Comunicação Oral Curta

02/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC33.2 - Política de ST / VISAT e Precarização do Trabalho II

46860 - METAMORFOSES DO TRABALHO DE ENFERMAGEM E O AVANÇO DA IDEOLOGIA DO EMPREENDEDORISMO
MANOELA DE CARVALHO - UNESP (UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA, TALITA GOMES XAVIER DOS SANTOS - UNESP (UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA, JOICE VITÓRIA DE OLIVEIRA PALMA - UNESP (UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA


Apresentação/Introdução
Introdução
Diversas publicações em periódicos da enfermagem têm manifestado uma adesão acrítica à ideologia do empreendedorismo nesta profissão. Relacionam o suposto espírito empreendedor do profissional de enfermagem com valores há tempos difundidos na formação como liderança, iniciativa, pró-atividade, criatividade, autonomia e responsabilidade (Copelli; Erdmann; Santos, 2019). Entretanto, não é novo o discurso acerca do sujeito empreendedor enquanto indivíduo responsável pela conservação e reprodução do modelo capitalista de sociabilidade, assumindo como suas as metas do capital.
Contraditoriamente, a enfermagem não se dá conta de que essa manobra ideológica do próprio sistema capitalista, cumpre seu papel de alienar o trabalhador desempregado ou subempregado desta sua condição, para se enxergar, de forma distorcida, como um empresário em busca de seu lugar ao sol. Assim, ao contrário da propalada autonomia, este trabalhador está cada vez mais distante de sua emancipação humana (Costa, Barros, Carvalho, 2011).


Objetivos
Objetivo
Propõe-se construir um contraponto crítico a esta incorporação crescente da noção de empreendedorismo na enfermagem, assumindo que a linguagem não é neutra e que tais argumentos ideológicos, ao naturalizar fenômenos históricos, ocultam suas consequências nefastas ao próprio trabalhador da enfermagem.

Metodologia
Metodologia
Revisão narrativa apoiada em literatura sobre o tema do empreendedorismo e o trabalho de enfermagem, disponível na base de dados da biblioteca virtual da saúde (bvs).

Resultados e discussão
Resultados
O trabalho em saúde, de maneira geral, é reconhecido como uma atividade insalubre para os que nele trabalham. As difíceis condições de trabalho e de vida podem estar relacionadas com o desgaste físico e mental, adoecimento e acidentes, frequentemente a insatisfação e a intenção de abandonar a profissão (Bardaquim et al., 2019). Apesar disso, o aumento do desemprego e a precarização dos vínculos de trabalho têm deixado desprotegidos(as) milhares de trabalhadores(as) de enfermagem. O subemprego e as más condições de trabalho afetam quem continua no mercado e, também, impulsionam o abandono da profissão devido aos salários as demais condições de trabalho (Buchan et al.,2018).
Nesse contexto, nos cursos de enfermagem, o discurso do empreendedorismo tem se veiculado em disciplinas da graduação e pós-graduação (Backes et al. 2022; Copelli et al., 2022), em pesquisas com estudantes com questionários elaborados pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) (Joffre et al., 2021), e por meio da instalação das tais “empresas júniores” (Trotte et al., 2021). Essas empresas são associações “sem fins lucrativos” comandadas e criadas por alunos da graduação, que possuem regulamentação e tem como objetivo “a prática educativa, a realização de projetos organizados pelos graduandos e promoção de serviços de cuidado à população (Trotte et al., 2021).
O discurso ideológico do empreendedorismo ganha força, como solução para problemas sociais, em conexão à precarização dos vínculos trabalhistas e à intensificação no trabalho nas organizações laborais, à desregulamentação e afrouxamento da proteção social e a perda de direitos, assentados na lógica ultraneoliberal. Ingenuamente, alega-se que o empreendedor não está sujeito à lógica da exploração do trabalho e os ganhos financeiros serão maiores (Pereira; Martins, 2023).


Conclusões/Considerações finais
Considerações finais
Há uma subordinação acrítica entre a atual configuração do mundo do trabalho em saúde e a formação em enfermagem, pois, frequentemente, o que é valorizado sobre a organização e processo de trabalho de enfermagem, como é o caso das adaptações e as improvisações de materiais e equipamentos realizadas no contexto assistencial, visam assegurar o cuidado ao paciente em meio às precárias condições de trabalho que, frequentemente, impõe uma escassez qualitativa e quantitativa de materiais para a prestação do cuidado.
Não é por acaso que este discurso venha despontando após a adoção do modelo de reestruturação produtiva dito flexível, pelo setor saúde, bastante visível no contexto da pandemia de Covid-19. Uma das lições aprendidas com a pandemia é a de que o setor saúde não está imune à lógica mercantil, pois, a adoção de estratégias flexíveis de contratação de leitos e força de trabalho apenas no momento de maior demanda foi e permanece um importante determinante para o acesso desigual à saúde e, em tantos casos, letal para muitos(as) brasileiros(as), incluindo os(as) trabalhadores(as) de saúde, especialmente de enfermagem.