02/11/2023 - 08:30 - 10:00 COC7.1 - Das Periferias ao Centro saberes em movimento |
46733 - “A MINHA ESCRITA É CONTAMINADA PELA MINHA CONDIÇÃO DE MULHER NEGRA”: A UTILIZAÇÃO DE ESCREVIVÊNCIAS COMO UMA METODOLOGIA POSSÍVEL FABIANA ALBINO FRAGA - FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA SANTA CASA DE SÃO PAULO, MARIA AMÉLIA DE SOUSA MASCENA VERAS - FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA SANTA CASA DE SÃO PAULO, DANIELLE BIVANCO DE LIMA - FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA SANTA CASA DE SÃO PAULO
Contextualização Considerando que a maioria dos programas de pós-graduação em saúde coletiva adotam uma padronização de teses e dissertações seguindo o modelo IMRaD (Introdução, Materiais ou Métodos, Resultados e Discussão), que parte se apoia em livros como o de Umberto Eco (2012) que têm por missão ensinar a construir uma tese; busco a diversidade de escrita acadêmica/científica para que eu possa me aproximar das que escrevem junto comigo a partir do resgate de formas de escrita que em algum momento foram apagadas. De Carolina Maria de Jesus (2018) em “Quarto de Despejo” a Maya Angelou (2018) em “Eu sei por que o pássaro canta na gaiola” há um misto de dom e intuição que une mundos diferentes, poesia e autoetnografia, enquanto denunciam os abismos sociais jamais abordados com tanta propriedade por teóricos na academia.
Descrição Utilizarei como ponto de partida observações e anotações realizadas em um diário pessoal, construído durante os meses em que atuei como supervisora de campo em uma pesquisa realizada no NUDHES (Núcleo de Pesquisa em Saúde e Direitos Humanos da População LGBT+). Assim, me aproximo do conceito elaborado por Conceição Evaristo (2020) cuja proposta é a cumplicidade entre o ato da escrita, os saberes e vivências das narradoras, ao passo que as histórias dos outros e outras pertencem à sua coletividade. Impulsionada pelos saberes de mulheres negras como Conceição Evaristo (2007) e seu conceito - aqui entendido como a escrita das vivências e percepções- utilizei referenciais que partem de uma visão contra hegemônica de emancipação com vistas à diversidade de escrita e diversas formas de fazer ciência.
A aproximação com o núcleo de pesquisa permitiu a interação com mulheres trans e travestis que atuam na pesquisa, conhecendo a diversidade dentro de um mesmo grupo pessoas. Os encontros para supervisão eram semanais, realizados com a mediação da plataforma “meet”. Das quatro navegadoras: uma era branca, duas eram negras e uma afro-indígena. A com o estabelecimento de vínculo houve o compartilhamento de vivências que tinham como ponto de partida a cor da pele; a partir de então, pude observar que o fato de ser uma mulher negra me aproximava daquelas mulheres e, organicamente construímos um lugar para escuta e escrevivências, onde as minhas histórias misturavam-se às delas.
Período de Realização A presente escrevivência foi realizada a partir de anotações pessoais registradas no período de abril a dezembro de 2022.
Objetivos A presente escrevivência teve como objetivo reafirmar novas possibilidades de aprendizados e escritas. A fim de dar corpo a discussão sobre a multiplicidade de saberes e a urgência na descolonização saúde em vistas à equidade e retornos para a comunidade.
Resultados Antes de qualquer metodologia a ser recriada ou resgatada, faço parte de um corpo que é múltiplo e carrega saberes advindos dos lugares por onde passei. Vivenciar as encruzilhadas desses lugares e os desafios para um trabalho acadêmico, pouco explorado na academia, principalmente na saúde, carrega cansaço, nó na garganta, afetos, acolhimentos, inquietações, desânimos e outros componentes que juntos me trouxeram até aqui para que essa escrita fosse possível e sem amarras.
Acreditamos que transitar por diferentes territórios do saber, implica em conhecer o saber que cada pessoa carrega, exigindo a compreensão de que nada aqui será linear, que sujeitos e sujeitas são singulares mesmo que pertençam a um mesmo lugar social.
Aprendizados O intuito dessa escrita é, também, pensar os encadeamentos em relação às disputas epistêmicas- organizadas por diversas feministas negras defensoras da descolonização e contrárias às estruturas de poder- e a colonização da produção acadêmica. Refere-se à localização dos saberes descolonizados e sua agenda, bem como, resistir aos modelos epistemológicos em saúde que perpetuam uma lógica que hierarquiza a produção de conhecimento
Análise Crítica Reitera-se a relevância de relatar os processos presentes na produção de conhecimento e os contextos que os impulsionaram, a fim de afastar paradigmas epistemológicos hegemônicos. O distanciamento em relação às produções de conhecimentos privilegiadas convida a pensar os processos contra hegemônicos e a validação da produção de epistemologias subalternizadas.
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