02/11/2023 - 08:30 - 10:00 COC33.3 - Política de ST / VISAT e Precarização do Trabalho III |
47548 - TRABALHO, GÊNERO E TRAJETÓRIAS DE INCAPACITAÇÃO ENTRE TRABALHADORES/AS DA INDÚSTRIA AUTOMOTIVA DA BAHIA JORGE HENRIQUE SANTOS SALDANHA - UFBA, JORGE ALBERTO BERNSTEIN IRIART - UFBA, MONICA ANGELIM GOMES DE LIMA
Apresentação/Introdução Em condições adversas, o trabalho pode gerar adoecimento e graves consequências, dentre elas a incapacidade para o trabalho. Incapacidade para o trabalho pode ser definida como a situação em que um trabalhador não é capaz de se manter ou retornar ao trabalho por causa de uma lesão ou doença. Vários são os determinantes que podem influenciar o processo de afastamento e retorno ao trabalho.
Objetivos Este estudo buscou compreender, sob uma perspectiva de gênero, as experiências e as trajetórias de incapacitação para o trabalho de trabalhadores e trabalhadoras da indústria automotiva.
Metodologia Essa é uma pesquisa qualitativa, desenhada na perspectiva de um Estudo de Caso Ampliado. A produção de dados contou com análise documental e de bancos de dados públicos de interesse; e um trabalho de campo etnográfico, que envolveu observação participante, entrevistas com homens e mulheres trabalhadores da indústria automotiva da região metropolitana de Salvador que vivenciaram experiências de incapacitação para o trabalho, bem como entrevistas com agentes interessados sobre o problema do adoecimento relacionado ao trabalho e da incapacidade para o trabalho na indústria automotiva; A análise dos dados apoiou-se na perspectiva teórica da ciência reflexiva de Burawoy e da sociologia reflexiva de Bourdieu. Os resultados da pesquisa foram apresentados anteriormente em formato de Tese em Saúde Pública.
Resultados e discussão O presente resumo apresenta os achados sobre as trajetórias de entrada na fábrica, a incorporação de disposições para o trabalho na indústria metalúrgica, o processo de se constituir como parte de uma classe em construção e as estratégias de permanência no trabalho. Os resultados aqui apresentados buscam explicar como o Gênero, ou as relações sociais de sexo, medeiam esses processos; como diferenças e desigualdades de gênero se expressam no trabalho da indústria automotiva e suas consequências principalmente para as trabalhadoras deste setor; Identificamos que as trajetórias de entrada na fábrica representa um processo de ascensão dessa nova classe (a classe dos operários da indústria automotiva) em relação a sua origem social, mas que homens e mulheres entram na fábrica com motivações diferentes e fortemente marcadas pelos papéis sociais de gênero dominantes, que estão articulados com a divisão social e sexual do trabalho. A entrada em cena dessa nova classe é marcada por dois processos estruturantes do trabalho na indústria, que aqui nomeio de “Uma fábrica nervosa” e “O mundo dos homens”, que indicam dois processos que marcam a organização do trabalho na indústria automotiva: Forte intensificação e uso dos corpos no trabalho e ambiente de trabalho pensado por e para homens, que cria um padrão generificado (a partir da perspectiva masculina) do que deve ser o operário padrão. Encontramos um duplo padrão de inserção das mulheres nesse espaço produtivo, marcado por segregação e hierarquização, que se combinavam mesmo num contexto onde evidenciamos a Mixidade/Mixité no trabalho. A organização do trabalho na fábrica requer a incorporação de disposições úteis para o trabalho, trazendo não só a constituição de uma nova classe, mas também parecem elucidar a ruptura com a trajetória de ascensão de agentes sociais dessa classe, daqueles que vão experimentar no futuro a incapacidade para o trabalho. As disposições necessárias para as práticas de trabalho e socialização desse grupo são as mesmas que o campo da saúde do trabalhador já descreve como fatores ou situações de risco no surgimento de doenças e agravos relacionados ao trabalho. Dessa forma, é possível identificar que o adoecimento não é um evento adverso do trabalho industrial da indústria automotiva, ele é produto da organização social do trabalho na indústria, é parte indissociável desse modelo produtivo. Para as mulheres, a incorporação e manutenção dessas disposições para o trabalho é ainda mais difícil, dado que essas disposições estão fortemente marcadas por padrões sociais masculinos. O adoecimento das mulheres na indústria automotiva é, portanto, algo já esperado por esse setor, pois a organização do trabalho não leva em consideração a variabilidade das trabalhadoras quando organiza o processo produtivo.
Conclusões/Considerações finais Os resultados sistematizados nesse estudo evidenciam que Gênero é uma importante categoria a ser levada em consideração para a compreensão dos processos de incapacidade para o trabalho, pois as relações de gênero medeiam as trajetórias de trabalhadores/as desde o processo de entrada na fábrica, incorporação de disposições para o trabalho, manutenção dos postos de trabalho e ascensão profissional, bem como nas trajetórias de ruptura com o trabalho devido ao adoecimento. A incorporação das teorias de gênero, mais especificamente da teoria da divisão social e sexual do trabalho permite elucidar as diferenças de gênero e as iniquidades existentes nos processos de produção da saúde-doenças dos trabalhadores e trabalhadoras.
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