Comunicação Oral Curta

02/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC33.3 - Política de ST / VISAT e Precarização do Trabalho III

46508 - SAÚDE DO TRABALHADOR E DECOLONIALIDADE: PARA REPENSAR OS SERVIÇOS DO SUS.
ROBERTA LOPES VARJÃO VILLELA O. FIGUEIREDO - UFBA-PPGSAT, ANA ANGÉLICA MARTINS DA TRINDADE - UFBA-PPGSAT


Contextualização
O trabalho passa por mudanças estruturais, organizacionais e de representação. Trabalhadores podem considerá-lo, flexibilizado, sem danos para a saúde, ou, adoecedor, inseguro, opressor, são horistas, uberizados, pejotizados, trabalhadores de plataformas, que vivenciam uma sensação de falsa liberdade e valorização da humanidade. Para Quijano (2000) a classificação social racial trazida pela colonialidade para a América Latina leva a dominação pelo controle do trabalho e da intersubjetividade de trabalhadores. No Brasil, autores como Antunes (2006) e Antônio Barreto (2023) destacam a precarização em todos os setores e formas de trabalho: mulheres negras trabalhadoras da saúde, em 2019, recebiam 60% do valor da remuneração dos homens não negros. Esse contexto, distancia trabalhadores das possibilidades de cuidado com sua própria vida e segurança no trabalho, invisibilizando a determinação social da saúde cujo trabalho é central para o adoecer. Apesar da saúde do trabalhador (a) brasileiro (a) ser direcionada para uma ampla rede e ser parte da atenção básica, ainda existem barreiras para integralidade. Nos serviços da atenção básica, preocupações e ações direcionadas à organização, condições e processos de trabalho ainda permanecem distantes do contexto real.

Descrição
Trata-se de um relato de experiência a partir do estudo da literatura e de narrativas em saúde, capazes de oportunizar um desvelar de realidades, o acesso a memórias e a interseccionalidade de acontecimentos, em uma construção de uma rede discursiva, que direciona à comunicação dialógica. Revelou ainda o lugar social de narradores como trabalhadores, externos às dimensões como a determinação, preconceito, discriminação silenciados por uma sociedade que nega a existência do (não) lugar-lugar, trazendo evidencias para a necessidade de uma atenção em saúde focada na integralidade pelo cuidado. O estudo é qualitativo, permitindo esse relato integrando as narrativas em saúde e o entendimento da decolonialidade. Analisou-se as narrativas de usuário da atenção básica, considerando a interseccionalidade classe, gênero e cor, o que permite evidenciar o (não) lugar-lugar na vivência da colonialidade pelo processo de trabalho. A narrativa como referencial metodológico considerou que o corpo é o lugar da memória, aludindo situações de opressão, marcadas pela fronteira raça, gênero e classe e que as práticas sociais em saúde são colonizadas em poder e saber dominante.

Período de Realização
As escutas registradas em diário eram interligadas ao referencial teórico da disciplina, tendo como elo estruturante a potência crítica da colonialidade do poder, ferramenta para compreensão de contextos da saúde, a partir da narração de usuário da atenção básica de saúde em Serrinha-Bahia-Brasil de março a maio de 2023, cujo eixo foi o trabalho da mulher operadora de máquina de fabricação de produtos de limpeza e higiene. Os princípios éticos foram respeitados, contemplando o consentimento do participante e a garantia do anonimato.

Objetivos
Assim, objetiva-se entender de forma crítica e com base em estudos decoloniais, as relações entre saúde e trabalho, considerando a experiência de participação em um componente curricular da formação em saúde que une a Universidade Federal da Bahia (UFBA) e a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Resultados
Evidencia-se o trabalho como elemento central para o acesso aos serviços de saúde. O direito à saúde é negado pela determinação da linha de produção. Narrativas revelam que famílias têm o Sistema Único de Saúde como única forma de cuidado e esse fica distante pois, o trabalho as impede. Filhos são reclusos aos domicílios devido ao trabalho dos pais. Resolvem seus problemas por si, irmão ajuda irmão e o problema de visão que fez uma das crianças repetir dois anos na escola não foi percebido pela escola, o município pactua o Programa Nacional de Saúde na Escola, e nem pela família que quando chega do trabalho, a criança dorme. O trabalho, apesar de ser dito flexível, não oportuniza à mãe viver o aprendizado dos filhos, apropriando-se do corpo como o “dever ser” do capital neoliberal e na flexibilidade como democrática tem-se a vivencia da autoritária legislação antitrabalho. Ser negro coloca a família em um lugar a margem, o lugar dos seus filhos é trancado em casa, mesmo sem reboco, foi o trabalho que deu, definindo o homo economicus. O mundo lá fora não te conhece e os cadeados do portão da casa é a segurança para não sentir a indiferença no olhar de vizinhos. A vida só reconhece quem trabalha. Mas, a fé move e glorificando a Deus e a uma empresa que trabalha em “Cristo” a família pode sobreviver, reflexões sobre a relação entre trabalho e religião emergem com mais intensidade.

Aprendizados
Os estudos decoloniais possibilitam ampliar a formação em saúde para um cuidado no SUS, com foco na integralidade e na criticidade.

Análise Crítica
Parcerias institucionais viabilizam troca de saberes, experiências e práticas, além de ampliar o processo de formação em uma aprendizagem com base na cooperação.