Comunicação Oral Curta

02/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC33.3 - Política de ST / VISAT e Precarização do Trabalho III

48227 - SAÚDE MENTAL E TRABALHO NA INDÚSTRIA DE PETRÓLEO E GÁS NO RIO DE JANEIRO
LUCIANA GOMES - FIOCRUZ, MARIANA D’ACRI SOARES - FIOCRUZ, PRISCILA JERONIMO DA SILVA RODRIGUES VIDAL - FIOCRUZ, NATHÁLIA MATOSO DE VASCONCELOS - FIOCRUZ, MARIA DAS GRAÇAS ALCANTARA DA COSTA ROCHA - SINDIPETRO-NF, ELAINE CRISTINA VIEIRA DE MAGALHÃES - UERJ, ELIANA GUIMARÃES FÉLIX - FIOCRUZ


Apresentação/Introdução
A indústria petroleira tem sido afetada diretamente pelo avanço do capitalismo neoliberal, representado pelo aumento da flexibilização, terceirização, privatização e perdas importantes de direitos sociais, trabalhistas e previdenciários. Desenha-se assim um cenário de incerteza, insegurança e instabilidade que ampliam as desigualdades sociais e coloca os trabalhadores numa condição de maior vulnerabilidade, situação outrossim atravessada por questões de gênero/sexualidade e raça/etnia. Todas essas mudanças interferem na relação entre a saúde e o trabalho, na medida que impactam nas condições de vida e trabalho dos trabalhadores, assim como criam um clima permanente de tensão. A expressão disso é visível através do aumento significativo nos relatos dos trabalhadores – reportados pelo sindicato – sobre as diversas formas de sofrimento (psíquico, psicossomático e casos de suicídio – enquanto resposta(s) diante do mal-estar entre os trabalhadores e que se estende também para as suas famílias. Somam-se a isso, os impactos da pandemia de COVID-19 sobre uma indústria de atividade essencial, na qual os trabalhadores foram obrigados a conviver com extensos períodos de quarentena pré-embarque, aumento da escala de dias de trabalho, contaminações em ambientes confinados, isolamento e medo.

Objetivos
O estudo analisou, sob o ponto de vista da atividade, a relação entre o trabalho e a saúde mental dos trabalhadores e trabalhadoras na indústria de petróleo e gás no estado do Rio de Janeiro, considerando a complexidade e a singularidade dessa relação.

Metodologia
Para melhor compreender essa relação tomou-se como referenciais o campo da Saúde do Trabalhador e contribuições teóricas e metodológicas das clínicas do trabalho, em especial da ergologia e da psicodinâmica do trabalho. A pesquisa envolveu as seguintes etapas até o momento: criação de uma comunidade ampliada de pesquisa, composta por pesquisadores, dirigentes sindicais, sindicalistas e petroleiros e grupos de encontros sobre o trabalho, envolvendo um grupo de 15 petroleiras e petroleiras e tendo como finalidade colocar a atividade em debate, valorizando a circulação de saberes e as trocas.

Resultados e discussão
A categoria petroleira é bastante diversificada, compreende locais de trabalho como refinarias, plataformas, prédios administrativos, centros de pesquisa, navios, terminais
A indústria de petróleo e gás é uma indústria de fluxo contínuo, com uma enorme diversidade nos processos de trabalho que acontecem em plataformas em alto mar, refinarias, navios petroleiros, unidades de transferência e estocagem (ilha), unidades administrativas e centros de pesquisa, envolvendo uma série de profissionais de diversas áreas e com diferentes níveis de formação. Contudo, destacaram-se nas falas muitas similaridades em relação à organização do trabalho e às transformações na natureza do trabalho. Sobressaem questões referentes à: terceirização; precarização; intensificação do trabalho; formas de violência, como abuso de poder, assédio moral, assédio sexual, etarismo, violência de gênero e racismo.Desenha-se assim um ambiente hostil marcado por diversas formas de opressão e dominação, que valoriza a competitividade, o individualismo e enfraquece a dimensão coletiva do trabalho, a solidariedade, a cooperação e consequentemente a construção do sentido do trabalho como algo com potência para produzir saúde, prazer, satisfação. Iniciativas pontuais como participação no sindicato, em CIPAS, em grupos de trabalho que fazem o enfrentamento dessas temáticas tem se mostrado alternativas potentes para o fortalecimento da dimensão social e coletiva do trabalho e da luta pela saúde.


Conclusões/Considerações finais
A categoria petroleira vem sofrendo fortes pressões por parte da indústria no sentido de desmobilizar e enfraquecer todas as suas lutas coletivas e reinvindicações. Nesse sentido, diante de um cenário tão cerceado pela empresa, consideramos que torna-se de extrema importância o movimento que os sindicatos tem feito para construir espaços coletivos de discussão, de fortalecimento do coletivo, de construção de conhecimento em torno das discussões sobre saúde e trabalho.