02/11/2023 - 08:30 - 10:00 COC32.3 - Desafios na RAPS |
47406 - ARTICULAÇÃO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE E ATENÇÃO ESPECIALIZADA EM SAÚDE MENTAL NA PANDEMIA DE COVID-19: DESAFIOS NA REDE DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL EM FORTALEZA, CEARÁ AMANDA PINHEIRO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC, FRANCISCA ELIZABETH CRISTINA ARAUJO BEZERRA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC, CARLOS EDUARDO MENEZES AMARAL - UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO - UNIVASF, CARMEM EMMANUELY LEITÃO ARAÚJO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC
Apresentação/Introdução As Redes de Atenção Psicossocial (RAPS) exigem articulação entre diferentes pontos de atenção à saúde para garantir cuidado integral, contínuo e coordenado às pessoas com transtornos mentais e/ou sofrimentos psíquicos. Avançar nesta perspectiva tornou-se um desafio alargado na pandemia de COVID-19. Não somente porque o novo contexto impacta na saúde mental da população, mas também por ter exigido a reorganização dos serviços e das redes de saúde para o enfrentamento de impactos da pandemia.
Objetivos O objetivo da pesquisa foi compreender a articulação da Atenção Primária à Saúde(APS) e Atenção Especializada (AE) para prover atenção às necessidades de saúde mental no contexto da pandemia de COVID-19 em Fortaleza-CE.
Metodologia Realizou-se uma pesquisa qualitativa ancorada na abordagem hermenêutica-dialética. Foram entrevistados 19 profissionais de duas Unidades de Atenção Primária à Saúde(UAPS) e um Centro de Atenção Psicossocial tipo II(CAPS Geral) de uma região de saúde do município de Fortaleza. Todos os sujeitos da pesquisa atuaram no contexto de emergência sanitária decorrente da pandemia de COVID-19, entre março de 2020 a março de 2022.
Resultados e discussão Os resultados apontaram uma desarticulação entre os serviços, com agravamento da fragmentação da rede, indicando uma focalização quase exclusiva no atendimento assistencial individual, com suspensão de atividades comunitárias no território. Enquanto as UAPS foram direcionadas para as demandas urgentes, relacionadas à COVID-19, de modo a reduzir ações já frágeis de promoção e de prevenção da saúde mental, os CAPS passaram a atender casos leves de saúde mental, de modo a absorver a demanda da APS. Nos dois tipos de serviços analisados predominaram intervenções individuais com preocupações em garantir medicamentos para os usuários. Observou-se que medidas para o enfrentamento da pandemia, como o distanciamento social e atendimento dos casos suspeitos de COVID-19, implicaram na redução de atividades e ações habituais nos serviços, de modo a incidir no afastamento e interrupção do acompanhamento de pessoas com demandas de saúde mental, por conseguinte no agravamento nas condições de saúde. Neste contexto, embora o matriciamento seja entendido como relevante para trocas entre atores da rede, tal atividade não foi mantida durante a pandemia, tendo apresentado dificuldades em ser assegurado, apesar dos esforços para retomar a prática a partir de 2022. Para os participantes da pesquisa, a articulação entre os serviços foi possível apenas pela comunicação estabelecida entre gestores das unidades, quando necessário, e por meio do compartilhamento de informações do usuário via prontuário eletrônico, sem grandes possibilidades de estabelecimento de vínculos e ações compartilhadas entre profissionais de diferentes serviços. Ao se perceber a descaracterização e desequilíbrio nas funções dos dispositivos na rede, os participantes da pesquisa indicaram a necessidade de redefinição do fluxo de saúde mental entre os serviços, contratação de mais profissionais para os CAPS e retomada de comunicação entre os serviços que compõem a RAPS. Discute-se que as dimensões de conectividade (relação entre serviços) e integração (continuidade e complementaridade das intervenções de saúde) são relevantes na avaliação de funcionamento e articulação de redes de saúde. Porém, as respostas conferidas à pandemia parecem ter seguido um movimento de ambulatorização nos dispositivos territoriais, seja por redução da capacidade ou pelo risco de transmissão do vírus. Tal reconfiguração das práticas parece indicar que o reconhecimento e definição da oferta de serviços “essenciais” traduziu-se no retorno/reforço às práticas ancoradas no modelo biomédico, expondo novos desafios na sustentação do paradigma Psicossocial enquanto orientador dos serviços pesquisados. Tal premissa, em uma “emergência coletiva” parece refletir uma estratégia similar quando ocorrem as “emergências individuais” de sujeitos em crise, servindo portanto como um analisador que extrapola a temporalidade da emergência sanitária pandêmica e se inscreve nas dificuldades contínuas enfrentadas na Atenção à Saúde Mental. Quando a pandemia se iniciou, já havia uma situação preocupante para as RAPS, como a deficiência estrutural de serviços comunitários, dificuldades de execução de matriciamento, poucas estratégias intersetoriais, problemas de continuidade do cuidado em território, precarização de vínculos trabalhistas e atenção à crise. Os retrocessos assinalados nas “novas” Política Nacional de Atenção Básica e Política Nacional de Saúde Mental também parecem ter ampliado os problemas.
Conclusões/Considerações finais Conclui-se que a pandemia de COVID-19 agravou uma rede já fragilizada e apresentou novos e permanentes desafios de articulação entre os serviços, reforçando-se a necessidade de trocas efetivas dos dispositivos abertos, reconstituindo a aposta para um cuidado em rede e com outros setores (trabalho, esporte, lazer, etc), organizando o processo de cuidado e os fluxos de trabalho.
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