crianças com deficiência e mães/cuidadoras em um escola de ensino fundamental; visitas guiadas à Universidade com jovens com e sem deficiência que estão cursando o ensino médio; um vídeo documentário com uma artesã com deficiência, primeiro de uma série que temos interesse em realizar sobre histórias de vida de pessoas com deficiência do bairro; um mapeamento de pessoas com deficiência do bairro; e um vlog sobre a ACCS.


Aprendizados
As atividades desenvolvidas na ACCS têm possibilitado a aproximação dos estudantes da temática da deficiência em uma perspectiva crítica de estudo e de produção social, diferente daquela comumente explorada na formação em saúde e no campo da educação, a qual orienta-se para um modelo predominantemente biomédico, sendo a deficiência compreendida como um problema a ser tratado por especialistas da reabilitação. A construção compartilhada de oportunidades para pessoas com deficiência do bairro, invisibilizadas e geralmente confinadas ao ambiente doméstico, tem estimulado a problematização sobre a situação de vida e saúde das pessoas com deficiência, sobre a participação social deste grupo em diferentes contextos no chamado Sul Global, além dos limites da reabilitação no contexto brasileiro e baiano.


Análise Crítica
Por fim, ressaltamos que se faz urgente construir ações orientadas por perspectivas teóricas e metodológicas que envolvam a pluralidade dos sujeitos com deficiência e todo o entorno no qual vivem e realizam coisas. Da mesma forma, é necessário refletir e promover uma formação no ensino superior voltada para uma prática libertadora, descolonizadora, e que envolva pessoas com deficiência em um processo dialógico e intercultural. Metodologias colaborativas e não extrativistas de pesquisa e intervenção comunitária e territorial devem ser referências para estas práticas.